"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 17 de junho de 2014

REUNINDO CONHECIMENTOS E EXPERIËNCIAS


 
“Muita memória ou memória de muitas coisas: a isso se chama experiência”.
                (Thomas Hobbes)
Será que o homem está se tornando melhor e as nações mais civilizadas, à medida que o tempo passa? Pelo que mostra a história da humanidade, a tirania era e ainda continua a ser a forma de governo natural do homem e seu desejo secreto. 

A liberdade sempre esteve ameaçada pelos próprios homens, através de seus governos, de uma aquiescência fácil de povos cultos e incivilizados, da falta de resistência de povos contaminados por ideologias retrógradas. Ensinamentos de religiosos evidenciavam que a honestidade seria recompensada por Deus, que a fé jamais seria desapontada, que um homem íntegro e diligente haveria de conquistar riquezas e o respeito de seus semelhantes. 

Para homens marcados pela experiência, entretanto, os ingênuos não são patéticos, mas sim desprezíveis. Vivem numa paródia da realidade. O que se observa no povo brasileiro é que a morte, a guerra (realizada dia e noite no Brasil com o nome invasões, tráfico e assaltos em massa) e o desastre possuem uma atração irresistível, que impressionam até mesmo os mais obtusos. 

A vida, para o pensador, é uma comédia para o homem que pensa e uma tragédia para o homem que sente, e a pobreza é maravilhosamente anônima. No mundo em que vivemos, no Brasil da atualidade do salve-se se puder, temos que devorar os outros para não ser devorado. A bolsa ou a vida. É um mundo de ladrões, assassinos, traidores, mentirosos, patifes. 

De vez em quando encontramos um homem de bem. E, como diz a Bíblia, ele vale mais do que rubis, se não é um tolo inútil e pródigo, desses que acreditam num amanhã que jamais vem. O homem de bem, com a cabeça no lugar, não pode ser desperdiçado, mas no Brasil ele é mantido a distância para não contaminar os bandidos e mafiosos com a sua moral e ética. 

Contam que John Rockefeller costumava dizer que um homem vale um dólar por dia do pescoço para baixo, mas que não há limite para o que pode valer do pescoço para cima. Os músculos jamais poderão leva-lo a parte alguma, mas uma boa cabeça pode permitir-lhe ir a qualquer lugar. No Brasil o que domina é o que vale do pescoço para baixo. 

Para os que se consideram espertos no Brasil, o importante não é o que a lei diz, mas sim a maneira como é interpretada, como é usada, ou seja, a lei não passa de uma meretriz, está sempre à venda para quem der mais. Qualquer idiota pode pegar um livro e ler o que diz a lei, percebendo a intenção aparente. Mas será que vai ser a mesma interpretação dos tribunais? Nem sempre é. Ou melhor, raramente é. A função de um advogado é convencer os juízes de que a lei não significa exatamente o que parece óbvio. Ou, mesmo, que a intenção é a oposta. Daí a conclusão de que somente os idiotas se atêm à interpretação rígida das leis. Um advogado esperto pode fazer o que bem quiser com qualquer lei. A astúcia do diabo. 

A lei é simplesmente aquilo que todos concordam que é especialmente depois que um advogado esperto persuadiu-os. É verdade que no dia seguinte podem ficar convencidos do oposto, se caírem nas mãos de outro advogado esperto. A beleza dessa esperteza é a flexibilidade. A mesma lei pode acusar um homem de ser criminoso ou declará-lo inocente. Pode aprisionar ou libertar um homem com as mesmas palavras. Se todos se guiassem pela letra estrita da lei, restariam bem poucos homens livres, não haveria alegria e benefícios. 

As pessoas menos afortunadas, os pobres, que no caso do Brasil se origina da falta de vontade de se libertar da incultura, do analfabetismo e dos grilhões de políticos desonestos, culpam os outros pela sua pobreza e infortúnio, mas a verdade é que têm certa propensão para a inveja. Jamais se perguntam por que os outros têm mais do que elas. Não querem saber quanto esforço, inteligência e ambição incansável foram necessários para produzir qualidade de vida, como foi conquistada à custa de suor, abnegação, inteligência superior. 

A verdade é que todo homem que conta seus vinténs acha que, de um jeito ou de outro, é “explorado” por aqueles que o superam em vontade, inteligência, conhecimento e esforço. Está convencido de que tais homens só puderam alcançar tanta riqueza tirando do bolso deles. 

Não há nada mais perigoso do que um homem pobre convencido de que foi indevidamente despojado daquilo que julga pertencer-lhe por direito, como ser humano. O Brasil está condenado como democracia e governos incapazes porque, além de incentivar a incompetência, não faz nenhuma distinção propositadamente entre aqueles que são naturalmente preeminentes e os que nascem para a obscuridade e se conformam. 

No Brasil, o que se denomina “democracia”, é o denominador comum do curral. Aí entra o idealismo que serve para aqueles que não conseguem enfrentar a realidade do mundo. O que as pessoas têm de admitir é que todos nós escolhemos o que desejamos ser. Ninguém nos compele a coisa alguma. Podemos nos iludir, pensando que isso acontece, mas não é verdade. Um homem que nega isso não passa de um fraco, querendo atribuir aos outros a culpa por tudo o que lhe acontece ou aconteceu na vida. 

Cada homem tem diante de si mil opções por dia. Tomamos as nossas próprias decisões. Um homem forte e decidido, pensa e luta por si mesmo. Tudo o mais é fraqueza. Fazemos o nosso próprio destino. Se somos vítimas ou conquistadores é porque assim escolhemos, em nossas mentes e vontade, por nossos julgamentos falhos ou pelas ilusões que acalentamos. Se permitirmos que outros nos explorem, na vida particular ou no governo, é porque assim escolhemos. Ou porque cometemos o erro fatal da aquiescência, pelo qual devemos ser inexoravelmente condenados. O mundo perdoa tudo, menos a fraqueza e a submissão. 

As repúblicas nunca sobrevivem, porque seus povos não apreciam a liberdade, preferindo ser comandados, lisonjeados e seduzidos à escravidão, por déspotas benevolentes ou não tão benevolentes. Os povos gostam de idolatrar um César. O momento atual brasileiro confirma essa verdade. 

A continuar o que estamos assistindo, a república brasileira irá inevitavelmente definhar, transformando-se no despotismo, como Aristóteles previu. As pessoas insidiosas, que falam com voz respeitosa dos “direitos humanos”, enquanto conspiram contra a liberdade e a dignidade humana são execráveis e soldados da idolatria de ditadores. O que todos os homens, no fundo desejam? Poder! 

Os hipócritas apregoam ideologias e slogans para conquistar os crédulos e ingênuos. Na verdade eles não têm ideologias, embora tratem de explorar as ideologias dos outros, na medida em que podem tirar algum proveito. Nenhum deles se importa com o bem-estar do povo. Todos são avaros, num grau muito maior do que se pode compreender. Todos são profundamente egoístas. Todos são inimigos do que se chama liberdade. Querem apenas dominar, cada um na sua esfera de atuação, cooperando com os outros. 

As revoluções nunca são feitas pelo povo que trabalha, pelos agricultores, pelos operários. São sempre promovidas pela burguesia entediada e bem alimentada, pelos homens que já governam e os chamados intelectuais. Em toda a História nenhum déspota veio do que se costuma classificar de povo. Os déspotas sempre vêm dos radicais corrompidos, que odeiam seus semelhantes, embora finjam ser amigos, utilizando habilmente as mentiras e lisonjas.

17 de junho de 2014
Armando Soares – economista

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