O que o Parlamento quis dizer com a decisão não é difícil entender. O que é incompreensível é o afrontamento descarado e livre de qualquer culpa – é a negação de qualquer tipo de representatividade. Os senhores parlamentares desrespeitaram a Constituição, o Supremo Tribunal Federal e, mais precisamente, cada cidadão brasileiro.
O que chama a atenção é que o momento não é bom para decisões tão impopulares como a tomada anteontem. Mas os parlamentares não se importaram com isso. Aproveitaram a oportunidade que ainda têm de votar secretamente e resolveram dizer para a sociedade que estão acima da lei, do bem e do mal.
Talvez seja uma tentativa desesperada da elite política brasileira de se manter no poder da mesma maneira de quando começou a ocupá-lo – sem nenhuma ética e sem nenhuma vergonha de não tê-la. Para essa classe de político, o poder é apenas algo a ser usurpado e uma fonte de renda inesgotável.
ESPETÁCULO DE TERROR
E para que o espetáculo de terror apresentado fosse mais emocionante não faltaram requintes de crueldade. Aquele discurso do deputado (sempre deputado) Natan Donadon sobre as dificuldades encontradas para a sobrevivência na Papuda é uma fraude. Não que as condições das carceragens brasileiras sejam adequadas. Muito pelo contrário, as condições são precárias e desumanas.
A questão é que o senhor deputado não está à altura de representar a população carcerária. Como ele mesmo disse ontem, jamais esteve numa penitenciária ainda que fosse para verificar como os presos são tratados. Ele também jamais recebeu um só voto desse população condenada pela Justiça porque preso condenado não vota, mas deputado condenado pode ter mandato.
Ora, se era para representar as dificuldades dos presidiários que um deles o faça. O Congresso deveria votar um projeto permitindo aos presos condenados o direito de voto. Se eleito, esse representante poderia pegar uma carona com Donadon toda a vez que precisar ir a Casa legislativa.
Ainda sobre o discurso de Donadon, se a votação para cassação de parlamentar continuar secreta, a chance de mais condenados manter seus mandatos é muito grande. Tem pelo menos mais quatro – os mensaleiros – candidatos a essa condição de deputado e presidiário.
Na verdade, se a Justiça continua fazendo o seu papel, como fez no mensalão, e o Congresso continuar renegando o seu, como fez anteontem, é melhor que seja criada uma ala para políticos nas principais carceragens do Brasil. Uma será pouco.
(transcrito de O Tempo)
02 de setembro de 2913
Carla Kreefft
Nenhum comentário:
Postar um comentário