"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

UMA COPA PARA O ELEITOR NÃO ESQUECER


O padrão Fifa e o padrão Dilma

Os analistas que dizem que a Copa do Mundo não vai interferir nas eleições, usando como parâmetro outras edições em que o Brasil foi campeão (ou derrotado) e a oposição (ou situação) saiu vitoriosa, estão equivocados ou usando de esperteza.

Os espertos escondem que o país passou sete anos preparando o evento e que, ao seu final, o legado é praticamente zero. Os equivocados esquecem os protestos de junho de 2013 e as demandas dos brasileiros que foram às ruas reclamar do inexistente padrão Fifa na saúde, na educação, na segurança.

A prometida mudança na mobilidade das cidades, os projetados ganhos econômicos fantásticos, a invasão de turistas com os bolsos recheados de dólares e euros, nada disso aconteceu. Obras foram canceladas, ficaram inacabadas ou até mesmo desabaram em função de projetos mal feitos e da pressa política.

Em plena Copa, o PIB passou a ter seu crescimento projetado para pouco mais de 1%, contrariando as mentiras espalhadas ao longo dos anos sobre os ganhos bilionários do evento. Os turistas vieram em maior número da América Latina e foram dormir nas praias, nas rodoviárias, nos sambódromos e se alimentar nos restaurantes populares. As cidades tiveram que decretar feriados para que o trânsito permitisse o acesso dos torcedores aos estádios, com duras perdas para o comércio, indústria e serviços não impactados diretamente pela festa do futebol.

O país desembolsou R$ 30 bilhões e a Copa das Copas custou três vezes mais do que aquela realizada quatro anos atrás na África do Sul. O governo e seus apoiadores, de forma ufanista, ressaltam que não houve problema algum de organização. Deveriam apontar que nunca houve problemas graves de organização em outras edições, em outros países. Depois que a bola rola, o eficiente esquema de marketing da Fifa, com as fan fests, bem como o esforço dos patrocinadores, transformam tudo em festa, ao som de vuvuzelas ou de tamborins. 

Não há mérito algum do governo em fazer trinta dias darem certos, quando todos envolvidos querem apenas festejar, celebrar, torcer e se divertir. E quando foram investidos estrondosos R$ 2 bilhões apenas em segurança.

Da mesma forma, não há comparação entre o maracanazo e o mineirazo. A derrota de 50 nos pegou sem nenhum título mundial, no jogo final, onde uma única falha destruiu o sonho de milhões com os ouvidos grudados no rádio, reféns de locutores chorando pela derrota.

A perda de agora atinge um país que tem cinco estrelas no peito, representada por uma seleção de alienígenas e cem por cento coberta pela TV, o que permitiu que o drama fosse sentido no mesmo e exato momento por todo o povo brasileiro. Sem contar com a interatividade e intensidade das redes sociais, que permitiram a catarse coletiva em tempo real. A ressaca da goleada e do vexame passará rápido, uma vitória contra a Holanda no próximo sábado já ajudará a lavar a honra manchada naquele trágico oito de outubro, diante da Alemanha.

O que não será esquecido, se a oposição cumprir o seu papel, é a absoluta falta do prometido legado, que retribuiria tanto dinheiro gasto, subtraído das escolas, hospitais e presídios que deixaram de ser construídos. Quando os refletores dos estádios forem apagados, teremos vários elefantes brancos sem nenhuma utilidade, que consumiram bilhões de reais que jamais serão pagos, pois os clubes ou governos são devedores do fisco ou estão no limite da irresponsabilidade fiscal.

Se algum jornalista mais investigativo entrar hoje, neste momento, nas arenas de Manaus ou de Cuiabá, já verá o abandono a que estão submetidos, uma semana após receberem meia dúzia jogos da Copa. Sem falar no superfaturamento de R$ 400 milhões que o TCE do Distrito Federal apurou na construção petista do estádio Mané Garrincha.

O que deve ser cobrado com veemência e inclemência da presidente da República é a Copa do Mundo que não aconteceu. A Copa dos viadutos. A Copa dos VLTs. A Copa dos metrôs. A Copa da sustentabilidade. A Copa da transparência. A Copa dos ganhos econômicos. Se isto for feito como deve, pois os bilhões consumidos saíram dos cofres públicos e foram subtraídos de outras prioridades, a Copa terá, sim, um efeito devastador nas eleições de outubro.

A Copa do campo foi o que foi. Esta passou. Esta não tem mais a mínima importância. A Copa fora dele nos legou, em pleno dia da eliminação, o estouro da meta da inflação, que chegou a 6,52% porque os custos de transporte e hospedagem subiram para a estratosfera em função do evento. Que a oposição cumpra o seu papel e responsabilize a Dilma, não o Felipão. 

11 de julho de 2014
in coroneLeaks

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