"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

SEM INVESTIMENTO FICA DIFÍCIL

O baixo investimento é um sinal evidente de que esse é um dos principais responsáveis pela demora na recuperação da nossa atividade econômica, sem dúvida, a mais lenta da história. Recentemente, foi divulgado o PIB (Produto Interno Bruto) referente ao terceiro trimestre deste exercício, que apresentou um crescimento de apenas 0,8% em relação aos três meses anteriores, retornando assim ao nível do primeiro semestre de 2012 e mantendo-se 5% abaixo do pico registrado no primeiro trimestre de 2014. Entretanto, não podemos considerar este como um resultado desapontador, mas sim aquele que precisa ser apreciado com moderação, até porque a base de comparação é fraca.

A grande questão é quando avaliamos o conjunto da obra proveniente de uma “herança maldita” que nos deixa literalmente desiludidos. Nesses últimos dois anos, após o fim de um intenso período recessivo pelo qual passamos, a economia avançou muito pouco, somente 3,3%. Confrontando-se com o mesmo espaço de tempo registrado nas saídas de recessões anteriores, a velocidade foi bem inferior e, a essa altura, a economia já deveria ter crescido quase o triplo e não a metade, como se constatou.

Quanto ao desempenho do PIB, várias revisões foram feitas pelos analistas no decorrer deste ano. A primeira projeção foi um pouco superior a 3% para o final de 2018. Hoje, só temos condições de chegar, no máximo, a 1,5%. Acontece que muitos acontecimentos interessantes impediram que esta expectativa inicial se concretizasse.

Na realidade, a principal causa que vem obstruindo a alavancagem da economia é a premência das reformas estruturais, situação que fatalmente prejudica o investimento. Com a eleição já definida e a fragorosa derrota do PT nas urnas, as incertezas começam gradativamente a serem dissipadas diante de um rumo crível que está sendo traçado para o Brasil. Os empresários já admitem publicamente maior segurança para investir, contudo, ainda não se sentem com uma carta branca nas mãos. Afinal de contas, existem enormes desafios a serem superados. Na verdade, o crescimento do investimento observado no terceiro trimestre foi exclusivamente uma questão pontual, devido à movimentação realizada pela Petrobras com a importação de plataformas de petróleo. A medida, porém, não teve o mínimo impacto no resultado final do PIB.

A firmeza das reformas é que definirá melhor as possibilidades de crescimento da economia em 2019. As especulações são muitas, envolvendo algumas variáveis que não podem ser desconsideradas. Pelo visto, a agenda do novo governo é bastante extensa. Apesar dos resultados fiscais terem melhorado um pouco, todavia ainda continuam insuportáveis. A dívida pública permanece ascendente e não será reprimida apenas com o cumprimento do “teto dos gastos” aprovado pelo Congresso Nacional em 2016.

Carecemos urgentemente de uma ampla reforma previdenciária que extinga os indecentes privilégios, precisamos também da utilização de recursos de privatização para diminuir a explosiva dívida pública, da desvinculação de inúmeras despesas, de uma reforma tributária, de um Banco Central independente (garantindo o crescimento da economia, diminuindo o prêmio de risco e o custo Brasil) e da abertura comercial negociada; todos são muito bem-vindos, porém, sem eles, dentre outros, igualmente relevantes, entraremos inevitavelmente numa nova crise e aí nada mais adiantará.

Estando o país nos trilhos, principalmente do ponto de vista relativo ao equilíbrio fiscal, o investimento certamente virá no vácuo sem trazer ameaças. Aliás, são duas coisas verdadeiramente inseparáveis. Gostaria de saber quem é o herói que está disposto a fazer um programa de investimentos sem ter um sentimento sólido do que vai acontecer conosco daqui a cinco anos, apreciando da arquibancada da vida a escalada de um inconsequente endividamento do governo?

O consumo das famílias supostamente saiu da inércia, crescendo 0,6%. Nesse ritmo atual, não existe nada que torne o consumo insustentável. Ocorre que ele não vem crescendo rapidamente, todavia outros indicadores também importantes confirmam, mais uma vez, que o consumo está também condicionado à expansão da massa salarial. Como a nossa capacidade ociosa é grande, a economia tem um generoso espaço para crescer.

Às vezes, ainda fico na dúvida: será que a sociedade brasileira está mesmo ciente que também deu ao novo governo um mandato para fazer um robusto ajuste fiscal no País? É evidente que a eleição não foi exclusivamente sobre aspectos econômicos, embora durante a campanha, eles tenham sido tratados superficialmente por todos os candidatos sem que apresentassem os detalhamentos indispensáveis. Não quero insinuar com isso que o próximo governante não venha a se empenhar em fazer as imprescindíveis reformas, mas é preciso lembrar que esta não é uma decisão monocrática, já que ela tem de passar por um Congresso excessivamente corporativista - o maior câncer da política brasileira.

Esse é apenas um dos muitos cenários desafiadores que o futuro presidente está enfrentando mesmo antes da sua posse e, para ser revertido, exigirá do poderoso ministro da Economia, com sua equipe liberal, muito mais do que uma organização diferenciada de ministérios. Porém, para que o otimismo sobreviva e a confiança gere efeitos duradouros em termos de investimento e consumo, Bolsonaro e seu quadro de colaboradores terão que agir com rapidez. Eles devem afinar não só seu discurso, mas, particularmente, suas reais propostas relacionadas à economia brasileira.


07 de dezembro de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

Nenhum comentário:

Postar um comentário