Um dos conceitos mais estúpidos, e mais prejudiciais ao desenvolvimento de uma sociedade anda, infelizmente, cada vez difundido no país: o de “todo político é igual”.
“É tudo farinha do mesmo saco.”
São tantos os maus políticos que cada vez mais pessoas ficam desencantadas com a política como um todo. É um círculo vicioso, uma bola de neve morro abaixo, um rompimento de barragem de dejetos de mineradora que vai espalhando lama e destruição. Porque quanto mais gente acreditar que todo político é igual, mais políticos ruins serão eleitos.
Os políticos não são todos iguais. Há Mario Covas e há Paulo Maluf. Há Franco Montoro e Eduardo Cunha. Há Ulysses Guimarães e Jáder Barbalho. Há, no mesmo Estado, Tancredo Neves e Newton Cardoso, Jarbas Vasconcelos e Severino Cavalcanti. Há Paulo Brossard e Fernando Collor de Mello. Há Arnaldo Madeira e Renan Calheiros.
As duplas de políticos que são extremamente diferentes uns dos outros poderiam continuar a ser citadas às dezenas.
Ainda nas duas últimas semanas, tivemos dois exemplos claríssimos, límpidos, fulgurantes de que há ótimos políticos neste país, neste momento, nesta era de trevas na política, na economia, na ética.
Na quinta-feira, 19 de novembro, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) enfrentou com galhardia, beleza, coragem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que havia chefiado o vexaminoso ataque de sua tropa de choque para impedir os trabalhos da Comissão de Ética, que começaria a tratar da possibilidade de punição do peemedebista do Estado do Rio.
As palavras de Mara Gabrilli vão ficar na História:
“Eu sou a deputada que mais dificuldade tem para chegar às sessões da Câmara. Eu sou a deputada aqui que, com certeza, mas se esforça para chegar aqui e para estar aqui. Eu sou uma deputada, presidente, que procuro dar exemplo. Eu procuro dar exemplo de ética. Eu procuro dar exemplo de superação. Eu procuro dar exemplo de moral.
“Muitas vezes, senhor presidente, eu fico, ali, tremendo de frio. E mesmo, não tendo desconto do meu salário por estar na mesa, eu fico na sessão porque eu acho que eu tenho que dar exemplo para os brasileiros.
“Senhor presidente, eu sei que você nutre admiração por mim. Eu gosto do senhor. Mas gostar do senhor não me fez ficar decepcionada. Gostar do senhor não me fez perceber que o senhor nos chama de imbecis, muitas vezes. Eu peço para o senhor. O senhor tem que dar exemplo. O senhor não está dando exemplo. O senhor está perdendo a cada dia a legitimidade de presidir.
“Eu convido todos os deputados a saírem dessa sessão. O que o Felipe Bornier (PSD-RJ), o que esse deputado fez aqui não se faz. Você tem que revogar esse ato e valorizar a nossa comissão de ética.
“O senhor está com medo, senhor presidente? É isso o que está acontecendo? Eu convido todos os deputados a deixarem essa sessão. Pela ética e pela moral que nós temos que ter por essa Casa e pelo povo brasileiro que que nos trouxe aqui.
“Chega, senhor presidente. O senhor não consegue mais presidir. Levante dessa cadeira, Eduardo Cunha. Por favor”
O gesto e a fala da deputada Mara Gabrilli foram amplamente divulgados e reproduzidos pela imprensa. Maravilha: nada mais merecido
***
Na quarta-feira, dia 25 – o dia em que, pela primeira vez na História, foi preso um senador da República –, durante a sessão atribulada do Senado Federal em que se discutiu como seria feita a votação sobre a decisão do Supremo de mandar prender Delcídio Amaral (PT-MS), se secretamente, ou nominalmente, a senadora Rose de Freitas (PDMB-ES) deu outro show em defesa da ética.
E falou o que poucos parlamentares estão tendo a coragem de falar: que o Parlamento não tem cumprido com seus deveres.
Foi um discurso extraordinário, corajoso, forte, que mereceria ter grande destaque. Como aquele foi um dia atípico, histórico, com a prisão do senador, do banqueiro André Esteves e de outras pessoas, a fala da senadora acabou não tendo a repercussão que merecia.
Reproduzo aqui a íntegra do pronunciamento de Rose de Freitas, segundo as notas taquigráficas do Senado:
“Presidente, eu, por várias vezes, vim ao microfone, desejosa de falar alguma coisa.
“Eu quero dizer a V. Exª que a culpa de tudo está nesta Casa. Nós fomos cedendo espaço, deixando de cumprir as nossas funções, deixando que o Tribunal legislasse no nosso lugar, e agora o comportamento da classe política, nada parecido com o que vivemos lá atrás.
“Hoje, a todo momento, em qualquer lugar, sentado aqui, sentado ali, nós nos deparamos com alguém que está sendo indiciado, exatamente por usar o poder a seu favor ou de uma circunstância que lhe favoreça.
Eu quero dizer que não vou usar a palavra como gostaria, para relembrar os momentos mais gloriosos que esta Casa teve.
“O que fazemos agora, sem a menor preocupação de como sair dessa crise, sem a menor preocupação de como ajudar o povo brasileiro, votando quando achamos que devemos votar, empurrando a pauta prioritária quando achamos que queremos empurrar, nós estamos errados!
O que o Supremo faz quando decide pelo voto aberto também está criando uma rede de proteção para ele mesmo.
Eu li esses diálogos que aqui estão e quero dizer que considero isso aqui, Presidente, um flagrante. Não vou dizer crime inafiançável, mas é um crime.
‘Por que esta Casa, que recebe esses Parlamentares, que recebe o sagrado voto popular, que jura esta Constituição que eu ajudei a escrever, é capaz de se envolver em um episódio dessa natureza? Eu não vou dizer que tenho vergonha, porque sinto que estou procurando cumprir o meu dever, mas temos que rever tudo o que acontece nesta Casa.
“Esta Casa não tem como olhar no olho de um brasileiro, ainda que possa se destacar o trabalho de vários aqui, e podemos.
“Eu ouvi um Governador famoso deste Brasil dizer para os empresários, e ouço nesta Casa constantemente, que vamos sacrificar a classe política tão rechaçada pela população. Ninguém cuida de protegê-la com os atos, com as atitudes, com as decisões.
“Ouvi um Governador, este final de semana, no meu Estado, dizer – ele teria o meu voto para Presidente – que o Brasil não precisava de governantes; precisava apenas cuidar da terça, quarta, quinta-feira, aonde…
“Mas era a minha simpatia. Não vou dizer que estamos à procura de candidatos à Presidência da República. Isso nós não vamos dizer, porque temos lideranças sobrando neste País para administrá-lo.
Ele disse que não é tão importante um governante. É mais importante cuidar da terça, quarta e quinta-feira, quando a classe polícia se reúne em Brasília.
“Eu não tenho vergonha de ser política. Eu posso dizer que sinto uma imensa dor, um sofrimento pessoal quando vejo isso aqui, citando pessoas que na República têm papéis preponderantes, Vice-Presidente da República… Citando, citando. Se não for verdade, é uma leviandade imensurável.
“Por isso eu quero lembrar que assinei uma Constituição quando o PT se envergonhava dela, e não tenho carta pública nenhuma para assinar para o Delcídio. Eu acho que ele há de encontrar o momento de se defender. Neste momento, eu não posso fazer nada a não ser reconhecer que ele fez um flagrante que comprometeu esta Casa.”
01 de dezembro de 2015
Sérgio Vaz
“É tudo farinha do mesmo saco.”
São tantos os maus políticos que cada vez mais pessoas ficam desencantadas com a política como um todo. É um círculo vicioso, uma bola de neve morro abaixo, um rompimento de barragem de dejetos de mineradora que vai espalhando lama e destruição. Porque quanto mais gente acreditar que todo político é igual, mais políticos ruins serão eleitos.
Os políticos não são todos iguais. Há Mario Covas e há Paulo Maluf. Há Franco Montoro e Eduardo Cunha. Há Ulysses Guimarães e Jáder Barbalho. Há, no mesmo Estado, Tancredo Neves e Newton Cardoso, Jarbas Vasconcelos e Severino Cavalcanti. Há Paulo Brossard e Fernando Collor de Mello. Há Arnaldo Madeira e Renan Calheiros.
As duplas de políticos que são extremamente diferentes uns dos outros poderiam continuar a ser citadas às dezenas.
Ainda nas duas últimas semanas, tivemos dois exemplos claríssimos, límpidos, fulgurantes de que há ótimos políticos neste país, neste momento, nesta era de trevas na política, na economia, na ética.
Na quinta-feira, 19 de novembro, a deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP) enfrentou com galhardia, beleza, coragem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que havia chefiado o vexaminoso ataque de sua tropa de choque para impedir os trabalhos da Comissão de Ética, que começaria a tratar da possibilidade de punição do peemedebista do Estado do Rio.
As palavras de Mara Gabrilli vão ficar na História:
“Eu sou a deputada que mais dificuldade tem para chegar às sessões da Câmara. Eu sou a deputada aqui que, com certeza, mas se esforça para chegar aqui e para estar aqui. Eu sou uma deputada, presidente, que procuro dar exemplo. Eu procuro dar exemplo de ética. Eu procuro dar exemplo de superação. Eu procuro dar exemplo de moral.
“Muitas vezes, senhor presidente, eu fico, ali, tremendo de frio. E mesmo, não tendo desconto do meu salário por estar na mesa, eu fico na sessão porque eu acho que eu tenho que dar exemplo para os brasileiros.
“Senhor presidente, eu sei que você nutre admiração por mim. Eu gosto do senhor. Mas gostar do senhor não me fez ficar decepcionada. Gostar do senhor não me fez perceber que o senhor nos chama de imbecis, muitas vezes. Eu peço para o senhor. O senhor tem que dar exemplo. O senhor não está dando exemplo. O senhor está perdendo a cada dia a legitimidade de presidir.
“Eu convido todos os deputados a saírem dessa sessão. O que o Felipe Bornier (PSD-RJ), o que esse deputado fez aqui não se faz. Você tem que revogar esse ato e valorizar a nossa comissão de ética.
“O senhor está com medo, senhor presidente? É isso o que está acontecendo? Eu convido todos os deputados a deixarem essa sessão. Pela ética e pela moral que nós temos que ter por essa Casa e pelo povo brasileiro que que nos trouxe aqui.
“Chega, senhor presidente. O senhor não consegue mais presidir. Levante dessa cadeira, Eduardo Cunha. Por favor”
O gesto e a fala da deputada Mara Gabrilli foram amplamente divulgados e reproduzidos pela imprensa. Maravilha: nada mais merecido
***
Na quarta-feira, dia 25 – o dia em que, pela primeira vez na História, foi preso um senador da República –, durante a sessão atribulada do Senado Federal em que se discutiu como seria feita a votação sobre a decisão do Supremo de mandar prender Delcídio Amaral (PT-MS), se secretamente, ou nominalmente, a senadora Rose de Freitas (PDMB-ES) deu outro show em defesa da ética.
E falou o que poucos parlamentares estão tendo a coragem de falar: que o Parlamento não tem cumprido com seus deveres.
Foi um discurso extraordinário, corajoso, forte, que mereceria ter grande destaque. Como aquele foi um dia atípico, histórico, com a prisão do senador, do banqueiro André Esteves e de outras pessoas, a fala da senadora acabou não tendo a repercussão que merecia.
Reproduzo aqui a íntegra do pronunciamento de Rose de Freitas, segundo as notas taquigráficas do Senado:
“Presidente, eu, por várias vezes, vim ao microfone, desejosa de falar alguma coisa.
Este dia é muito triste para nós – e aqui há poucos constituintes –, que escrevemos esta Constituição. V. Exª lembra o momento em que o Supremo invade o Senado Federal, usurpando as nossas atribuições, desrespeitando-nos.
“Eu quero dizer a V. Exª que a culpa de tudo está nesta Casa. Nós fomos cedendo espaço, deixando de cumprir as nossas funções, deixando que o Tribunal legislasse no nosso lugar, e agora o comportamento da classe política, nada parecido com o que vivemos lá atrás.
“Hoje, a todo momento, em qualquer lugar, sentado aqui, sentado ali, nós nos deparamos com alguém que está sendo indiciado, exatamente por usar o poder a seu favor ou de uma circunstância que lhe favoreça.
Eu quero dizer que não vou usar a palavra como gostaria, para relembrar os momentos mais gloriosos que esta Casa teve.
“O que fazemos agora, sem a menor preocupação de como sair dessa crise, sem a menor preocupação de como ajudar o povo brasileiro, votando quando achamos que devemos votar, empurrando a pauta prioritária quando achamos que queremos empurrar, nós estamos errados!
O que o Supremo faz quando decide pelo voto aberto também está criando uma rede de proteção para ele mesmo.
Eu li esses diálogos que aqui estão e quero dizer que considero isso aqui, Presidente, um flagrante. Não vou dizer crime inafiançável, mas é um crime.
‘Por que esta Casa, que recebe esses Parlamentares, que recebe o sagrado voto popular, que jura esta Constituição que eu ajudei a escrever, é capaz de se envolver em um episódio dessa natureza? Eu não vou dizer que tenho vergonha, porque sinto que estou procurando cumprir o meu dever, mas temos que rever tudo o que acontece nesta Casa.
“Esta Casa não tem como olhar no olho de um brasileiro, ainda que possa se destacar o trabalho de vários aqui, e podemos.
“Eu ouvi um Governador famoso deste Brasil dizer para os empresários, e ouço nesta Casa constantemente, que vamos sacrificar a classe política tão rechaçada pela população. Ninguém cuida de protegê-la com os atos, com as atitudes, com as decisões.
“Ouvi um Governador, este final de semana, no meu Estado, dizer – ele teria o meu voto para Presidente – que o Brasil não precisava de governantes; precisava apenas cuidar da terça, quarta, quinta-feira, aonde…
“Mas era a minha simpatia. Não vou dizer que estamos à procura de candidatos à Presidência da República. Isso nós não vamos dizer, porque temos lideranças sobrando neste País para administrá-lo.
Ele disse que não é tão importante um governante. É mais importante cuidar da terça, quarta e quinta-feira, quando a classe polícia se reúne em Brasília.
“Eu não tenho vergonha de ser política. Eu posso dizer que sinto uma imensa dor, um sofrimento pessoal quando vejo isso aqui, citando pessoas que na República têm papéis preponderantes, Vice-Presidente da República… Citando, citando. Se não for verdade, é uma leviandade imensurável.
“Por isso eu quero lembrar que assinei uma Constituição quando o PT se envergonhava dela, e não tenho carta pública nenhuma para assinar para o Delcídio. Eu acho que ele há de encontrar o momento de se defender. Neste momento, eu não posso fazer nada a não ser reconhecer que ele fez um flagrante que comprometeu esta Casa.”
01 de dezembro de 2015
Sérgio Vaz
Nenhum comentário:
Postar um comentário