Na semana passada, o Facebook reuniu desenvolvedores de todo o mundo em San Francisco, na Califórnia, para a quinta edição da F8, sua conferência realizada quase todo ano. Estes eventos ainda não são grandes espetáculos midiáticos como os realizados pela Apple no tempo de Steve Jobs vivo, mas os anúncios feitos por lá terão impacto. Um deles, se der certo, pode revolucionar a maneira como nossos smartphones funcionam. O outro potencialmente reforçará o poder do Facebook no duopólio que ele e o Google constroem na internet.
Duopólio em termos: são, Facebook e Google, os dois principais concorrentes na disputa pela atenção dos usuários da rede. Mas é uma disputa com regras claras. Vence quem conseguir mapear os hábitos da maior quantidade de pessoas.
O Google saiu na frente. Afinal, seus códigos estão espalhados por toda a web. Quase todo site usa algum serviço Google. E nós mesmos usamos seus serviços, do YouTube ao Gmail. Assim, quando navegamos, invariavelmente o Google sabe onde estamos e o registra em seu banco de dados. Além disso, através de seu sistema Android, o gigante das buscas está nas mãos de muitos de nós.
Mas, conforme os celulares vão fazendo mais e mais parte de nossas rotinas, o Facebook também ganha terreno. Isso ocorre por conta do login: quando dá preguiça de preencher um novo formulário de cadastro e clicamos o botão de conexão via Facebook, aquela será mais uma atividade digital que a rede social registrará.
O problema do Facebook é credibilidade. No passado, o fundador Mark Zuckerberg tratou com desdém as preocupações do público com privacidade. A imagem ruim ficou. E, desde então, sua empresa precisa lidar com o duplo dilema. Vive (como o Google) de transformar as informações que coleta de seus usuários em oportunidades para vender publicidade. Mas tem de convencer os mesmos usuários de que não abusará desta confiança.
A linha não é só tênue. Foi também pouco testada. Ainda não conhecemos as tecnologias de propaganda do futuro para as quais abrimos mão de tanto, hoje.
Na F8, Zuckerberg lançou o login anônimo. Agora, ao testar um site ou aplicativo, o usuário poderá optar pelo login anônimo via Facebook. O Face continuará sabendo tudo sobre o comportamento do sujeito, mas não compartilhará com o dono do app.
Já é alguma coisa, diga-se. E, ao mesmo tempo, ajuda a ampliar a base de pessoas que usam o login do Facebook internet afora. Ajuda na construção da imagem de preocupação com privacidade, enquanto amplia seu poder de coletar informação sobre nós. Touché. Tem tudo para dar certo. O polvo cresce.
Há um mês, o Yahoo! anunciou que não usará mais a autenticação de Facebook ou Google. Não foi à toa. Quem é grande está tentando fugir dos dois enquanto ainda tem chances. O duopólio sobre nossa identidade na internet, brevemente, pertencerá a estas duas empresas.
A segunda inovação importante lançada pelo Facebook, porém, pode ser uma boa ideia. Atende pelo nome App Links. É uma maneira de criar conexões entre dois aplicativos no celular. Encontrou uma música da qual gosta no aplicativo de rádio? Um clique permite abrir o app da loja para comprar a faixa. Este tipo de conexão, tão comum na web, ainda não existe no mundo dos apps e muita gente tenta construir um padrão que funcione para todos.
O problema, ali, é doutro duopólio: Apple, com seu iPhone, e também o Google, com o Android. Por enquanto, eles não parecem interessados. Mas, se alguém pode convencê-los, tem de ter o tamanho de um Facebook. É uma briga que envolve inúmeros interesses empresariais. Mas é, também, algo que os usuários querem.
06 de maio de 2014
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