"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

A MORAL E A ÉTICA NA PÁTRIA EDUCADORA




Sonhar não custa nada, diz um bonito samba-enredo. Diante de mais essa louvável iniciativa do Clube Militar, afugentei o ceticismo e cheguei a imaginar como seria importante uma adesão voluntária e espontânea das instituições e órgãos de formação de opinião deste país, cerrando fileiras nessa campanha que, tão somente, pretende jogar foco de luz sobre o entendimento da sociedade brasileira sobre moral e ética. Na realidade, um problema de governantes e governados que tornam sombrias as projeções sobre o futuro desta nação. E daí, vem um algum pessimismo.

Na proposição do tema, o clube lista uma série de desvios de comportamento com os quais, isoladamente ou em conjunto, deparamo-nos cotidianamente e que, muitos deles perigosamente, já estão incorporados ao perfil médio do cidadão brasileiro.

A palavra que se impõe, portanto, é mobilização.

O nosso Clube Militar, a Casa da República, faz sua parte. Mas, como a iniciativa da busca por soluções deveria pertencer aos governos, aos legisladores e à Justiça, facilmente chega-se ao diagnóstico: o Estado brasileiro, atavicamente, por omissão, incompetência ou interesses políticos, não se mostra capaz para intervir e modificar esse tenebroso quadro. Em consequência dos repetidos maus exemplos que nos oferecem autoridades, premiados na maioria das vezes com a impunidade, se instala na população um arriscado conformismo com o estado de coisas. As novas gerações e os mais carentes são os mais influenciados com esse “laissez-faire” oficial.

A reversão desse quadro é complexa e multidisciplinar. Não faz parte de meus propósitos, invadir esse terreno mais apropriado a historiadores, sociólogos, filósofos e outros profissionais da ciência humana. Não teria um mínimo de competência para tal.

Mas, muito cartesianamente, alinho-me aos que identificam, como a causa maior desse descalabro, a educação, ou a falta dela.

Sabemos que ética e moral são conceitos que possuem grande superfície de intercessão e que, por vezes se equivalem, embora a ética tenha mais a ver com o caráter, com as qualidades do indivíduo, e a moral com os costumes, o conjunto de normas aceitas pela sociedade.

Independente disso, ética e moral formam um grupo de regras e conhecimentos fáceis de serem desenvolvidos por duas basilares instituições na formação da cidadania, hoje tão enfraquecidas no Brasil: a família e a escola.

Se a virtude moral é consequência do hábito, segundo Aristóteles, onde mais buscar ambientes propícios para iniciar a verdadeira formação de um homem?

A evolução da humanidade gera, inevitavelmente, enormes conflitos entre a moral e interesses de toda a sorte. Particularmente nas elites. Isso fere gravemente a família e a escola.

Caberia aos governos protegê-las, blindá-las ou, no mínimo, amortecer as lesões que a racionalidade do progresso possa provocar na ética e na moral.

Mas isso só se alcança com medidas concretas de valorização do magistério; do ensino em todos os níveis, sobretudo o fundamental; no aparelhamento adequado do ambiente escolar. E não apenas com motes midiáticos, tipo: “Pátria Educadora”, cínico paliativo que debocha do mundo real.

Caberia, primordialmente, a proteção da família como célula virtuosa da sociedade, essa sim, educadora.

Dizia Immanuel Kant que duas coisas sempre novas e crescentes povoam a mente com admiração e respeito: o céu estrelado por cima e a moral dentro de nós. Estimulava assim o filósofo alemão que se buscassem permanentemente novos conceitos morais, assim como se buscavam novos corpos celestes no imensurável espaço cósmico.

Isso serve de argumentação de que os valores morais e éticos, em um mundo diversificado e multicultural, são adotados mediante entendimentos diferentes em distintas sociedades. Até mesmo o clássico maniqueísmo do certo-errado não escapa em um mundo submetido à contínua transformação. Esse dinamismo pode ser, de um modo geral, assimilável.

Por outro lado, considero serem a ética e a moral manifestações de padrões socialmente já consagrados pelo uso e que princípios como a honestidade, coragem, veracidade, integridade e outros são inalteráveis em qualquer grupo social.

Isso contempla esse tema com um elevado nível de complexidade, especialmente em se tratando de Brasil.

A realidade em que vivemos se confronta com os propósitos maiores da campanha proposta pelo Clube Militar. Teremos uma dura e longa batalha para estimular adesões.

Concluo esperançoso, por constatar que a nação ainda reage, com indignação e perplexidade, a uma onda de corrupção sem precedentes que parece obedecer a um sofisma tipo Robin Hood às avessas, ao tirar dos pobres para entregar a inescrupulosos empresários, agentes políticos e agremiações partidárias.

Mas, como em uma obra surreal e por lhe ser negada a necessária educação, esse mesmo segmento da sociedade, pobre e desassistido, ainda recompensa seus algozes, com agradecidos votos.

Um ciclo vicioso muito difícil de romper.  

Diante de um quadro desanimador de desvios éticos e morais, listados pelo clube ao levantar a questão, resta-nos a preocupante pergunta: como será o Brasil de meus netos?

E isso nos remete de pronto para buscar como romper esse processo as autoridades desse país, aquelas pessoas que são detentoras do poder, outorgado por nós leitores.

29 de maio de 2015
Paulo Frederico Soriano Dobbin é Vice-Almirante, presidente do Clube Naval.

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