José Dirceu, em recente entrevista para um site argentino, comentou que as ruas são mais importantes que a “rede”. Não sei se poderíamos concordar com essa afirmação. A Rede não só é a nova rua, em certo sentido, como ela antecipa o que vai ocorrer nas ruas. Onde nasceram os “coxinhas”? Na Rede. E depois tomaram as ruas. Onde nasceram os movimentos fascistas, como o MBL e o Vem pra Rua? Na Rede, e depois tomaram as ruas. Onde nasceu o impeachment de Dilma? Na Rede, e depois tomou a rua.
Onde nasceram as “10 Medidas Contra a Corrupção”? Na Rede e depois saíram – em busca de assinaturas e apoio – para a rua. Onde nasceram – por meio da disseminação repetitiva e goebbeliana, de mentiras, mitos e paradigmas – as mais recentes derrotas para a democracia brasileira?
INDIFERENÇA – As derrotas da democracia brasileira nasceram na indiferença das lideranças que deveriam defendê-la na Rede e na mais absoluta incapacidade de reação na internet de modo geral, que depois se refletiu nas ruas.
No exterior, e com razão – li uma vez, em uma pichação, em um muro de Berlim: “Netz zuerst, strasse dann!” – se diz que o trabalho na Rede, principalmente no sentido do convencimento e da mobilização, precede a ocupação, no sentido da marcação simbólica de território e de demonstração de apoio da população – do asfalto.
Onde nasceu – e está crescendo a cada dia – a candidatura Bolsonaro, mais uma vez sem nenhuma reação digna de nota, por parte daqueles que dizem estar preocupados com o futuro da democracia brasileira?
PARA REFLEXÃO E DEBATE – No Facebook – 4.5 milhões de curtidas na principal página de Bolsonaro (não interessa se “fakes” ou não) contra menos de 3 milhões para Lula. No Google, 458 mil resultados – a maioria negativos – para Luiz Inácio Lula da Silva, contra 980 mil citações para Jair Messias Bolsonaro.
No Youtube, 18.600 resultados para Luis Inácio Lula da Silva, contra 19.800 para Jair Messias Bolsonaro. Junte-se a isso o total de 2,9 milhões de curtidas de Moro apenas em suas duas principais páginas, 398 mil resultados para Sérgio Fernando Moro no Google, e 77 mil vídeos para ele no Youtube, e dá para ter – olavetes, villetes, lobetes, somadas – uma ideia aproximada do recente crescimento do eleitorado de extrema-direita no Brasil.
04 de agosto de 2017
Mauro Santayana
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