"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

CRISE COM "Y"

Da primeira crise a gente nunca esquece. E, aos solavancos repetidos, todo mundo se acostuma. O par de frases resume a percepção de duas gerações que convivem no mundo corporativo deste Brasil em dificuldades econômicas. 
De um lado está o exército “X”, de profissionais forjados num país mergulhado na hiperinflação, na recessão e na escassez de vagas, no limiar dos anos 1990. 
No outro extremo, reside a juventude “Y”, que nunca recebeu salário em outra moeda, além do real, e floresceu num mercado de trabalho com ocupação e renda crescentes. 

A combinação nefasta de inflação em alta e atividade econômica fraquíssima tem assustado os novinhos. E também empregadores que, diante do cenário negativo, se livraram dos mais velhos para aumentar produtividade e, de quebra, desidratar custos com salários e benefícios.

O biênio 2014-2015 se desenha como o mais duro da economia brasileira em uma década e meia. É a medida de uma geração. O Produto Interno Bruto ficou estagnado no ano passado (+0,1%) e deve cair 1,35% neste, segundo projeções colhidas do mercado pelo Banco Central. 
Desde o período 1998-1999, com taxas de crescimento de 0,4% e 0,5%, respectivamente, o país não tinha dois anos seguidos de atividade tão fraca. A recessão de -0,2% em 2009, pós-crise dos EUA, ficou imprensada entre expansões de 5%, em 2008, e 7,6%, em 2010.

Com a inflação, o quadro é semelhante. O IPCA acumulado nos cinco primeiros meses deste ano, de 5,34%, só perde para o resultado de janeiro a maio de 2003, de 6,8%. A taxa em 2015, estimada em 8,79%, ficará bem próxima ao patamar de 12 anos atrás, 9,3%. 
O índice de desemprego voltou a subir, depois de cinco anos consecutivos em queda. Em cinco meses, 243 mil postos de trabalho com carteira assinada foram fechados no país. Sem falar nos recuos da produção industrial, das vendas do varejo, da demanda por crédito.

A geração “Y” está com dificuldades de lidar com o inédito ambiente adverso. “Jovens profissionais na faixa de 25 a 35 anos ascenderam a posições importantes nos anos de fartura. Agora, estão com profundas dificuldades para administrar a escassez. São pressionados a tomar decisões rápidas, mas não foram preparados para isso, nem na universidade nem nas empresas”, atesta Carla Gallo, especialista em gestão, que há 28 anos viaja o Brasil apresentando palestras comportamentais.


Muitas companhias, para responder à crise, optaram por demitir profissionais experientes e com salários maiores. Na reposição, privilegiaram funcionários mais jovens e baratos. Agora, estão descobrindo que carecem de agilidade para enfrentar a enxurrada de más notícias econômicas. 

Alguns antigos profissionais, calejados em conjuntura negativa, já estão sendo convocados como consultores para reforçar as fileiras. “Varejo, construção e tecnologia são setores muito afetados. Precisam fazer mais por menos, mas lideranças muito jovens são sabem como criar eficiência”, completa a consultora.

As estatísticas do IBGE não contêm análises sobre a substituição de mão de obra. Mas Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento, informa que, em 2015, já foi possível identificar aumento no total de autônomos e empregadores. São profissionais que, dispensados da vaga formal, estão se inserindo informalmente no mercado. 

Os trabalhadores com 50 anos ou mais de idade representam 9,5% dos desempregados. Eram 9,3% no ano passado e 6,6% em 2003.

22 de junho de 2015
Flávia Oliveira

Nenhum comentário:

Postar um comentário