"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

SOBRE LOBOS E CORDEIROS


 
Frederic Nietzsche foi o último grande crítico do cristianismo. Depois dele, os intelectuais seculares não tiveram escolha senão a de refazer com outras palavras os questionamentos e críticas do filósofo alemão.
 
Niet falava da perspectiva de um ateu sem o otimismo infantil que nos assola. Ele sabia que, se Deus não existe, não há salvação possível para o homem. Todas as ideologias, utopias e filosofias são meras ilusões e funcionam como válvulas de escape.
O que sobrou da crítica ao cristianismo no ano de 2014? Sobraram apenas papagaios de Richard Dawkins nas redes sociais e adolescentes fascinados com o Discovery Channel perturbando seus parentes em almoços familiares, brandindo dados equivocados da arqueologia.
 
Sinto falta dos ateus clássicos, pessimistas, que não faziam concessões ao otimismo sem escrúpulos ou às ilusões medíocres dos que pretendem brincar de Deus. Infelizmente, muita gente que acredita em Deus adere a esse tipo de otimismo inescrupuloso que Niet rejeitava.
 
São crentes que acreditam que somos capazes de construir o Paraíso terrestre e mais: nos dizem que quem pensa o contrário é reacionário, fundamentalista, direitista, etc. Ora, temos aqui um seqüestro da fé para fins ideológicos. Deus existe só pra permitir que façamos do mundo o que quisermos.

Nossas “referências”

Há muitos tipos de babelianos – progressistas que querem tomar o lugar de Deus para “corrigir” os homens – entre nós. E o pior: eles têm notável influência na mídia dita gospel.
Em recente matéria de capa, a revista “Cristianismo Hoje” apresentou como formador de opinião no meio evangélico um sujeito que até então não havia merecido minha atenção, que edita um site gospel que é uma espécie de versão (mais vulgar e intelectualmente empobrecida) do antigo Pasquim.
 
Salta aos olhos o seu palavreado chulo e suas simplificações. Não por acaso, ele se comunica por meio de montagens, fotos-legenda e outros recursos disponíveis às crianças no Photoshop. Pensei que Caio Fábio era o fundo do poço. Fui otimista. Há um mundo novo, lá embaixo, depois de Caio.
 
Ele ganhou da revista um destaque positivo. Saiu-se bem como paladino da ortodoxia ao reclamar da disseminação das heresias nas redes sociais. Uma consulta ao seu site, contudo, revela um universo rico em heresias para todos os gostos – desde que você seja um herege chique, entenda-me, nada de bizarrices neopentecostais: isso é démodé.
 
Por outro lado, “Cristianismo Hoje” fala da “mensagem radical” de Julio Severo. “Ninguém conhece seu verdadeiro nome, como se sustenta e como vive sua fé. A pregação furiosa contra o homossexualismo já lhe rendeu diversos problemas”.

Uma breve pausa para vomitar

Voltamos aos trabalhos. A mensagem da Cruz é radical. Nas entrelinhas, o autor da matéria de capa da CH dá a entender “radical” é algo pejorativo. Christopher Hitchens explica, em “Cartas a um jovem contestador,” que o termo radical refere-se à raiz, alguém ou uma ideia que se volta para sua origem.
 
Nota mental: comprar um dicionário e enviar aos editores de Cristianismo Hoje.
Em seguida, a revista convoca o editor da versão intelectualmente empobrecida do Pasquim para dizer que Severo não existe – em outras palavras, claro. “Ninguém sabe, ninguém viu”, conta o sujeito. Julio Severo é conhecido de muita gente em Brasília e em São Paulo. E no resto do Brasil.
 
Já o tal “formador de opinião” da CH é um ilustre desconhecido. Tomei um Engov e fui pesquisar nosso formador de opinião no Google. O sujeito é uma espécie de calvinista de esquerda. Detalhe: já se reportou ao “radical” Julio Severo com palavrões que fariam corar os leitores de Pasquim.
 
Julio Severo já foi atacado duramente pelo “calvinista de esquerda” que não economiza nos xingamentos e obscenidades em seus surtos de vulgaridade disfarçada de crítica. Duas hipóteses: os editores da CH sabiam disso e por isso o chamaram para a entrevista ou não sabiam e precisam pesquisar mais seus entrevistados.
 
Li alguns dos textos do sujeito. O palavreado chulo e os xingamentos me remeteram aos tempos de colégio, quando testemunhava um festival de brutalidades na hora do recreio.
Se Julio é “fundamentalista”, os seus detratores protestantes são moleques ginasiais que passaram dos 40 anos sem, contudo, adquirir o bom senso que se espera de adultos.
Não conheço outro evangélico que tenha tido a coragem e a persistência de Julio Severo para enfrentar, de um lado, a perseguição estatal e, de outro, as ameaças dos fascistas “do bem”. Se isso é ser radical, graças a Deus pelo radicalismo.
 
Quando os cordeiros são confundidos com lobos, por força da lógica, os lobos são confundidos com cordeiros. São duas confusões distintas: no primeiro caso, pensamos que os verdadeiros cordeiros são impostores; no segundo, que os lobos impostores são os verdadeiros cordeiros.
Mais do que nunca, precisamos saber a diferença.
 
03 de julho de 2014
Thiago Cortês
Fonte: GospelMais

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