"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

"ANÃO DIPLOMÁTICO"

BRASÍLIA - Depois de três anos e meio de uma política externa dorminhoca, o Brasil deu um pulo da cama, tomou-se de brios e partiu para cima de Israel.

Em sintonia fina com o Planalto e num mesmo dia, o Itamaraty votou a favor de uma resolução dura contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, soltou uma nota com zero firula, convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv e chamou o embaixador israelense em Brasília para dar um recado mal humorado.

A nota oficial, condena "energicamente o uso desproporcional da força" e foi recebida como uma declaração de guerra diplomática por Israel, que reagiu também de forma surpreendente e ácida, ora criticando a "irrelevância" da diplomacia brasileira, ora chamando o Brasil de "anão diplomático". Planalto e Itamaraty bufaram.

As relações entre Brasil e Israel têm sido pautadas pelo pragmatismo, por exemplo, na área comercial, mas nunca foram de amor. Portanto, o Brasil se fingiu de desentendido na guerra civil síria, assistiu de camarote o desastre político no Egito e, pior, lavou as mãos quando os vorazes russos passaram a devorar nacos da Ucrânia. Mas o país se sentiu à vontade para condenar Israel. E com motivos inquestionáveis.

Mortes são dolorosas em quaisquer circunstâncias, mas mortes de militares em guerras e em situação de tensão são compreensíveis, como são agora as pouco mais de 30 mortes de soldados israelenses. Mas como não ver, não ouvir e não gritar diante de centenas de mortes de civis palestinos (e de onde quer que seja), ainda mais se grande parte delas são de mulheres e crianças? E como não ver, não ouvir e não gritar que caíram mais de 700 de um lado e menos de 5% disso no outro? Crime de guerra?

A posição brasileira, clara e dura, marca uma inflexão da política externa de Dilma, a meses do fim do governo, e confirma que Israel perdeu a guerra da opinião pública internacional e está cada vez mais isolado.

 
26 de julho de 2014
Eliane Cantanhede, Folha de SP

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