"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

INFLAÇÃO PASSAGEIRA

Nos últimos dias, a inflação de alimentos foi tão comentada na mídia nacional que chegou até a virar “meme”. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a nossa inflação oficial, subiu 0,24% em agosto. 
No acumulado de 12 meses, aumentou 2,44%, enquanto a inflação dos alimentos atingiu 8,83% no período.

Em meio a tudo isso, o arroz tornou-se o grande vilão dos preços altos.

Em primeiro lugar, o dólar nos últimos seis meses valorizou-se em torno de 40%, contribuindo para aumentos dos preços e, uma vez mais caro, favoreceu as exportações. 
Segundo o relatório divulgado pelo Cogo (Inteligência em Agronegócios), o arroz exportado até agosto desse ano, se comparado ao volume de agosto de 2019, cresceu 100%.

Na amplitude das exportações do agronegócio e de acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, elas somaram quase R$ 9 bilhões em agosto de 2020. 
O mais interessante é que o valor exportado em produtos do setor equivale à metade do total exportado pelo país.

As principais justificativas atribuídas à alta dos preços dos alimentos são as seguintes:
o mercado interno aquecido pela demanda;
em algumas culturas no Brasil muitas áreas plantadas ficaram menores, inclusive aquelas destinadas especificamente ao plantio do arroz, como a Raposa Serra do Sol em Roraima, que chegou a produzir 160.000 toneladas/ano, em uma área de 100 mil/ha que foi anexada a uma reserva indígena de 1,7 milhões/ha para 17.000 índios; ela tinha sido ocupada por aproximadamente 350 famílias produtoras que foram expulsas de suas casas em 2009, no segundo mandato do condenado e ex-presidiário Lula, tendo as “bênçãos” do STF (Supremo Tribunal Federal);

preços elevados mesmo em dólar no mercado internacional;

a expansão do consumo em diversos países do mundo.

Esse aumento exagerado nos preços dos alimentos é passageiro. Sem dúvida, afeta em grande parte os brasileiros, principalmente os mais pobres, cuja renda fica praticamente comprometida com sua subsistência. 
Ele é absolutamente conjuntural e concentrado apenas nos alimentos. A inflação não é estrutural e generalizada na economia. 
 Pelo menos, até o momento, os princípios econômicos do Ministério da Economia são os mesmos desde o governo Temer.

Caso a produção aumente e o dólar seja estabilizado num patamar mais accessível, os preços, consequentemente, voltarão à normalidade. 
O descontrole da inflação certamente não virá através do agronegócio. O perigo de um aumento estrutural da inflação (ineficiência da infraestrutura produtiva da economia do país) depende em grande parte de decisões de política econômica na conservação do teto de gastos públicos.

O roteiro de controle inflacionário sinaliza que o grande risco que se corre no controle da inflação é quando acontece uma evolução rápida na deterioração das contas públicas. 
Caso o País venha a desprezar o Teto dos Gastos, sua única âncora fiscal, o câmbio irá se desvalorizar ainda mais e será inevitável uma queda na sua nota de classificação de risco pelas principais agências internacionais, levando fatalmente o Brasil à perda de investimentos.

A responsabilidade com a inflação dos alimentos é muito mais do Governo Federal que dos empresários de supermercado e produtores rurais. 
É uma combinação de controle das contas públicas sem a sua ingerência no mercado de produtos alimentícios e, por conseguinte, no agronegócio.

Os preços retornarão gradativamente ao normal, sem necessidade de se recorrer aos apelos populistas e, muito menos, evocar aqueles sentimentos “nacionalistas” que vimos no passado. 
A solução passa obrigatoriamente pela melhora contínua das contas públicas e a urgência na aprovação das reformas estruturantes, a fim de conter o endividamento e aumentar a produtividade da nossa economia.

17 de setembro de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador). 

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