"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 7 de junho de 2014

UM PAÍS BOM PRA CACHORRO

Artigos - Governo do PT

A presidente Dilma disse na segunda-feira passada, em resposta às críticas feitas por Ronaldo “Fenômeno”, que “não temos complexo de vira-latas”. Os inimigos do governo estão dizendo que esse discurso foi cachorrada, mas ela falou sério — e dou razão.

Esse tal complexo poderia ser verdadeiro no passado, quando Nelson Rodrigues cunhou a expressão, rosnando e espumando em seu reacionarismo. Mas agora perdeu o sentido, caiu em desuso, os tempos são outros.

Nosso país está diferente. Vejam essas bandeirolas tremulando. É a Copa das Copas, e o tal complexo de vira-latas deixamos lá atrás, quando perdemos em casa. Dessa vez, em casa, só ganhamos porque ninguém vai levar estádio e aeroporto na mala — até porque nem ficou pronto.

Ter Copa em casa nos livra desse sentimento canino de inferioridade em relação ao resto do mundo. Alguns cães até ladram, mas a Copa não vai parar. O brasileiro aguarda o início dos jogos com a língua de fora, vendo pingar na máquina o caldo quente da propaganda. Está embriagado em sua paixão natural — e legítima, diga-se — pelo esporte. Pega a bolinha, pega.

Mas, roendo a outra ponta do osso, e sem querer ser hidrófobo, vemos algumas estatísticas que teimam em demonstrar, com o peso asfixiante dos números, que a propaganda ufanista apelando ao nosso orgulho é latido oco: o cidadão comum que vive no Brasil está mesmo revirando lixo, mesmo que não queira se enxergar dessa forma.

Ora, como péssimos cãezinhos amestrados, estamos, por diversos anos consecutivos, nos últimos lugares em rankings que medem a educação. O governo consegue gastar 280 bilhões sem ter uma única universidade entre as cem melhores do mundo.

Estamos na coleira quando o assunto é liberdade econômica. Somos o 114º país num total de 178, perdendo para o Quênia, Tunísia, Camboja, Tanzânia e Gabão. E se continuarmos em queda, não demora a chegarmos à categoria em que se enquadram, pela ordem, Coréia do Norte, Cuba, Zimbábue, Venezuela e Irã, campeões de repressão econômica.

No índice de desenvolvimento humano ocupamos a 85º posição entre 186 países. Isso significa que não somos os mais judiados de todos os cães, mas ainda estamos na rabada, e melhorando pouco.
Somos tosados em nossa liberdade de imprensa, ocupando a 108ª posição entre 179 países, e caindo! A cada oito dias é registrada uma violação grave à liberdade de expressão no país.

O Brasil é o primeiro dos dez destinos mais perigosos para um turista. Batemos o nosso próprio recorde de homicídios e temos um número absoluto de 56.337 mortes violentas por ano. Quem mora em Trinidad e Tobago, Angola, Quênia, Uganda, Congo, e Ruanda está mais seguro do que você neste momento. De fato, ninguém sai hoje de casa numa cidade brasileira sem o rabo entre as pernas.
Se quiser mais sarna para se coçar, confira os índices de percepção da corrupção,saneamento, saúde, impostos, suicídio e pedofilia.

Estou de acordo, presidente: não temos complexo de vira-latas. Ou, pelo menos, não temos mais o direito à ilusão de nos imaginarmos inferiores ao resto do mundo. Nós já chegamos lá, na maior parte dos casos. Não é mais um complexo, é algo passível de demonstração estatística, e por diversos ângulos.
Mundo cão.

07 de junho de 2014
Márcio Santana Sobrinho é jornalista.

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