"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

DELEGADO SEGÓVIA, "POR QUÉ NO TE CALLAS?"


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Fernando Segóvia, que pelo nome certamente tem ancestrais espanhóis, quiçá oriundos da encantadora Segóvia a poucos passos de Madri, está se saindo muito mal como diretor-geral da Polícia Federal. A primeira mancada foi em novembro de 2017, quando assumiu a direção geral da instituição. Referindo-se ao episódio da corridinha com a mala entupida de dinheiro vivo, que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-MG), então assessor do presidente Michel Temer e seu homem de confiança, empreendeu após receber mala e dinheiro do executivo Ricardo Saud, da JBS, Segóvia questionou publicamente se “uma única mala” seria suficiente para determinar se houve ou não crime.
Depois veio a nomeação de Felício Laterça, então delegado federal em Macaé, para ser o superintendente da Polícia Federal no Estado do Rio de Janeiro. Não durou muito e Segóvia se viu obrigado a anular a nomeação por razões que nem precisam ser repetidas aqui. E agora, Segóvia mais uma vez abriu a boca e em entrevista acenou com a possibilidade do arquivamento do inquérito policial que investiga se o presidente Temer cometeu crime de favorecimento, no cabeludo caso do “decreto dos portos”.
DISSE O REI – Saiba o delegado-chefe da Polícia Federal que o ministro Luís Roberto Barroso, do STF — a quem Segóvia é seu jurisdicionado e ao ministro Segóvia também deve obediência — já mostrou que vai ser muito mais rigoroso com o diretor-geral da PF do Brasil do que foi o Rei Juan Carlos da Espanha quando, na XVII Conferência Ibero-Americana realizada em Santiago do Chile, em 2007, não suportando mais as inoportunas e grosseiras intervenções de Hugo Chavez, que interrompia o discurso do primeiro-ministro espanhol José Luiz Zapatero, o Rei levantou-se e, dirigindo-se a Chavez,  furioso, disse em voz alta: “Por qué no te callas?”.
Delegado Fernando Segóvia, o senhor é apenas o diretor-geral da Polícia Federal. Sua autoridade perante seus subordinados, inclusive colegas seus, também delegados de polícia, é meramente administrativa. E nada mais do que administrativa. O senhor não preside inquérito policial algum. O senhor está, moral e legalmente impedido — caso não estivesse juridicamente impossibilitado, como está — de comentar, em público ou não, sobre inquérito que o senhor não preside e que, por descuido e ilegitimamente, esteja de toda a investigação inteirado. E ainda que presidisse, o decoro exigiria e exige o silêncio.
SEM ENTREVISTAS – Se Delegado de Polícia que preside inquérito policial não pode dar entrevistas nem revelar o que contém os autos do inquérito, muito menos seu chefe hierárquico e diretor-geral da instituição.
E mais: no escabroso caso do “decreto dos portos”, somente o ministro Luis Roberto Barroso (autoridade judicial) tem o poder legal para ordenar seu arquivamento. A prerrogativa do delegado de polícia (autoridade judiciária), que preside o inquérito policial, e do Ministério Público, que tenha solicitado sua instauração, não vai além do direito de pedir o arquivamento, pedido que pode ou não ser acolhido pela autoridade judicial, no caso o ministro Barroso. Delegado não arquiva inquérito policial, doutor Segóvia. Nem o Ministério Público, ainda que titular da ação penal que do inquérito possa gerar, tem a prerrogativa de arquivar inquérito policial.
Doutor Segóvia, parece que o senhor não está dando certo na chefia da Polícia Federal brasileira. Em tão pouco tempo, três mancadas. Que feio! O exercício do seu cargo exige solenidade, austeridade, discrição, independência, imparcialidade, serenidade, sabedoria jurídica e tantos outros deveres que o povo brasileiro espera de um diretor-geral da Polícia Federal.  E a polícia que o senhor passou a ser o chefe máximo é instituição criada para a defesa do Estado Nacional, a defesa do Brasil e de todo o seu patrimônio, material e imaterial.
NO PASSADO – Doutor Segóvia, saiba o senhor que, no passado não tão remoto, já tive como adversário (não, como inimigo), o então advogado Luis Roberto Barroso, num famoso pleito judicial aqui no Rio de Janeiro cujo resultado ultrapassou as fronteiras do país. O doutor Barroso joga limpo. Não se acovarda. Conhece a Ciência do Direito, numa visão, sublimação e plenitude que só os predestinados têm. E neste Brasil de hoje, qual o outro predestinado?
Doutor Segóvia, seja o mais reverente e verdadeiro,com o ministro Barroso, com a instituição Polícia Federal, com o Brasil e todo o seu povo. Somos mais de duzentos milhões a vigiar a sua atuação. E temos uma imprensa livre. Doutor Segóvia, para o bem do povo e para a felicidade geral da Nação, “por qué no te callas”? 

12 de fevereiro de 2018
Jorge Béja

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