"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 10 de janeiro de 2016

POR QUE O MASSACRE EM PARIS TERÁ IMPACTO APENAS LIMITADO


Os profissionais reagem ao deslocamento do público para a direita com o deslocamento deles próprios para a esquerda, incentivando mais imigração do Oriente Médio, instituindo mais clichês de "discurso de incitamento ao ódio" para abafar críticas ao Islã, proporcionando mais apoio aos islamistas.

O assassinato de cerca de 127 inocentes em Paris por uma gangue de jihadistas na sexta-feira chocou a França levando a mais uma rodada de solidariedade, exame de consciência e rancor. Em última análise, a violência islamista contra os cidadãos do Ocidente se reduz a duas questões: o quanto essa última atrocidade irá mudar a opinião pública? e o quanto ela irá continuar estimulando o Establishment a negar a realidade?
Conforme sugerem essas questões, o povo e os profissionais estão caminhando em direções opostas, a primeira para a direita e a segunda para a esquerda. No final, esse embate reduzirá, e muito, o impacto desses acontecimentos em termos políticos.
A opinião pública se desloca de maneira específica contra os islamistas e de maneira geral contra o Islã, se o número de mortes for grande o suficiente. Os atentados de 11 de setembro com três mil mortos nos Estados Unidos se destacam de longe no que tange o número de mortos, mas muitos outros tiveram sua contrapartida, como por exemplo os atentados em Bali no caso da Austrália, o atentado contra os trens na Espanha, o massacre de Beslan no caso da Rússia e os atentados ao sistema de transportes na Grã-Bretanha.
Grande número de vítimas não é a única coisa a ser considerada. Outros fatores também podem multiplicar o impacto de um ataque, ou seja, fazer dele o equivalente político a uma carnificina em massa: (1) o status das vítimas, como no caso do assassinato de Theo van Gogh na Holanda e o ataque à redação da revista Charlie Hebdo na França. (2) o status profissional da vítima, como por exemplo soldados e policiais. (3) situações de grande repercussão, como os atentados na Maratona de Boston.
Isso sem falar dos mais de 27.000 ataques ligados ao Islã, ocorridos ao redor do mundo desde o 11 de setembro, ou seja, mais de 5 atentados por dia (segundo levantamento do site TheReligionOfPeace.com), além do aumento assombroso na imigração ilegal do Oriente Médio mais recentemente, exacerbaram a sensação de vulnerabilidade e medo. É uma via de mão única, sem que houvesse uma única alma que se tenha notícia que tivesse dito "eu me preocupava em relação ao islamismo e agora não me preocupo mais".
Esses casos fazem com que mais cidadãos ocidentais se sintam apreensivos em relação ao Islã e aos tópicos relacionados a ele, que vão desde a construção de minaretes até a infibulação feminina. Em termos gerais, está em andamento uma marcha para a direita. Levantamentos sobre a postura dos europeus mostram que de 60% a 70% dos eleitores manifestaram esses temores. Populistas como Geert Wilders da Holanda e partidos como osDemocratas Suecos estão decolando nas pesquisas de opinião.
Mas quando se trata do Establishment, políticos, polícia, imprensa e professores, a violência sem fim provoca um efeito contrário. Os acusados de interpretarem os ataques ao seu próprio modo, vivem em uma bolha de negação pública (o que eles dizem em conversas privadas são outros quinhentos), na qual se sentem forçados a fingir que o Islã não tem nada a ver com essa violência, preocupados que se reconhecessem a ligação entre uma coisa e outraaumentariam ainda mais os problemas.
Esses marqueteiros dissimulados, descarados, creem em um misterioso vírus do "extremismo violento" que parece atacar apenas muçulmanos, induzindo-os a cometerem a esmo atos bárbaros de violência. Das mais diversasdeclarações absurdas feitas por políticos, a minha favorita foi aquela do ex-governador de Vermont Howard Deanquando ele se pronunciou a respeito dos jihadistas que atacaram a redação da revista Charlie Hebdo: "eles são tão muçulmanos quanto eu".
Essa afronta ao bom senso sobreviveu a todas as atrocidades até agora e eu pressuponho que ela também irá sobreviver ao massacre de Paris. Somente uma verdadeira perda de vidas humanas, talvez centenas de milhares, irá forçar os profissionais a largarem seu comportamento padrão, profundamente enraizado, de negar o componente islâmico no tsunami de ataques.
Esse padrão de comportamento tem o efeito extremamente importante de afastar os temores dos eleitores comuns, cuja ótica por sua vez impacta de forma insignificante a maneira de fazer política. Receios quanto à Shariagangues de estupradoresdoenças importadas e banhos de sangue são rechaçados com acusações de "racismo" e "islamofobia", como se insultos abordassem os verdadeiros problemas.
Mais surpreendente ainda é que os profissionais reagem ao deslocamento do público para a direita com o deslocamento deles próprios para a esquerda, incentivando mais imigração do Oriente Médio, instituindo mais clichês de "discurso de incitamento ao ódio" para abafar críticas ao Islã, proporcionando mais apoio aos islamistas. Esse padrão de comportamento não afeta apenas personalidades da esquerda do Establishment, mas mais impressionantemente ainda, afeta também os da direita (como a Chanceler Angela Merkel da Alemanha), somente líderes do leste europeu como Viktor Orbán da Hungria se dão ao luxo de falar honestamente sobre os verdadeiros problemas.
A Hungria de Viktor Orbán pode não durar muito na União Européia. Ou quem sabe, não será ele o futuro líder do grupo?
Com certeza, com o passar do tempo, os eleitores farão com que suas opiniões sejam ouvidas, mas décadas depois e de maneira mais fraca do que deveria ser democraticamente o caso.
Agora colocando a violência monstruosa ocorrida em Paris nesse contexto: ela irá provavelmente deslocar de forma significativa o sentimento do público em uma direção e as políticas do Establishment em direção diametralmente oposta, tendo portanto um impacto limitado apenas.

10 de janeiro de 2016
O Sr. Pipes (DanielPipes.org@DanielPipes) é o presidente do Middle East Forum. © 2015 por Daniel Pipes. Todos os direitos reservados.
Publicado no Philadelphia Inquirer.

http://pt.danielpipes.org
Tradução: Joseph Skilnik

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