"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 3 de novembro de 2013

UMA E OUTRA COISA

O deputado José Genoíno (SP) ainda presidia o PT quando lançou a pérola – “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa” – para tentar explicar as inexplicáveis tramoias do mensalão.


Anos mais tarde o STF condenou petistas ilustres, incluindo o próprio Genoíno, demonstrando que, ao contrário do que o parlamentar dizia, aquela coisa era a mesma coisa. Ou coisa pior. Ainda assim, a frase continua fazendo sucesso.

Na sexta-feira, foi usada pelo ministro Alexandre Padilha para reduzir o impacto da reprovação de estrangeiros do Mais Médicos no Revalida. "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”, repetiu.

E oficializou o médico de segunda classe, que, como a jabuticaba e a tomada elétrica da ABNT, só existe no Brasil. “Os médicos do Mais Médicos estão aqui para cuidar da atenção básica; o Revalida é para quem quer operar, quem quer fazer procedimentos de alta complexidade".

 


Alexandre Padilha, Ministro de Relações Institucionais. Foto: Wilson Dias / Abr

 

No mesmo dia, questionada sobre o imbróglio da disputa estadual na Bahia, onde o aliado Geddel Lima (PMDB) tende a se unir aos tucanos, a presidente Dilma Rousseff lançou mão de uma variante do dito, aplicando sobre ele a sua linguagem, raciocínio e lógica ímpares: "O que vale é a política nacional e a política de alianças nacional. Se houver problemas que podem interferir na aliança nacional, ele vai ser tratado como uma questão nacional. O que é regional tem de ser resolvido regionalmente".

Diante da impossibilidade de a disputa regional ser uma coisa e a nacional outra, a fala da presidente é uma farsa tão grotesca quanto à que Genoíno quis fazer o País crer.

Ao contrário. Dilma e o PT estão diante de um jogo intrincadíssimo na composição de palanques regionais. Só com o PMDB, principal aliado, o embate se espraia por 11 estados onde estão nada menos do que 68% do eleitorado do País (O Globo).

O tudo por Dilma não é consenso nem dentro do PT, que teme reduzir de tamanho, ter poucos candidatos próprios aos governos estaduais, perder senadores e deputados federais em nome da manutenção da aliança e de uma presidente que não o anima.

A presença mais ativa de Lula, com agenda e palanques independentes, é uma bênção para essa turma que quer manter o poder e os cargos, mas torce o nariz para a quantidade de concessões que lhe é exigida, para o estilo ou a ausência de estilo da candidata. Para eles, uma coisa é pedir votos ao lado de Dilma, outra coisa é subir ao palanque com Lula.

Mas o que temem mesmo é a quebra do maniqueísmo que sempre alimentaram. Sabem que uma coisa era o “nós x eles”; outra coisa será o “todos x nós”.

03 de novembro de 2013
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.

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