Há duas vitórias a buscar quando um país é sede da Copa do Mundo. O campeonato, em si, e a chance de aproveitar bem a vitrine mundial. Com todos os olhos sobre nós, o Brasil poderia mostrar capacidade de realização, organização, boa estrutura de tecnologia de informação, bons serviços. Isso ampliaria as possibilidades de atrair turistas e investidores. Poderia.
Aesta altura, já estamos na fase de administrar o dano à imagem. A copa da vitrine já perdemos. Passamos, ao longo da preparação, a ideia de país que improvisa, não cumpre prazos e assusta organizadores com a incerteza. Os estádios não estão prontos e o da abertura do evento, na melhor das hipóteses, estará com a parte do futebol pronta e o resto no meio do caminho.
Há riscos que ainda estamos correndo e que dificilmente conseguiremos evitar. Um é o de não ter uma boa infraestrutura de comunicação com internet nos estádios. O próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, admitiu que metade dos estádios da Copa pode ter problemas com a rede de telefonia móvel.
Na era da comunicação, no meio de um evento em que haverá jornalistas do mundo inteiro e consumidores intensos de TI para a transmissão de imagens e som, o Brasil tem a apresentar deficiência na cobertura de celular. É espantoso e sinal de subdesenvolvimento.
Hoje, quem não tem uma boa estrutura de TI em eventos globais passa o recibo do atraso. E país que teve tempo para se preparar e não conseguiu fazer o básico a tempo passa a imagem de incapacidade de organização. Ter boa imagem não é apenas para sair bem na foto, não é uma questão de vaidade nacional. É o caminho para atrair investidores e turistas. O Brasil, com baixa taxa de investimento e com uma balança cronicamente deficitária em turismo, poderia ter aproveitado melhor essa chance. Poderia. Mas hoje já se sabe que tudo o que se pode fazer é torcer para que o pior não aconteça. Já não deixa-
remos boa impressão; temos que tentar evitar um colapso nos serviços de comunicação.
Aeroportos não estão com obras concluídas e as obras de estrutura de energia para os estádios da Copa estão atrasadas em metade das cidades-sede. Em quatro delas há atrasos significativos, de acordo com a Aneel, como Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus e Curitiba. O que causa espanto é por que o país não foi sendo alertado pela agência, com maior frequência e rapidez, e por que não se corrigiu esse problema a tempo. Imagina o risco que se corre sem a estrutura de energia para os estádios?
Há episódios mais dolorosos, como os das mortes de operários. São nove os casos. Quando isso acontece porque o trabalhador de uma empreiteira grande, prestadora de serviços para o governo, não cumpre requisitos de segurança mínimos exigidos por lei, é ainda mais incompreensível.
Quando o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, diz que viveu o inferno ao conviver com os três níveis de governo no Brasil, ou quando reclama que o Itaquerão ficará pronto, mas só no último minuto, temos a noção de que o país já passou péssima impressão. Pode-se não gostar de Valcke, mas é inegável que a burocracia e a dificuldade de entendimento entre níveis de governo diferentes são velhos defeitos do Brasil. Outro é o de atraso sistemático de qualquer obra e incapacidade crônica de se cumprir prazos.
Sediar uma Copa é uma chance de mostrar virtudes do país e oportunidades para turistas e investidores. É também o momento certo para se quebrar os estereótipos que se tem no exterior em relação a nós. Pelo conjunto da obra, até agora, estamos confirmando o estereótipo e mostrando mais defeitos que qualidades. Também é uma chance para nos apressarmos em obras necessárias para nós mesmos. Nisso, também perdemos oportunidade.
A realização de um evento desse porte é a melhor forma de jogar no ataque para assim ganhar esse jogo mais permanente, que vai além da disputa entre as seleções. Mas o máximo que se pode fazer agora é reforçar a zaga e torcer pelo goleiro, porque teremos que ficar na retranca lutando para que não aconteça um grande apagão de energia em um dos estádios, ou seja possível aos jornalistas transmitir informações mesmo sem infraestrutura boa de comunicação durante os jogos. No mais, resta torcer pela seleção do Felipão para ganhar pelo menos uma das duas copas.
Aesta altura, já estamos na fase de administrar o dano à imagem. A copa da vitrine já perdemos. Passamos, ao longo da preparação, a ideia de país que improvisa, não cumpre prazos e assusta organizadores com a incerteza. Os estádios não estão prontos e o da abertura do evento, na melhor das hipóteses, estará com a parte do futebol pronta e o resto no meio do caminho.
Há riscos que ainda estamos correndo e que dificilmente conseguiremos evitar. Um é o de não ter uma boa infraestrutura de comunicação com internet nos estádios. O próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, admitiu que metade dos estádios da Copa pode ter problemas com a rede de telefonia móvel.
Na era da comunicação, no meio de um evento em que haverá jornalistas do mundo inteiro e consumidores intensos de TI para a transmissão de imagens e som, o Brasil tem a apresentar deficiência na cobertura de celular. É espantoso e sinal de subdesenvolvimento.
Hoje, quem não tem uma boa estrutura de TI em eventos globais passa o recibo do atraso. E país que teve tempo para se preparar e não conseguiu fazer o básico a tempo passa a imagem de incapacidade de organização. Ter boa imagem não é apenas para sair bem na foto, não é uma questão de vaidade nacional. É o caminho para atrair investidores e turistas. O Brasil, com baixa taxa de investimento e com uma balança cronicamente deficitária em turismo, poderia ter aproveitado melhor essa chance. Poderia. Mas hoje já se sabe que tudo o que se pode fazer é torcer para que o pior não aconteça. Já não deixa-
remos boa impressão; temos que tentar evitar um colapso nos serviços de comunicação.
Aeroportos não estão com obras concluídas e as obras de estrutura de energia para os estádios da Copa estão atrasadas em metade das cidades-sede. Em quatro delas há atrasos significativos, de acordo com a Aneel, como Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus e Curitiba. O que causa espanto é por que o país não foi sendo alertado pela agência, com maior frequência e rapidez, e por que não se corrigiu esse problema a tempo. Imagina o risco que se corre sem a estrutura de energia para os estádios?
Há episódios mais dolorosos, como os das mortes de operários. São nove os casos. Quando isso acontece porque o trabalhador de uma empreiteira grande, prestadora de serviços para o governo, não cumpre requisitos de segurança mínimos exigidos por lei, é ainda mais incompreensível.
Quando o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, diz que viveu o inferno ao conviver com os três níveis de governo no Brasil, ou quando reclama que o Itaquerão ficará pronto, mas só no último minuto, temos a noção de que o país já passou péssima impressão. Pode-se não gostar de Valcke, mas é inegável que a burocracia e a dificuldade de entendimento entre níveis de governo diferentes são velhos defeitos do Brasil. Outro é o de atraso sistemático de qualquer obra e incapacidade crônica de se cumprir prazos.
Sediar uma Copa é uma chance de mostrar virtudes do país e oportunidades para turistas e investidores. É também o momento certo para se quebrar os estereótipos que se tem no exterior em relação a nós. Pelo conjunto da obra, até agora, estamos confirmando o estereótipo e mostrando mais defeitos que qualidades. Também é uma chance para nos apressarmos em obras necessárias para nós mesmos. Nisso, também perdemos oportunidade.
A realização de um evento desse porte é a melhor forma de jogar no ataque para assim ganhar esse jogo mais permanente, que vai além da disputa entre as seleções. Mas o máximo que se pode fazer agora é reforçar a zaga e torcer pelo goleiro, porque teremos que ficar na retranca lutando para que não aconteça um grande apagão de energia em um dos estádios, ou seja possível aos jornalistas transmitir informações mesmo sem infraestrutura boa de comunicação durante os jogos. No mais, resta torcer pela seleção do Felipão para ganhar pelo menos uma das duas copas.
12 de maio de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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