"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 19 de janeiro de 2014

POPULAÇÃO DIVIDIDA PELO ABISMO SOCIAL

 

 

 
Os rolezinhos – “invasões” de grupos de periferia a shopping centers – podiam ser só mais uma brincadeira estranha e infantil de jovens da periferia, primeiro de São Paulo, depois do resto do país. Os objetivos eram “zoar, pegar as meninas e dar um rolé”. Mas, trazidos ao centro do debate e para a zona Sul das capitais tanto pela esquerda como pela direita, os rolezinhos ganharam o status de manifestação social, amplificada pelo eco das redes sociais.

Pelo olhar de parte da direita: arruaça, bagunça, arrastão. Para setores da esquerda: protesto contra exclusão social, luta de classes, preconceito. Se não havia nenhuma bandeira política ou reivindicatória por trás das idas desses jovens aos shoppings, agora existem várias.

O mais interessante de observar nesse fenômeno, porém, é como a sociedade brasileira está dividida, fragmentada e em busca de uma politização perdida ou dizimada. O rolezinho é apenas a bola da vez. Nos últimos anos, com o Twitter e o Facebook, nada mais passa em branco. Reajuste de tarifa de ônibus, manifestações de junho, black blocs, letras de funk, piso nacional dos professores, tudo provoca discussão e polarização de ideias, mesmo essas não sendo muito claras.

LUTA DE CLASSES

Apesar do discurso do fim do embate ideológico entre direita e esquerda, impulsionado pela falência e pela corrupção da política institucional e partidária, os conflitos e contradições de uma sociedade de classes estão aí, à flor da pele, e as pessoas parecem ter achado espaço nas redes sociais para manifestar de qual lado estão, ou, pelo menos, para dizer: “olha, sou contra isso, sou a favor daquilo”.

Esse turbilhão de opiniões e embates, mesmo disperso e, por vezes, superficial, é positivo e indicativo de uma série de reflexões: as contradições e desigualdades da sociedade brasileira não são mais contornáveis por uma ideia ou um discurso de igualdade de consumo; a perda de representatividade dos partidos políticos não implica em uma população alheia à política; há uma enorme insatisfação no país, conectada pela internet e pronta para explodir em todas as direções.

Até a Copa do Mundo e, principalmente, durante o Mundial, outros fenômenos sociais irão colocar frente a frente diferentes partes da sociedade. A ideia de uma democracia madura, de um país onde o único problema é a corrupção política – passível de pequenos ajustes –, parece ter desmoronado de vez.

O abismo social é imenso e está escancarado. Resta saber o tamanho e a força das próximas manifestações. E também a reação a elas. Mesmo sem provocar uma revolução, esses protestos vão expondo cada vez mais um sistema inviável e os políticos profissionais sabem disso. Não à toa, o PT, preocupado com o respingo dessas convulsões sociais na reeleição de Dilma, já lançou uma campanha na internet com o tema #VaiTerCopa. A conferir.

(transcrito de O Tempo)

19 de janeiro de 2014
Murilo Rocha

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