"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

DEU TUDO ERRADO





Terminava a década de cinquenta e a União Soviética empolgava a Humanidade, em especial a juventude. Os russos haviam lançado o Sputnik, primeira espaçonave da História a circundar o planeta. Depois, Yuri Gagárin descobria  que a Terra era azul. Nikita  Kruschev prometia que em poucos anos o mundo seria todo socialista, enquanto os primeiros foguetes americanos explodiam a poucas centenas de  metros acima do solo. Entusiasmei-me, nos meus vinte anos, matriculando-me num curso de língua russa, idioma que em breve todos estariam falando.

Era repórter do Globo e passei a ser visto de viés por um dos irmãos Marinho, claro que não o dr. Roberto. Só que aquelas letras do alfabeto cirílico eram de tal maneira trocadas e confusas que não se passarem três meses até que desisti. Hoje, tantas  décadas depois, pergunto-me se não deveria ter estudado chinês, ainda que supondo o mesmo resultado…

Essa historinha se conta a propósito do governo Dilma. De uns dias para cá ela se tem empenhado numa maratona de otimismo ululante. Reúne os governadores, oferece jantares para os dirigentes e líderes dos partidos que a apoiam, despacha ministros para dialogar com deputados e senadores, mobiliza as forças sindicais e tenta, de todas as formas, injetar otimismo numa nação quase posta em frangalhos. Promete que em breve o crescimento econômico será retomado, que a volta da inflação é um pesadelo inconsequente e o desemprego, mera ilusão dos derrotistas.

LIMIAR DA FRUSTRAÇÃO

A presidente vive no limiar da frustração, sem percebê-lo, mas melhor que seja assim. Faria o quê, caso reconhecesse a derrota? Poderia precipitar a ebulição, antes que ela chegasse? Ou encontraria forças e bom senso para recomeçar no sentido oposto ao que vem percorrendo em sua bicicleta, de manhã bem cedo, ao pedalar pelos arredores do palácio da Alvorada, mais ou menos como um astronauta distribuindo bissextos acenos à garotada no rumo das escolas. 
Mais tarde, recebe ministros palacianos sem coragem de transmitir-lhe as más notícias do dia, para depois irritar-se com o noticiário dos jornais que teimam em desmentir suas previsões de um futuro brilhante para o país e seu governo. Vive a fantasia de estarmos apenas diante de dificuldades passageiras.

A gente se pergunta até onde irão os sonhos de Madame, se ela persiste em desmentir os postulados nos quais a população acreditou que cumpriria e por isso votou nela?  É claro que também foi enganada, ou enganou-se, em função de o PT faltar-lhe na essência de um projeto desfeito nas brumas da corrupção. Ou será que desde o início desacreditava na capacidade de os companheiros mudarem o Brasil? 
De qualquer forma, sem o apoio deles e sem apoiá-los, entregou-se nos braços daqueles que passou a juventude combatendo, até de armas na mão. Tornou-se campeã das privatizações, da livre competição entre quantidades desiguais, da redução de direitos trabalhistas, da compressão salarial das massas, do lucro dos bancos,  de maiores  benefícios aos privilegiados e da inação diante do desemprego.
O resultado não demora muito e não há mais cursos de russo para ninguém matricular-se…

03 de agosto de 2015
Carlos Chagas

Nenhum comentário:

Postar um comentário