"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

GOVERNO FECHA LOJINHA

Taxas de juros estáveis, reconhecimento de erros e fim de 'estímulos' encerram ações na política econômica

NO QUE DIZ respeito à economia, o governo Dilma Rousseff deixa transparecer que estão praticamente encerradas as suas atividades além da rotina burocrática.

Ontem, o Banco Central afirmou que não vai mais mexer na política monetária (pode até mexer, mas afirmou que não vai). A atual taxa básica de juros, com o auxílio do Pibículo e do câmbio ("dólar") mais ou menos tabelado, baixaria a inflação para perto da meta lá por meados de 2016, afirma o Banco Central.

Faz uma quinzena, o governo editou o que disse ser o último pacote de remendos destinado a evitar uma baixa crítica da rentabilidade das empresas, o que deve ajudar a evitar um surto de desemprego. Eram medidas derradeiras e cansadas de "estímulo econômico" compiladas numa medida provisória.

No mais, a atividade do governo deve se resumir aos estertores de um remendo já previsto. Ou seja, arrumar trocados a fim de evitar que as contas públicas fiquem num vermelho muito escuro.

Como se soube nesta semana, a arrecadação do governo federal praticamente não cresceu na primeira metade deste 2014 (alta de 0,28%, se descontada a inflação). A despesa cresce, mesmo que não se invente gasto novo.

Até o final do ano, a gente vai ver de novo o show de mágicas e milagres com os quais o governo vai pretender dar aparência menos lastimável ao seu balanço, o que será tão convincente quanto a realidade de, bem, um show de mágica.

O encerramento sem cerimônia da política econômica contou também com um mea culpa anônimo, um tanto espantoso e ainda não renegado, o reconhecimento de que a agitação ativista do governo foi infrutífera, pelo menos no que diz respeito aos tabelamentos ou tentativas de limitação de preços e lucros (gasolina, eletricidade, passagens de transporte público, juros, rentabilidade de privatizações).

Assim vai seguir a economia, no meio do caminho, sem crescer nem resolver os problemas que estorvam ao menos a retomada de um crescimento "normal" (3%?), triste e fatigada como no poema de Olavo Bilac, parada de súbito na estrada da vida.

Diga-se, mais uma vez, que não deve haver crise operística, frequentes até 2002, pois a economia tem gordura para queimar, reservas e melhoras acumuladas entre 1994 e 2008, por aí. Isto é, não deve haver colapso de natureza econômica, de origem doméstica, embora se possa dizer que o crescimento da renda per capita abaixo de 1% ao ano (média entre 2011 e 2014) seja algo desastroso para um país ainda algo pobre.

O mundo lá fora pode nos contaminar, não apenas devido a tumultos econômicos, vide as ondas recentes de mortícinios. A política econômica americana vai mudar, ou pelo menos os donos do dinheiro grosso podem antecipar tal mudança, talvez a partir do trimestre final deste ano, segundo o novo zum-zum-zum da praça financeira mundial. Pode não dar em nada de grave, pode haver novo surto de loucura especulativa, como se viu no ano passado e no início deste.

No mais, haverá reflexos e paniquitos da eleição muito incerta e especulação sobre o que será do novo governo, que não será fácil para ninguém.

 
28 de julho de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP

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