"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 20 de setembro de 2014

OLAVO DE CARVALHO, OS URSOS E OS BUROCRATAS POLITICAMENTE CORRETOS



Olavo de Carvalho preparado para a grande caçada (Clique sobre a imagem para vê-la ampliada)
Olavo de Carvalho dispensa apresentações. Mas vamos lá. É um jornalista, ensaísta, filósofo, prolífico escritor e dos pouco polemistas brasileiros, já que a maioria dos "intelectuais" pátrios das novas gerações - com as exceções de sempre - compõem um legião de idiotas cujos cérebros foram avariados definitivamente pelo pensamento dito politicamente correto.

Feita essa digressão necessária, informo que o texto que segue abaixo é de Olavo de Carvalho e foi publicado em sua coluna no jornal Diário do Comércio de São Paulo. É uma narrativa deliciosa, contando sobre uma caça aos ursos pretos. Olavo vive há mais de uma década nos Estados Unidos.

Armados até os dentes (nos Estados Unidos qualquer pessoa pode comprar uma arma livremente no comércio) Olavo, seu filho e mais um amigo embrenharam-se nas matas do Tio Sam e já conseguiram detonar um uso preto, conforme a foto abaixo.

É claro que caçar ursos nos Estados Unidos em determinadas regiões é uma necessidade dada à perigosa proliferação desses bichos. Portanto, tudo sob controle governamental.

Neste texto Olavo de Carvalho se vale da própria aventura para tecer, de forma inteligente e bem humorada, uma crítica fulminante e mordaz à estupidez politicamente correta, principalmente no que diz respeito ao discurso ambientalista, recheado de falácias e contradições absurdas.

Olavo tem o dom de nunca jogar palavras fora. Tudo o que escreve é bem escrito e solidamente fundamentado. Nos seus escritos não se encontra uma linha desprovida de conteúdo. 

Gostei muito deste artigo. E ainda mais de suas postagens no Facebook que têm suscitado nesta sexta-feira um turbilhão de comentários. Claro, lá estão postando também os ecochatos, esses "amigos ursos". Leiam que vale a pena:
Olavo de Carvalho, de chapéu, com seu filho Pedro Carvalho e Sílvio Grimaldo. (Clique sobre a imagem para vê-la ampliada)
URSOS E BUROCRATAS
 
Meu plano, esta semana, era interromper a série de considerações deprimentes sobre a hedionda política nacional e mundial e oferecer aos leitores alguma coisa mais divertida. Tinha tudo para isso. Aos 67 anos, pela primeira vez na vida fiz uma viagem de recreio e estou em plena floresta do Maine, com meu filho Pedro e meu amigo Sílvio Grimaldo, caçando ursos pretos.
 
É uma região de beleza indescritível; os guias são pessoas gentilíssimas, de maneira que a gente se sente em família. O alojamento até parece um jogo de casinhas de brinquedo e a comida é de primeira ordem. Todo dia os guias nos levam por uma estrada de terra de onde partem as trilhas individuais que seguem pelo meio do mato até a cadeirinha onde nos encarapitamos para esperar o urso, atraído – espera-se – pela isca plantada num barril aberto.
 
Meu urso não deu ainda o ar da sua graça, especialmente porque ontem choveu um bocado e urso preto não gosta de chuva, mas vou continuar tentando. Levo uma Browning calibre 300 Winchester Magnum, suficiente para derrubar três ursos em fila, e minha pontaria não é de todo má.
 
Tinha uma boa oportunidade, portanto, para entreter os leitores com umas histórias de caçadas, mas, porca miséria, até aqui a maldita política globalista já chegou, firmemente decidida a estragar tudo e provar que "outro mundo é possível". É claro que é possível. Impossível será viver nele sem começar a pensar em suicídio aos trinta anos de idade. 
 
Será um mundo totalmente administrado, sem o mínimo espaço para a espontaneidade humana, onde o último arremedo de emoção consistirá em consumir drogas fornecidas pelo governo e praticar sexo industrializado. Traços desse mundo já se vêem por toda parte, exceto na Rússia, na China e nos países islâmicos, que preferem versões mais antiquadas do inferno.      
     
A situação por aqui é a seguinte. O Maine tem uns trinta mil ursos pretos. Para impedir que comam todos os bebês de alces, é preciso matar uns cinco mil por ano. As leis e regulamentos já complicaram a coisa de tal modo  que não se consegue matar nem a metade disso. Em resultado, a caçada de alces, antes um esporte popular, tornou-se privilégio de um punhado de ricaços, e mesmo estes têm de entrar numa loteria e esperar sua chance. 
 
A carne de alce é uma delícia, e no meu modesto entender é muito mais decente comer um bicho  perigoso que você mesmo matou com risco próprio do que devorar cinicamente uma vaca indefesa assassinada a marretadas na ponta de uma baia sem saída.
 
Mas agora a tal da Humane Society, uma organização gigantesca subsidiada por George Soros e outras criaturas adoráveis, inventou um referendo para proibir a caça com isca, com cachorros e com armadilha, restando só a chamada “still hunting”, que consiste em andar pelo mato até encontrar um urso, o que é quase impossível. 
 
Tom Hamilton, nosso guia, disse que em dez anos só viu assim um único urso, de longe. O urso preto não é metido a valentão como o grizly. É bicho arisco, que se esconde como um ladrão furtivo. Se o voto "Sim" vencer, a superpopulação de ursos vai acabar de vez com os alces, invadir o espaço humano e ameaçar os animais domésticos. Será o perfeito paraíso ecológico.
 
Durante milênios as comunidades humanas mantiveram-se a salvo de animais ferozes graças a um vasto círculo de proteção constituído de caçadores, guardas florestais, fazendeiros etc. É assim até hoje. O típico cidadão urbano dos nossos dias ignora a existência desse círculo e imagina que é simplesmente natural os bichos ficarem em paz no seu "habitat", como que obedientes a um imenso Registro Cósmico de Imóveis, só se tornando perigosos quando seu território é "invadido" por malvados seres humanos.
 
Isso é de uma estupidez monstruosa. O "habitat natural" de um urso ou de um lobo não é um lugar fixo: é onde ele encontra uma comida do seu agrado. Pode ser um galinheiro, uma fazenda de gado ou uma pequena cidade. Se ele não passa daí é porque alguém lhe deu um tiro. 
 
O idiota urbano, a milhares de milhas, intoxicado de maconha, tagarelice ideológica e programas de TV, acredita-se protegido pela gentileza das feras e pelo milagre do "equilíbrio ecológico". É preciso ser muito, muito burro para acreditar que, deixada a si mesma, ou mantida como um santuário inviolável pelos cultores do animalismo, a Mãe Natureza resolverá tudo na mais perfeita harmonia. 
 
Essa gentil progenitora já liquidou mais espécies animais do que toda a humanidade caçadora reunida. De todos os fatores naturais, o homem é o menos mortífero. É aliás o único que se preocupa em preservar as outras espécies. Nenhum tigre faz passeata de protesto quando um de seus parentes come quatrocentos indianos pobres e desarmados. Nenhum grizly publica editoriais indignados quando um da sua espécie mata dezenas de filhotes, fêmeas e ursos mais fracos.
 
Não por coincidência, todo o movimento pela proteção às espécies animais foi uma invenção de caçadores, como Theodore Roosevelt nos EUA e Jim Corbett na Índia. Caçadores sabem o que é bom para os animais, para os seres humanos e para a convivência razoável entre as espécies. Políticos e intelectuais iluminados só pensam em si mesmos e inventam os mais belos pretextos para mandar em tudo.
 
Façam as contas. No Maine, onde a caça aos ursos ainda é um hábito comum, acontecem quarenta – sim, quarenta – vezes menos situações de risco entre ursos e pessoas do que em Connecticut, onde a caça é totalmente proibida e existem apenas 450 ursos em vez dos trinta mil do Maine. Quem protege melhor a população humana e animal? Os caçadores ou o governo?
P.S. – Meu amigo Sílvio matou seu urso na quarta-feira. O meu e o do Pedro não deram as caras ainda. Na foto da página não apareço com a minha Browning, mas com a CZ 550 que emprestei ao Sílvio.
 
20 de setembro de 2014
Olavo de Carvalho

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