As convenções partidárias, encerradas no dia 5, não serviram apenas para os partidos lançarem seus candidatos à Presidência da República, mas também para estabelecer coligações, um elemento importante da estratégia eleitoral – basta ver, por exemplo, como o PT conseguiu desidratar a candidatura de Ciro Gomes, do PDT, ao trabalhar para que o PSB se mantivesse neutro na disputa federal, e como a candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB, passou a ser levada mais a sério depois que ele conquistou o apoio do “Centrão”.
Mas o pleito de outubro tem tudo para desafiar consensos antigos a respeito do processo eleitoral.
O apoio de outros partidos faz sentido para os candidatos por vários motivos, dos quais o tempo de propaganda eleitoral no rádio e televisão é apenas um deles. Quem conta com coligações amplas e que envolvem partidos bem representados no Legislativo também tem mais recursos dos fundos públicos – o partidário e o eleitoral – que, depois da proibição das doações de pessoas jurídicas, se tornaram, basicamente, o meio primário de financiamento de campanhas eleitorais. E, ainda por cima, esses candidatos se beneficiam da capilaridade propiciada por partidos que compõem a chapa e têm governadores, prefeitos e deputados que influenciam o eleitor e garantem palanque ao postulante à Presidência.
Olhando apenas por esse aspecto, que sempre foi a análise tradicional a se fazer em período eleitoral, as candidaturas de Geraldo Alckmin, do petista Fernando Haddad (pois só uma catástrofe jurídica permitirá que Lula seja o candidato do PT ao Planalto) e do emedebista Henrique Meirelles saem na frente. O ex-ministro da Fazenda, no entanto, tem contra si o ônus de não ser consenso nem mesmo dentro de seu partido, reduzindo um pouco o impacto da enorme capilaridade do MDB, e de estar associado ao impopular governo Temer. Consequentemente, estaríamos nos encaminhando para repetir, pela sétima vez consecutiva (incluindo os dois pleitos vencidos por Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno), a polarização entre PT e PSDB. Por mais que dessa vez parecesse diferente, com vários candidatos viáveis buscando a preferência do eleitor, no fundo, permaneceria tudo como está.
Mas será mesmo assim? Tempo de televisão, recursos para campanha e palanques regionais continuam sendo as grandes forças que definem uma eleição? A pré-campanha, em que Jair Bolsonaro (PSL) tem liderado os cenários plausíveis (ou seja, aqueles sem a participação de um presidiário ficha-suja) nas pesquisas de opinião, tem desafiado essa lógica. É verdade que, antes dele, já houve outsiders que saíram na frente nas pesquisas para murchar no momento decisivo; uma análise mais “tradicional” da dinâmica eleitoral tende a prever o mesmo fim para o candidato do PSL, que, sem parceiros relevantes de coligação, terá apenas uns poucos segundos de propaganda, pouco dinheiro dos fundos públicos e quase nenhum apoio de lideranças políticas importantes locais.
No entanto, há razões para considerar os rumores sobre a iminente morte eleitoral de Bolsonaro “manifestamente exagerados”, para usar a expressão de Mark Twain. O candidato é líder absoluto de presença nas mídias sociais, acumulando 5,5 milhões de seguidores no Facebook e 1,23 milhão no Twitter. Só Marina Silva, da Rede, consegue superá-lo no Twitter, com 1,87 milhão, mas não chega nem à metade do número de seguidores de Bolsonaro no Facebook. O ex-presidente Lula, por exemplo, é seguido por 3,5 milhões de usuários no Facebook e 377 mil no Twitter. O número importa: pesquisas recentes têm colocado a internet e as mídias sociais em níveis semelhantes, quando não superiores, aos da televisão quando o eleitor é chamado a dizer onde ele busca informações para escolher seu candidato.
13 de agosto de 2018
blog do orlando tambosi
O apoio de outros partidos faz sentido para os candidatos por vários motivos, dos quais o tempo de propaganda eleitoral no rádio e televisão é apenas um deles. Quem conta com coligações amplas e que envolvem partidos bem representados no Legislativo também tem mais recursos dos fundos públicos – o partidário e o eleitoral – que, depois da proibição das doações de pessoas jurídicas, se tornaram, basicamente, o meio primário de financiamento de campanhas eleitorais. E, ainda por cima, esses candidatos se beneficiam da capilaridade propiciada por partidos que compõem a chapa e têm governadores, prefeitos e deputados que influenciam o eleitor e garantem palanque ao postulante à Presidência.
Olhando apenas por esse aspecto, que sempre foi a análise tradicional a se fazer em período eleitoral, as candidaturas de Geraldo Alckmin, do petista Fernando Haddad (pois só uma catástrofe jurídica permitirá que Lula seja o candidato do PT ao Planalto) e do emedebista Henrique Meirelles saem na frente. O ex-ministro da Fazenda, no entanto, tem contra si o ônus de não ser consenso nem mesmo dentro de seu partido, reduzindo um pouco o impacto da enorme capilaridade do MDB, e de estar associado ao impopular governo Temer. Consequentemente, estaríamos nos encaminhando para repetir, pela sétima vez consecutiva (incluindo os dois pleitos vencidos por Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno), a polarização entre PT e PSDB. Por mais que dessa vez parecesse diferente, com vários candidatos viáveis buscando a preferência do eleitor, no fundo, permaneceria tudo como está.
Mas será mesmo assim? Tempo de televisão, recursos para campanha e palanques regionais continuam sendo as grandes forças que definem uma eleição? A pré-campanha, em que Jair Bolsonaro (PSL) tem liderado os cenários plausíveis (ou seja, aqueles sem a participação de um presidiário ficha-suja) nas pesquisas de opinião, tem desafiado essa lógica. É verdade que, antes dele, já houve outsiders que saíram na frente nas pesquisas para murchar no momento decisivo; uma análise mais “tradicional” da dinâmica eleitoral tende a prever o mesmo fim para o candidato do PSL, que, sem parceiros relevantes de coligação, terá apenas uns poucos segundos de propaganda, pouco dinheiro dos fundos públicos e quase nenhum apoio de lideranças políticas importantes locais.
No entanto, há razões para considerar os rumores sobre a iminente morte eleitoral de Bolsonaro “manifestamente exagerados”, para usar a expressão de Mark Twain. O candidato é líder absoluto de presença nas mídias sociais, acumulando 5,5 milhões de seguidores no Facebook e 1,23 milhão no Twitter. Só Marina Silva, da Rede, consegue superá-lo no Twitter, com 1,87 milhão, mas não chega nem à metade do número de seguidores de Bolsonaro no Facebook. O ex-presidente Lula, por exemplo, é seguido por 3,5 milhões de usuários no Facebook e 377 mil no Twitter. O número importa: pesquisas recentes têm colocado a internet e as mídias sociais em níveis semelhantes, quando não superiores, aos da televisão quando o eleitor é chamado a dizer onde ele busca informações para escolher seu candidato.
13 de agosto de 2018
blog do orlando tambosi
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