A formação de um clube fechado de empreiteiras, através do qual, em sintonia com diretores e gerentes da Petrobrás, eram combinados previamente a execução e os preços das obras, denúncia formulada à Operação Lava-Jato por Augusto de Mendonça Neto, executivo da Toyo Setal, provavelmente tornou-se o maior fator de prejuízo à economia nacional. O clube VIP, claro, contribuía para jogar os preços para cima. Reportagens de Rubens Valente, Folha de São Paulo, e de Cleide Carvalho e Renato Onofre, O Globo, edições de quinta-feira, dia 4, expõem com nitidez o esquema, através do qual de era abastecido o propinoduto e de seus ramais saiam as famosas comissões.
Estendeu-se por vários anos, o que dá bem ideia do enorme volume dos prejuízos financeiros causados à estatal. O clube reunia 14 empresas fixas e mais 6 lutando para nele ingressar. Seus representantes avaliavam as obras planejadas, indicavam suas respectivas preferências e combinavam os resultados das licitações.
Os preços, claro, sobretudo por incluírem as comissões, eram acentuadamente inflados. Uma onda enorme e incessante absorvendo recursos da economia brasileira. Esse compartilhamento revelado pelo executivo da Toyo Setal, através de O Globo e da FSP, sem dúvida é um dos principais fatores do crescimento da dívida interna do país.
AUMENTANDO A DÍVIDA
Dívida interna que, agora, segundo a decisão do Comitê de Política Econômica, teve sua rolagem elevada em mais de 0,5%. Meio ponto que aproximadamente corresponde a, no mínimo, 50 bilhões de reais por ano, tal a dimensão do endividamento, obtido pela colocação de Notas do Tesouro Nacional no mercado. Os bancos são os principais credores e, como tal, favorecidos pela elevação da taxa. Que, evidentemente, resulta da necessidade de maior captação de recursos financeiros. Pois ninguém eleva, sem motivo concreto, os juros que se propõe a pagar. Não faria sentido. Isso no plano legal.
Da mesma forma que, no plano ilegal, não seria lógico que empresas se reunissem previamente para combinar a execução de obras e a fixação de preços e não os elevassem ao máximo possível. Basta observar os saldos de contas que possuem no exterior os ex-dirigentes Paulo Roberto Costa e Pedro Arbusco. O primeiro ofereceu a devolução de 26 milhões de dólares. O segundo a repatriação de 97 milhões de dólares. Fortunas fabulosas confessadas por dois dos envolvidos na trama. Por quantas vezes tais valores deverão ser multiplicados para se chegar ao montante subtraindo durante vários anos?
COM CRACHÁ E TUDO O MAIS
Augusto Ribeiro Mendonça Neto narrou em detalhes as reuniões do clube, cujos locais variavam de uma para outra. Em todas elas, na porta, havia sempre alguém fornecendo um crachá para assegurar o acesso, como acontece atualmente nas empresas e órgãos públicos.
As empresas, acrescentou ele, definiam previamente os preços e depois os apresentavam à Petrobrás.
Um sistema acionado por uma engrenagem que se repetia. Mas um dia, a partir da operação Lava-Jato, o esquema veio à tona, ganhou as páginas dos jornais e revistas, as telas da televisão, passou a ter a opinião pública por testemunha, e explodiu.
As explosões do esquema ainda não se encerraram. Tanto assim que os seus estilhaços voam em várias direções.
07 de dezembro de 2014
Pedro do Coutto
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