Artigos - Globalismo
“Temos de atacar a Polônia e os Estados bálticos nos lugares em que há mísseis e aeronaves da OTAN. Não podemos permitir que um avião decole e ataque a Rússia, por isso temos de atacar primeiro e impedir com meia hora de antecedência qualquer movimentação de aeronaves. E para certificarmo-nos, faremos bombardeio de saturação. A América não é uma ameaça, mas os estados anões da Europa cessarão de existir. Eles serão varridos. E então a OTAN terá de implorar a nós por negociações, caso contrário daremos a eles novamente um Maio de 45.”Vladimir Zhirinovsky, agosto de 2014 (Entrevista à uma rede de televisão, 08/08/2014)
“No meu livro eu escrevi, há mais de dez anos, que 2015 e este ano são os anos do ponto de ruptura da civilização atlântica.”Dr. Victor Kulish, 12 de julho de 2014, autor de Hierarchic Electrodynamics and Free Electron Lasers
No último mês, o grande veterano da política russa, Yevgeny Primakov, deu algumas declarações de vulto durante uma entrevista dada ao programa Rússia além das manchetes. Evidentemente, Primakov justificou a anexação da Criméia, mas admitiu que a entrada de tropas russas no sudeste ucraniano acabaria por criar um “beco sem saída”. De acordo com Primakov, tal ação iria efetivamente cercear certas tendências às quais a Rússia conta para o seu futuro sucesso.
E quais são essas “tendências”?
Primakov não as enunciou diretamente, mas uma pequena lista pode ser obtida: a gradual aproximação alemã da órbita moscovita, o estabelecimento de bases militares no Caribe, o aumento do poder militar chinês no Pacífico e o contínuo declínio da economia americana. A Rússia tem a ganhar com cada uma dessas “tendências”. Mesmo que Moscou esteja ansiosa para esmagar o movimento de independência ucraniano, é melhor esperar. Por que pôr a perder uma situação até então favorável, especialmente levando em conta que os EUA continuam enfraquecendo?
Primakov diz que Moscou deve confiar nos amigos que tem no Ocidente. É evidente que a Rússia tem um bom número de amigos e agentes de influência. E com a crescente maré de violência na Europa, o cidadão médio russo não iria começar a questionar o rearmamento promovido por Putin? Enquanto isso na Ucrânia, uma nova geração está em busca de maior responsabilidade e maior relevância no seu governo. Eles não querem estruturas soviéticas no país deles. Eles não querem que os presidentes sejam lacaios do Kremlin. Eles estão cansados de liberalizações que não trazem uma efetiva liberalização. Eles estão cansados de uma economia em que a classe governante rouba o quanto quer e o resto da sociedade que sofre as consequências. Eles estão cansados da União Soviética, que ainda existe! Sendo assim, a revolução contra Moscou – seja lá como ela chame agora – não pode mais ser impedida sem violência. E violência gera violência.
Talvez o Kremlin pense que pode controlar a Revolução Ucraniana por meio de agentes em Kiev. E os traidores no comando ucraniano mantêm uma ponte improvisada na fronteira para abastecer os separatistas pró-Rússia? Não importa – em longo prazo –, pois os russos ainda estão perdendo no leste ucraniano, de modo que eles terão que enviar tanques [mais cedo ou mais tarde]. Eles terão de retomar a Ucrânia. Eles irão liquidar o espírito de liberdade, caso contrário ele infectará o próprio exército russo, quiçá Moscou. Caso assim for, Putin e seus amigos seriam levados a julgamento e certamente não seriam inocentados.
Sem uma efetiva barreira idiomática, o que impediria a febre de liberdade ucraniana de se espalhar pela Rússia? Provavelmente é por isso que Vladimir Putin plantou uma insurgência artificial no coração do leste ucraniano. Se, portanto, existe agora uma linha divisória militar, como poderiam os ideais da revolução ucraniana espalharem-se pela Rússia? Se os russos estão psicologicamente preparados para pensar em termos bélicos, como poderiam eles pensar em liberdade? Como é dito ao povo russo, dia após dia, que a “junta” em Kiev é financiada pelo governo americano e é liderada pelos neonazistas, como poderia esse mesmo povo russo impor qualquer ameaça ao seu próprio e amado governo? E assim foi instaurada na mídia russa a causa da guerra, e quaisquer incidentes futuros podem surgir para justificar a intervenção contra Kiev. Dê uma olhada nesse excerto dessa matéria sobre a Ucrânia feita pelo Voice of America:
O chefe do serviço de segurança ucraniano disse que os rebeldes pró-Moscou planejavam derrubar um avião de passageiros da companhia aérea russa Aeroflot no dia 17 de junho, dia em que derrubaram o avião do voo MH17 da Malaysian Airlines, que passou no leste ucraniano, diz a notícia do Interfax da Ucrânia citando Valentyn Nalyvaichenko.
Nalyvaichenko disse que sua agência chegou a essa conclusão durante o curso da sua própria investigação sobre a derrubada do voo MH17.
Ele disse que foram usadas baterias antiaéreas com mísseis Buk (terra-ar) e que elas foram transferidas para a Ucrânia com o propósito de derrubar o avião da Aeroflot (com passageiros russos) no momento em que ele passasse pelo território controlado pelas tropas do governo ucraniano.
“Esse ato terrorista foi cinicamente planejado como pretexto para dar início a uma agressão total [à Ucrânia] em resposta ao assassinato em massa de russos inocentes”, disse Nalyvaichenko.
Desprovidos de qualquer prova direta do Sr. Nalyvaichenko, devemos admitir que a história atende aos padrões de ação russa – que é de provocação. Veja os bombardeios aos edifícios russos em 1999 que ocorreram antes da invasão russa à Chechênia. Como se sabe muito bem, esse episódio acabou com o incidente de Ryazan, que mostrou que a FSB (KGB) orquestrou o bombardeio aos edifícios para justificar as ações de Putin na Chechênia. E aqui temos uma alegação de um oficial ucraniano de que a Rússia estava tentando derrubar um avião de passageiros do seu próprio país para culpar os ucranianos e assim ter a desculpa para invadir o país.
Se for esse o caso, então as declarações de Yevgeny Primakov foram ao mesmo tempo astutas e enganosas. Além do mais, isso explicaria em definitivo porque a mídia russa tem rufado os tambores da guerra há alguns meses, isto é, apoiando uma iminente invasão da Ucrânia. Isso significa que Moscou sempre teve em mente uma invasão, porém carecia de um pretexto. Isso significa que as relações da Rússia com o Ocidente estão prestes a se romperem e os líderes russos não ligam para isso. Algo maior está em jogo. E se estudarmos as palavras de Primakov constatamos uma irrefutável admissão de que a guerra está por vir. Primakov diz: “O tom geral [da nossa mídia] está como se estivéssemos preparando o país para a guerra”. Ele faz referência a isso como um tipo de erro: “exageramos na cobertura dos eventos [na Ucrânia]”, admite ele.
A quem ele está tentando enganar?
A mídia russa fez exatamente aquilo que lhe foi delegado. Não há outra explicação. Minha análise sugere que não houve exagero, pois, com efeito, o Kremlin está “preparando o país para a guerra”. Primakov admitiu isso com uma desculpa completamente idiota, como se dissesse um “ops, erramos”. Mas não, isso foi intencional, malicioso e premeditado, e a prova está aqui, nessa transmissão da TV russa direto da Crimeia no dia 9 de agosto de 2014.
Como o leitor pode ver, a política que visa demonizar a Ucrânia e os Estados Unidos na mídia russa continua até os dias atuais. Se a mídia russa estava exagerando na propaganda pré-guerra, então por que os patrões não consertaram esse problema um mês atrás? Se você assistir esse evento midiático russo (linkado acima), você verá uma banda russa de rock vestindo uma máscara de gás enquanto dançarinos vestidos de preto carregam tochas e mantêm uma formação que remonta à uma suástica. Esses dançarinos representam os rebeldes da Praça de Maidan [em Kiev] que partem para o ataque à polícia. Eis que então chegam os soldados russos e dispersam os fascistas. Logo após, um grande grupo de marinheiros cantam o hino nacional da URSS enquanto fogos de artifício explodem sobre uma grande estrutura que tem em seu topo uma gigantesca estrela vermelha. Como lemos em Euromaidan Press, “hoje na Rússia algo assustador aconteceu. Transmitido ao vivo e nacionalmente para a Rússia e filmado na Crimeia, Sevastopol, um musical – que também foi uma cerimônia e um concerto de rock – encenado numa exposição de motocicletas, tentou retratar a Ucrânia e sua revolução... conforme descrita pela propaganda estatal russa...”
A respeito do conteúdo antiamericano, os nazistas vestidos de preto são vistos saudando um emblema do Pravy Sektor [partido ucraniano] que estava embaixo de uma pirâmide com o cifrão do dólar americano e o Olho da Providência na forma que como é visto no Grande Selo dos Estados Unidos. Perceba que uma grande águia listrada cercada de estrelas, que serve para significar os Estados Unidos, é mostrada como se fosse a suprema engenheira dessa revolução neonazista (ucraniana). Se justapormos esse evento midiático com essa curiosa declaração de um ex-diretor do Serviço Central de Inteligência da URSS, Yevgeny Primakov, então somos forçados a admitir que a Rússia ainda está se preparando para a guerra.
Enquanto a televisão russa orienta o país rumo à guerra, os colegas de outrora de Primakov estão trabalhando dia e noite para flanquear a América por meio de várias manobras secretas na fronteira americana. Peço que leia o artigo do dia 20 de julho de James Simpson sobre o agente veterano de patrulha de fronteiras Zach Taylor. Veja o vídeo. Veja o que Taylor diz sobre a crise na fronteira e os russos. Anos atrás eu perguntei a um desertor da GRU russa como os militares russos esperavam trazer para dentro dos EUA armas de destruição em massa para usá-las durante um estágio avançado de uma grande guerra. Ele disse: “Através das mesmas rotas que as drogas entram nos Estados Unidos”. Digo novamente: veja o que Zach Taylor tem a dizer. Veja uma vez, veja duas e compartilhe com seus amigos.
O uso que os russos fazem do crime organizado não é devidamente entendido na América. Ainda assim, veja lá o que foi dito abertamente por um expert em segurança fronteiriça. Aos que estiverem interessados em mais detalhes, leiam o livro Red Cocaine do autor Joseph D. Douglass. O uso estratégico do tráfico de narcóticos está explicado lá. Note como a máfia mexicana está aliada à máfia russa, que por sua vez é instrumento do Kremlin. Se você quiser entender a ameaça à América, a fronteira é nossa primeira linha de defesa; e a fronteira já colapsou. A esse respeito, há muitas coisas que o público americano precisa entender. Há muito nesse assunto que requer nosso cuidadoso estudo. Mas acima de tudo, veja os tolos no nosso governo, na nossa mídia e nas nossas universidades.
Coisas boas vêm àqueles que infiltraram o inimigo. É esse o caminho que o Kremlin toma para chegar à vitória, e tem sido sua profissão de fé desde 1917. Esteja certo de que os russos têm agentes na Casa Branca, na nossa CIA, na nossa NSA, no nosso meio militar e no nosso Departamento de Estado. “Em um mundo globalizado”, observa Primakov, “é impossível falar de uma Rússia isolada. Não estamos isolados dos outros e não isolamos eles, nem mesmo nossos inimigos. Diversificamos nossa orientação econômica..." E isso é verdade. A estratégia russa não é de isolação, é de infiltração e integração. Eis porque a Rússia pode abertamente se preparar para a guerra e não soar qualquer alarme na nossa percepção. Os agentes russos têm nos cercado esse tempo todo, sussurrando doces bagatelas no ouvido coletivo.
O problema está por vir. Você consegue ouvi-lo aproximando? Ou estamos seduzidos pelas doces bagatelas?
19 de agosto de 2014
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior
Tradução: Leonildo Trombela Junior
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