Ao aterrissar no aeroporto Santos Dumont, o então avião presidencial, o BAC-One Eleven, raspou sua cauda na pista. Mesmo assim, taxiou normalmente, até a parada dos motores. O chefe da Segurança, coronel Vale, alertou os passageiros para que deixassem rapidamente a aeronave, que poderia explodir. Recomendou ao presidente Costa e Silva, que corresse. O velho general irritou-se e respondeu: “O presidente explode mas não corre!”
O episódio se conta a propósito de outro presidente que, às voltas com a explosão de seu governo, procura manter uma postura de normalidade. Apesar de seis de seus ministros estarem incluídos na lista do Janot, passíveis de condenação, Michel Temer recomendou a todos continuarem no exercício de suas funções, como se nada tivesse acontecido.
A gente fica pensando no que acontecerá caso Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, puxando a fila de outros, venha a se transformar em réu do Lava Jato. Conseguirá o presidente preservar a dignidade de seu governo? Quando pipocarem evidências de malfeitos de parte de sua equipe, junto com as demissões, receberão a protocolar carta de elogios e agradecimentos pelos serviços prestados?
Não seria melhor dispensá-los antes, em silêncio, para evitar o vexame? Nada parece mais oportuno do que uma reforma do ministério, ampla, geral e irrestrita. Até hoje o governo, com raras exceções, tem sido um condomínio de facções partidárias ávidas de participar do poder e de suas benesses. Desafia-se que alguém, hoje, possa citar na ponta da língua, os nomes de todos os ministros e suas respectivas filiações. Muito menos suas realizações.
A oportunidade é ímpar para trocar todo mundo, abrindo espaços para a convocação de auxiliares sem compromisso com a corrupção. Fora daí, o risco é de Michel Temer explodir, junto com as instituições…
20 de março de 2017
Carlos Chagas
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