O Banco Central (BC) rechaçou ontem as pressões de dentro do governo e de setores do mercado financeiro para que derrube os juros básicos (Selic) já a partir da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de setembro.
No parágrafo 31 da Ata do Copom, ontem divulgada, o BC renunciou ao dialeto monetarês que tanto gosta de praticar. Foi suficientemente claro em português para indicar que, pelo menos até o final do ano, a Selic não cai abaixo dos 11% ao ano. Segue aberta a porta para que possa, eventualmente, até subir.
Algumas insistentes apostas na baixa dos juros apareceram nas últimas semanas por duas razões. Primeira, porque nos comunicados divulgados após as duas últimas reuniões do Copom ficou dito que os juros permaneceriam estáveis "neste momento", dando a impressão de que poderiam ser alterados sem prévio aviso. Segunda, porque se confirmou a expectativa de um avanço baixo demais do PIB, situação que foi inadequadamente associada à forte redução da inflação futura.
Como a inflação está resistente e, quando medida no período de 12 meses, deve avançar acima do teto da meta, a expressão "neste momento" poderia ser interpretada em sentido contrário, como o de que, a qualquer momento, o Banco Central poderia ser levado a puxar para cima os juros. Mas não foi a leitura que prevaleceu.
As principais razões pelas quais o BC não pretende reduzir os juros nos próximos cinco ou seis meses também ficam transparentes. Aqui vão três.
(1) Realinhamento dos preços - O parágrafo 27 chama a atenção para dois processos de ajuste (para cima) dos preços: "Realinhamento dos preços domésticos aos internacionais", e aqui continua atuando a alta do dólar no câmbio interno determinado entre abril de 2013 e janeiro de 2014, com algumas variações neste período. E "realinhamento dos preços administrados em relação aos livres", uma vez que é inevitável a correção das tarifas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos, a ser intensificada após as eleições.
(2) Fator trabalho - O BC adverte que continua "a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho" (situação de pleno-emprego) e que, nessas condições, os "aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade" criam inflação de custos.
(3) Demanda aquecida - Apesar de relativa moderação do consumo, a demanda continua mais forte do que a capacidade de oferta da economia, especialmente na área dos serviços. Isso significa que a febre se mantém relativamente alta e exige a aplicação constante de antitérmico.
A mensagem subjacente também é clara. O regime em vigor é de metas de inflação e não de metas de crescimento econômico. O fole dos juros tem de continuar a ser aplicado enquanto a inflação, que estourou o teto da meta, não voltar ao controle.
No momento, a ação do BC presidido por Alexandre Tombini tem o objetivo de recuperar credibilidade, e não ceder a pressões de dentro do governo para derrubar os juros de modo a facilitar o jogo neste período pré-eleitoral.
No parágrafo 31 da Ata do Copom, ontem divulgada, o BC renunciou ao dialeto monetarês que tanto gosta de praticar. Foi suficientemente claro em português para indicar que, pelo menos até o final do ano, a Selic não cai abaixo dos 11% ao ano. Segue aberta a porta para que possa, eventualmente, até subir.
Algumas insistentes apostas na baixa dos juros apareceram nas últimas semanas por duas razões. Primeira, porque nos comunicados divulgados após as duas últimas reuniões do Copom ficou dito que os juros permaneceriam estáveis "neste momento", dando a impressão de que poderiam ser alterados sem prévio aviso. Segunda, porque se confirmou a expectativa de um avanço baixo demais do PIB, situação que foi inadequadamente associada à forte redução da inflação futura.
Como a inflação está resistente e, quando medida no período de 12 meses, deve avançar acima do teto da meta, a expressão "neste momento" poderia ser interpretada em sentido contrário, como o de que, a qualquer momento, o Banco Central poderia ser levado a puxar para cima os juros. Mas não foi a leitura que prevaleceu.
As principais razões pelas quais o BC não pretende reduzir os juros nos próximos cinco ou seis meses também ficam transparentes. Aqui vão três.
(1) Realinhamento dos preços - O parágrafo 27 chama a atenção para dois processos de ajuste (para cima) dos preços: "Realinhamento dos preços domésticos aos internacionais", e aqui continua atuando a alta do dólar no câmbio interno determinado entre abril de 2013 e janeiro de 2014, com algumas variações neste período. E "realinhamento dos preços administrados em relação aos livres", uma vez que é inevitável a correção das tarifas de energia elétrica, combustíveis e transportes urbanos, a ser intensificada após as eleições.
(2) Fator trabalho - O BC adverte que continua "a estreita margem de ociosidade no mercado de trabalho" (situação de pleno-emprego) e que, nessas condições, os "aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade" criam inflação de custos.
(3) Demanda aquecida - Apesar de relativa moderação do consumo, a demanda continua mais forte do que a capacidade de oferta da economia, especialmente na área dos serviços. Isso significa que a febre se mantém relativamente alta e exige a aplicação constante de antitérmico.
A mensagem subjacente também é clara. O regime em vigor é de metas de inflação e não de metas de crescimento econômico. O fole dos juros tem de continuar a ser aplicado enquanto a inflação, que estourou o teto da meta, não voltar ao controle.
No momento, a ação do BC presidido por Alexandre Tombini tem o objetivo de recuperar credibilidade, e não ceder a pressões de dentro do governo para derrubar os juros de modo a facilitar o jogo neste período pré-eleitoral.
28 de julho de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
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