"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 25 de janeiro de 2015

PONDERANDO IDEIAS NA ÁREA POLÍTICA E MILITAR



 
Primeira - Não vejo vantagem de qualquer espécie e nenhum sentido, em um general recém-nomeado comandante de uma força armada, de estabelecer, de pronto, posição contrária ao governo que o nomeou. Então, não aceitasse a indicação, recusasse a nomeação.

Neste caso, deve se supor que as desfeitas, humilhações e mesmo vilipêndios feitos à instituição devem ser assimilados pelo comandante nomeado, sem resgate do auto respeito perdido, na vã ilusão de que tais desvarios desmedidos não venham mais a acontecer. O que não deixa de ser um raciocínio temerário, se o governo é dominado por partido revanchista, constituído na sua maioria por verdadeiros algozes desta força armada, muitos antigos militantes de guerra subversiva que, uma vez derrotados, não escondem seu sentimento de vingança.

Segunda - Somente ao ocupar o cargo, o militar pode saber como conduzir-se. Entre inúmeros outros fatores, pesarão, em suas palavras, e em suas atitudes, a sua formação, suas experiências profissionais, sua experiência de vida, suas qualidades, suas características pessoais, os objetivos e a situação da Força, a conjuntura política nacional e a internacional.

Isto em uma situação e ambiente normais. Acontece que qualquer militar que ocupe o cargo nos próximos quatro anos vai ter que suportar governança que não é representante de um partido político democrata comum, mas, sim, de uma facção de esquerda revolucionária, atualmente muito bem assentada e bem sucedida na aplicação de estratégia de tomada e permanência no poder, que não esconde sua animosidade para com as FFAA.

Esta facção vermelha é liderada por quem, em tempos passados, integrava grupos terroristas responsáveis, entre outros desatinos, por eliminação de sentinelas em seus postos de serviço nos quartéis. O saber como conduzir-se, neste caso especial, não pode admitir qualquer falta de respeito/achincalhe à instituição armada, como só em ser nestes últimos 12 (doze) anos.

Terceira - Até hoje são debatidas, à exaustão, sem que se chegue à conclusão final, a posição, as atitudes, e as decisões - de fundo político - de inúmeros generais, entre eles, japoneses, norte-americanos, ingleses, franceses, alemães, russos, e brasileiros.


Existem máximas que, se não observadas por qualquer general, seja ele de que nacionalidade for, jogam na vala comum todo um passado de mais de 40 (quarenta) anos de serviço a seus países. Uma delas diz assim: -“Franqueza e coragem moral caminham juntas. A responsabilidade dos oficiais-generais, de último posto, na formação do processo político envolve uma franqueza absoluta.  Uma vez que uma decisão política final seja tomada, ele tem a obrigação de apoiar essa decisão como se ela fosse sua, com uma grande exceção: questões que envolvam os profundos princípios como - dever, honra e pátria - não podem se submeter a outros compromissos. (Tenente David A. Adams, Marinha dos EUA/CMG da Reserva Geraldo Luiz Miranda de Barros, da Marinha do Brasil- fonte R Paiva).

Uma outra reza: -“Oficiais- generais no último posto, com larga experiência e conhecimento profissional de nível estratégico não podem fazer vista grossa, uma vez dispondo de informações confiáveis, diante de políticas capazes de causar danos insuportáveis à nação e à instituição (Código de Honra Quatro Estrelas).  As situações e acontecimentos vivenciados, principalmente nestes últimos 12 (anos), estão repletos de circunstâncias que justificariam plenamente a observância destas máximas, como uma simples, honesta e patriótica decisão de caráter moral, e isto sem nenhuma quebra de disciplina ou da ordem constitucional.

Quarta - Os nossos ministros (o General Leônidas declarava, em público, que estávamos muito bem remunerados!) e comandantes do EB, em especial, os generais Zenildo, Gleuber e Albuquerque teriam acostumado "nossos" políticos, e a sociedade, ao longo de anos e anos, a não ouvir nenhuma opinião militar sobre assuntos da conjuntura nacional, fosse de que natureza fosse, militar, política, econômica ou psicossocial. Se, de repente, hoje, dermos uma simples opinião, sobre qualquer coisa de interesse nacional, seria um escândalo, motivo de estabelecer crise político-institucional. Eles criaram o "Grande Mudo".

Não teria sido isso um erro? Mas aconteceu, é um fato. Em verdade, há que se recomeçar a falar, opinar e a participar, efetivamente, da vida nacional, sem que se gere tal crise. Quanto ao soldo indecente de nossos capitães, tenentes e graduados, esta situação ainda vai perdurar por muito tempo, fruto da passividade de um alto comando que, sabendo da frivolidade em que são aumentados os salários da politicalha, não se impõe para que nossos oficiais e graduados disponham de justo sustento, compatível com o nível de suas tarefas funcionais.

Atenção! Problemas e vulnerabilidades, até hoje sem solução, não teriam sido gerados pela miopia estratégica de governantes e políticos, entre outros: a carência de poder de dissuasão nuclear para defesa das amazônias verde e azul (que se diga, não para usá-la, mas, tão somente, para afastar/desencorajar ameaças por parte dos grandes predadores militares); o franco e acelerado separatismo indígena, que se agrava a cada dia, ensejando o apelo/aplicação do “dever de proteger” pelos membros permanentes do CS/ONU; o atraso no desenvolvimento de vetores/foguetes de longo alcance, por incúria do governo Fernando Collor, etc., etc.

Quinta - O que se quer hoje? Derrubar o governo? Como justificar isso para os brasileiros? E os votos? O sistema eleitoral é corrupto? Há provas. Mas essa gente está sendo inteligentíssima. Não rasgam a Constituição, apenas, a arranham aqui e ali. Teríamos apoio popular suficiente? Tenho convicção de que não. Os ricos estão satisfeitos. Os pobres também. Não tenho nenhuma dúvida de que, pelo menos, 50% dos brasileiros são sem-caráter, corruptos, ladrões, todos dignamente representados por essa corja que muito bem reflete o eleitorado dela. Resta-nos ficar vigilantes. Continuar a vigília. Agir com mais inteligência que os bandidos. Esperar um golpe contrário, uma gota d'água? Talvez, pois até Gramsci tem limites...

Não se pensa em derrubar o governo, mas há que se preservar o respeito dele às FFAA, pela atitude intransigente de seus chefes na defesa do brio de suas Instituições.  Já está se tornando cansativo enumerar as situações em que o EB, a MB e a FAB foram tratados com desrespeito por políticos desqualificados, pela mídia e mesmo pela governança, sem nenhum protesto por quem de dever e direito. Isto já está se tornando contumaz: primeiro, pela falta de reação dos comandantes das Instituições Militares que, até sobejas provas em contrário, dão a ideiade que perderam a capacidade de se indignarem; segundo, pela falta de coragem do alto comando para, corajosamente e por lealdade, levarem a seus respectivos comandantes singulares, a necessidade de se pôr um fim a esse descalabro sem precedentes na história de nossas FFAA.

Que não se duvide, os 50% restantes, mais precisamente, aqueles do eleitorado anticomunopetista iriam apoiar este posicionamento mais do que justo.  Quanto a ficar na vigília, já se está na vigilância há bastante tempo, assistindo-se a estratégia gramscista ganhar força a cada instante, só que em absoluta apatia, vendo a banda passar e perdendo o bonde do bom combate.

Sexta - Se não se vai dar golpe hoje, como conviver com esses marginais inclusos? Entestando-os? Opondo-nos - como bons militares - sinceramente, diretamente? Onde chegaríamos? Trocando de comandante a cada dia, a cada um nomeado, mais outro nomeado? Até onde? E a tropa, enquanto isso, como ficaria? Estaríamos criando as "condições subjetivas", ou as "objetivas", da doutrina inimiga - que aqui para eles não deu certo - para derrubar a bandidagem, para retomarmos o poder?


Como conviver com a marginalidade inclusa, realmente, é difícil. A pergunta seria mais, ao invés de onde chegaríamos, aonde já chegamos?!  Parodiando, o General Marco Felício, meu comandante e líder inconteste nesta luta, que é de todos nós, eu diria que o novo comandante da Foça Terrestre cumprirá sua missão, e jamais será esquecido pelos soldados de Caxias, se não permitir mais que “a Instituição seja maculada, violentada e conspurcada por leniência, assumindo o compromisso de pensar, questionar, se importar e se manifestar, sempre, em defesa do Exército da Pátria, em todas as situações que exijam seu posicionamento”.

Que sejam nomeados inúmeros comandantes, mas, todos, comandantes na acepção do termo. O Exército não pode viver humilhado, engolindo sapos, preterido por uma ideia de continuidade/manutenção administrativa. Soldados ficam felizes a cada comandante que, de verdade, os comandem. Soldados perdem a fé em quem chefia por muito tempo, sem comandar e, muito menos, liderar.

Sétima - Eu não concordei, em tese, com muitas supostas decisões tomadas pelo comandante Enzo, mas não sei - ao certo - que fatores ele levou em consideração para tomá-las. Não lhe conheci o estudo das vantagens e das desvantagens em cada caso. Algo que nos repugna, como militares, no campo político pode ter-se de engolir. Sim: tudo tem limite. Mas o limite não parece ser uma linha, mas uma faixa... Por mais repugnante que isso nos pareça.

Não há como escapar, sempre me lembro do “meu velho”. Ele as vezes me lembrava de uma frase do Duque de La Rochefoucauld, me recordo apenas de parte dela: -“...por mais que a vida nos possa dar ou tirar, uma coisa é absolutamente indispensável, que o homem não perca a fé em si mesmo e que conserve a honra imaculada aos próprios olhos! ”  Sou de opinião que esta frase tem maior significado ainda quando o indivíduo é responsável pela manutenção incólume do nome intocável de uma Instituição Armada Nacional.

As ideias que serviram de base para minhas ponderações são as contidas em mensagem de um amigo que muito prezo, respeito e admiro, ele, como eu, profundamente angustiado com o momento lancinante que atravessa o País.

25 de janeiro de 2015
Paulo Ricardo da Rocha Paiva é Coronel de Infantaria e Estado-Maior, na reserva.

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