Há uma mesmice política que não é só repetição de nomes ou discursos — é repetição de gestos vazios. Muda o palco, trocam-se os figurinos, mas o roteiro permanece intacto.
Promessas recicladas, indignações seletivas, moral de ocasião. Tudo dito com a solenidade de quem não pretende cumprir nada.
O cansaço não vem do conflito de ideias — isso seria até saudável. Vem da hipocrisia normalizada, do cinismo elevado a método, da mentira dita sem vergonha e ouvida sem espanto. Cansa fingir surpresa. Cansa fingir esperança.
Cansa a encenação contínua de que algo essencial está para mudar, quando o sistema inteiro trabalha para que nada mude de verdade.
É um esgotamento mais fundo que a raiva: é desalento. Uma fadiga ética. Como se o país estivesse preso num eterno déjà-vu, onde o futuro é sempre anunciado, mas nunca chega — apenas se adia, eleição após eleição, discurso após discurso.
Talvez o mais triste não seja a hipocrisia em si, mas o quanto ela já não escandaliza. Quando a indignação vira hábito, e o absurdo se torna rotina, o risco maior é esse: aprender a conviver com o que deveria ser inaceitável.
29 de dezembro de 2025
prof. mario moura
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