Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos em vitória inesperada. O republicano conquistou vários Estados-pêndulo, onde os resultados eram imprevisíveis – podiam favorecer tanto um partido quanto outro, como a Flórida, Ohio e Carolina do Norte. Vale lembrar que sua vitória não era indicada pelas pesquisas de opinião, que apontavam Hillary como a nova presidente.
Os brasileiros também não esperavam por esta vitória. Muitos estão temerosos e confusos com a futura relação do Brasil com os EUA sob o comando de Trump.
Saiba como a vitória do republicano impacta no Brasil:
Economia e comércio: Vários aspectos devem ser levados em conta para responder a questão. Um deles é a maneira como os dois candidatos e seus partidos encararam a economia e as relações comerciais entre os Estados Unidos e o resto do mundo.
O Brasil se beneficiaria de uma maior abertura dos EUA a produtos brasileiros. Atualmente os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China.
Historicamente, o Partido Republicano defende o livre comércio e se opõe a medidas protecionistas que ajudassem empresas americanas a competir com estrangeiras. Desta forma, um candidato republicano tenderia a ser melhor para os interesses econômicos do Brasil do que um candidato democrata.
Contudo, Donald Trump inverteu essa lógica ao propor renegociar os acordos comerciais firmados pelos EUA para preservar empregos no país e reduzir o déficit americano nas transações com o resto do mundo. Caso ele coloque essas ações em prática, o Brasil poderia ser prejudicado.
A professora de Relações Internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, afirma que as consequências seriam imediatas e negativas, e causariam o que muitos economistas estão chamando de “efeito Trump”. “Como ele fez propostas muito amplas e populistas, o efeito econômico dessas medidas podem ter impacto grande e gerar um caos na economia – principalmente porque ele é contrário ao livre comércio, se mostrou protecionista”, destacou.
Entretanto, Holzhacker faz uma ressalva sobre a aplicação dessas medidas: “Agora, para saber o quanto ele vai conseguir implementar disso, vamos ter que esperar. Ele é tão imprevisível e tudo fica tão indefinido que prejudica muito o cenário econômico”.
Imigração e vistos: Estima-se que um milhão de brasileiros vivam nos EUA, boa parte em situação migratória irregular. Trump propôs construir um muro na fronteira do país com o México e prometeu deportar todos os imigrantes sem documentos.
O republicano afirma que protegerá o “bem-estar econômico de imigrantes legais” e que a admissão de novos imigrantes levará em conta suas chances de obter sucesso nos EUA, o que em tese favoreceria brasileiros com alta escolaridade e habilidades específicas que queiram migrar para o país.
Um tema de interesse dos brasileiros é a facilidade para obter vistos americanos. Trump fez poucas menções ao sistema de concessão de vistos do país. Atualmente, Brasil e EUA negociam a adesão brasileira a um programa que reduziria a burocracia para viajantes frequentes brasileiros, como executivos. A eliminação dos vistos, porém, ainda parece distante.
Para que a isenção possa ser negociada, precisaria haver uma redução no índice de vistos rejeitados em consulados americanos no Brasil, uma exigência da legislação dos EUA.
Relação com o Brasil: O Brasil e a América Latina não foram tratados como temas prioritários nas campanhas dos dois candidatos. No ano passado, Trump citou o Brasil ao listar países que, segundo ele, tiram vantagem dos Estados Unidos através de práticas comerciais que ele considera injustas. Porém, a balança comercial entre os dois países é favorável aos EUA.
Vale destacar que Trump é sócio de um hotel no Rio de Janeiro e licenciou sua marca para ser usada por um complexo de edifícios na zona portuária da cidade. Anunciada em 2012, a obra ainda nem começou.
Para a professora de Relações Internacionais da Unifesp, Cristina Pecequilo, como Trump não falou nada sobre o país e se distanciou de temas ligados à América Latina, não deve haver muitas mudanças para os brasileiros. No entanto, o presidente eleito tem o elemento de imprevisibilidade.
“A situação do governo Hillary para o Brasil teria sido mais tranquila porque era mais previsível por qual caminho ela iria. Seria a continuidade do governo Obama, de uma dimensão política que tem o reconhecimento do Brasil como relevante, sem muitas mudanças”.
Pecequilo ainda ressalta que o Brasil deve perder relevância na visão dos Estados Unidos dado o conturbado cenário interno. “Eles estão com tanto problema dentro de casa, que o Brasil não é uma preocupação.”
Relacionamento: Especialistas nas relações Brasil-EUA comumente dizem que os laços entre os dois países dependem em grande medida da química entre seus líderes, independentemente de seus partidos ou ideologias. Eles também apontam que, embora seguissem tradições políticas bastante distintas, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011) e George W. Bush (2001-2009) tinham uma relação tão boa quanto a mantida entre Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Bill Clinton (1993-2001), que tinham maior afinidade ideológica.
Já a relação entre Barack Obama e Dilma Rousseff nunca foi tão próxima e ficou mais distante com a revelação de que o governo americano havia espionado a presidente brasileira.
Analistas pontuam que Brasil e EUA têm relações bastante diversificadas e que os laços devem ser mantidos, visto que os dois governos dialogam dentro de estruturas burocráticas.
Do lado brasileiro, há interesse em se aproximar mais dos EUA, independente do presidente. Em entrevista à BBC Brasil em julho, o embaixador brasileiro em Washington, Sérgio Amaral, disse que o governo Temer investiria nas relações com as cinco principais potências globais (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido).
Amaral afirmou ainda que, na Embaixada, priorizaria áreas em que Brasil e EUA têm maior convergência, como direitos humanos e meio ambiente.
09 de novembro de 2016
ucho.info
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