"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O PT E A ATUALIDADE

Dans quel chapitre, s’il vous plait ? Dans le chapitre des chapeaux. Invocando Moliére, autor do diálogo, assim costumava o jornalista Carlos Castello Branco abrir sua coluna, ao interrogar-se à procura de um tema para o dia. E também como Machado de Assis, usuário daquele manejo, preambulava como epígrafe a conto seu. Todos lembrando-se da comédia em que se desfecha o diálogo. 
Hoje, vamos de PT, que nos fornece capítulos sucessivos (e intermináveis) para uma prosa variada, da comédia à tragédia.

Depois de várias tentativas para alcançar o poder - algumas delas dramáticas - o Partido dos Trabalhadores, na pessoa de seu líder máximo, conseguiu instalar-se no Palácio do Planalto por 8 anos (!!!) e depois legado a uma discípula, que não soube nele manter-se.

Desde sua fundação, tratou o PT de promover a conquista do poder não por uma maneira amena e suasória, mas adotando um discurso rude e audacioso, transmitindo em suas pregações uma quase ferocidade para com seus adversários, cujos efeitos junto à sociedade seria o de não apenas contrapô-la a uma ordem social vigente, ultrapassada e reacionária, segundo seus fundadores. 
Visava, é claro, cooptá-la para a participação em um processo político que prometia a reorganização estatal com pilares estabelecidos em princípios éticos e outros critérios que desaguavam na tão decantada inclusão social, projetando-se eles sobre a política e a administração pública.

O PT, como qualquer agremiação nascente, contou em sua história com a atuação de duas vertentes: um seleto grupo de intelectuais, incumbido da propaganda ideológica, e os panfletários, responsáveis, durante toda a existência do partido, por reivindicações ditas de cidadania e pelas ruidosas provocações de campo. Na luta pelo poder, até hoje não se sabe ao certo se o PT teria trazido aprimoramentos para a evolução democrática brasileira. Sua atuação panfletária, estrepitosa, tumultuada, às vezes violenta, caracterizava a mobilização de seus prosélitos, que, comumente, praticavam exageros que os levavam à prisão. 

Como propósito de fundo, estaria o PT intentando uma verdadeira rebelião das massas, a que se referia Ortega e Gasset. Porém, o próprio e já frágil sistema político da direita é que forneceu os ingredientes para a tomada do poder, consciente de que estava a nação da malversação de seus intocáveis e impostergáveis direitos, que nas mãos do “ancien regime” então se fragmentavam. 
O concurso do publicitário baiano nas eleições presidenciais, não foi absolutamente responsável pela vitória petista, mas o sentimento brasileiro, que tinha na outra opção uma esperança de estancar a agonia daquela gestão que alienou nosso patrimônio e outras consciências. Contudo, não se preparou o PT para assumir o governo. 

Depois que se transformou em vidraça, não soube conduzir-se na administração, assumindo posições por vezes análogas a de seus antecessores ou simplesmente errando na aplicação de suas teses, ardorosamente defendidas nas ruas e nos sindicatos. O que faltou à estratégia do Partido dos Trabalhadores foi não manter, paralelamente à sua luta política e doutrinária, uma escola de administração pública, em que a ideologia não respirasse mais que a verdade menos dogmática. 

Os intelectuais do PT sempre estiveram alertas para deitar lições de política e de ética para o grande público, ao invés de abandonarem a crítica falaciosa e as ministrassem a seus membros, que, em verdade, eram milhões, e estes, sim, é que careciam delas. 
O despreparo da militância petista para assumir as responsabilidades de governo é que produziram os lances melodramáticos que o PT encenou nesta quadra conturbada, em que resultaram, como na inexorável autofagia das revoluções, responsável por devorar seus próprios membros, fase que ainda não terminou. 
Estamos agora em seu entreato. Haveremos, ainda, de assistir a novas cenas da guilhotina oficial.

07 de fevereiro de 2017
José Maria Couto Moreira é advogado.

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