"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

AS EMPRESAS ESTATAIS TÊM SIDO DEMONIZADAS INJUSTAMENTE


Charge do Bira (chargesbira.blogspot.com)

















Custo a acreditar que a atual queda das ações da Vale privatizada seja culpa de governos A , B ou C. A regra clara é demonizar as empresas estatais como ineficientes e até corruptas, enquanto cantam loas às empresas privadas que compram ativos do Estado. Quando as privatizadas começam a parar de lucrar, desempregam trabalhadores e até entram em recuperação judicial, sempre aparecem seus defensores para culpar os governos ou algum componente externo. Estou em adiantada idade para acreditar nessa narrativa do mal e do bem. As empreiteiras e as empresas que participaram do cartel da Lava Jato são exemplos que saltam aos olhos, mas tem gente que ainda teima em colocar vendas nos olhos para não ver o óbvio.
Muitos procuram demonizar as estatais injustamente. O problema reside nas escolhas dos dirigentes, que são indicados pela classe política para colherem resultados em benefício de quem os apadrinhe. Portanto, às vezes o fracasso dessa ou daquela empresa é de natureza moral e ética – logo, do ser humano. Na outra ponta, veja-se o caso dos empreiteiros, que se uniram em cartéis para faturar nas licitações públicas em conluio entre diretores de empresas públicas, lobistas e doleiros.
Agora, sem a menor dúvida, há uma grave crise nas empresas de petróleo em escala mundial, fruto da queda vertiginosa do preço do barril. A estatal da Noruega encontra-se em dificuldade e a maior petroleira dos EUA irá demitir 28 mil trabalhadores. A crise no setor do petróleo atingiu o ápice e vai levando de roldão as empresas. Evidente que na Petrobras o impacto é maior, porque a empresa foi dilapidada pelo cartel e pelos políticos, porém jamais seria uma ilha no mar revolto desta crise. O preço do barril de petróleo está no fundo do poço oscilando por volta de 35 dólares.
ALGUMAS DIFERENÇAS
Os lucros provenientes das empresas estatais vão parar nos cofres do Tesouro. Os lucros das empresas privatizadas vão parar na Suíça. As estatais têm que se virar com seu próprio orçamento, pois proibiram-nas de captar recursos para investimentos no BNDES, CEF, BB e recursos do Fundo de Amparo ao trabalhador (FAT). As empreiteiras, empresas privadas e multinacionais têm acesso a todos esses recursos nomeados e advindos do Tesouro e mais ainda subsidiados e com juros de longo prazo, atualmente da ordem de 7,5% ao ano. Esta é a diferença.
Mas o cerne da questão principal hoje, em termos políticos e econômicos, está no financiamento dos partidos, porque as empresas estatais não podem doar para as campanhas eleitorais de suas excelências, somente através das propinas.
ESQUERDA E DIREITA
O filósofo alemão Hegel, criador da dialética, dizia que o conhecimento adquire-se com uma tese, sua síntese, que volta a se tornar tese e assim indefinidamente. Marx e Engels beberam na fonte de Hegel, assim como Aristóteles bebeu na fonte de Platão, que seguiu as pegadas de Sócrates.
Creio que jamais ocorrerá o fim das ideologias, pois quando finalizam seu ciclo histórico, outras ideologias ocupam seu lugar. Ninguém é chamado hoje de Renascentista ou Iluminista. Há alguns anos, um escritor americano ousou falar em fim da história, uma contradição insanável, que soaria como apagar o passado das futuras gerações completamente, uma heresia cavalar.
O conceito de Esquerda (jacobinos) e Direita (girondinos) nasceu das entranhas da Revolução Francesa, uma revolução burguesa, diga-se de passagem. Os burgos eram o nascedouro do capitalismo artesanal. Marx e Engels tentaram o oposto dos ideários da Revolução Francesa. Contudo, em nenhum país as ideias marxistas foram implementadas, pois o coletivismo e a divisão equitativa dos bens gerados pelo trabalho humano estão na contramão da natureza humana, que é na sua carga genética notadamente individualista.
DITADURA DA URSS
Justamente para sufocar a individualidade, o “regime socialista” da antiga URSS se tornou ditatorial, para impor pela força um regime de igualdade, que era na realidade um Capitalismo de Estado, no qual as elites dirigentes viviam nababescamente em “quintas” e palácios de verão, enquanto o povo carecia de bens consumidos pelas sociedades capitalistas.
Injustiça social, portanto, havia na antiga URSS como há na China “comunista”, muito mais um capitalismo comandado pelo Exército e pelo Partido Comunista chinês, numa sociedade profundamente desigual, logo, nenhuma semelhança com as ideias propostas no Livro O Capital escrito a quatro mãos, por Marx e Engels.
Finalizando esta prosa que já vai longe, penso que o capitalismo não é a última ideologia vigente no mundo de incertezas e de crises permanentes, sinalizando que em algum ponto fora da curva outra ideologia virá para guiar as sociedades no rumo de um equilíbrio entre as sociedades hoje em conflito.

20 de fevereiro de 2016
Roberto Nascimento

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