"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 7 de junho de 2014

PROCESSO DE PAZ, UM MITO QUE DESMORONA

O que há hoje não é um processo de paz. Fomos de uma situação de retirada das guerrilhas, em 2010, a uma situação de ofensiva delas em todos os terrenos.

Se dermos crédito a Juan Manuel Santos, ele é o presidente-candidato da paz e do processo de paz. Sobretudo do processo de paz. Pois como não temos paz, ao menos um processo de paz temos. E esse “processo” deve ser apoiado, pois não haveria outra saída. Conclusão: é necessário re-eleger Santos para que a Colômbia consiga a paz com os bandos narcoterroristas.

Se examinamos essa proposição veremos que estamos ante um enorme sofisma.
O que é um “processo”? É a sucessão de ações cuja intenção é conseguir um resultado. É uma série ordenada de operações destinadas a alcançar um objetivo. É um processo, se parte de um ponto para chegar a outro, de uma situação dada para chegar a outra diferente. É um processo de paz, se parte de uma situação de guerra para chegar a uma situação de paz.

O que temos hoje não é um processo de paz. Não avançamos sequer de uma fase de confrontação para uma fase de apaziguamento. Estamos vivendo o contrário: passamos de uma situação de retirada de tropa dos agressores e avançamos para um agravamento da guerra e do potencial político dos agressores.

Houve sim um processo de paz durante os oito anos de governo do presidente Álvaro Uribe Vélez (2002-2010). De uma guerra assimétrica, com milhares de assaltos e com três mil seqüestrados ao ano, incluindo a entrega às FARC, durante o governo anterior, de um território desmilitarizado de 42 mil quilômetros quadrados, para montar em novembro de 1998 uma negociação de paz que as FARC transformaram em paródia, chegou-se, em 2010, a uma marginalização das FARC, à desmobilização dos paramilitares, à reconquista do território e a uma destruição parcial da direção terrorista. Tudo isso sem dialogar um minuto com a força depredadora marxista. Esse sim, foi um processo de paz, pois partiu de um ponto de guerra e devastação social gravíssimo e conseguiu-se uma derrota importante dos violentos.

Juan Manuel Santos encontrou o país nesse estado, em agosto de 2010. Desde esse momento, ele fez um caminho inverso: avançou para o fortalecimento dos violentos e de seus planos de conquista do poder, ponto culminante da guerra.

O que há hoje não é um processo de paz. Fomos de uma situação de retirada das guerrilhas, em 2010, a uma situação de ofensiva delas em todos os terrenos. Elas aumentaram seus horríveis assassinatos - o que eles chamam “luta incorruptível” cujo mais recente exemplo foi recorrer ao uso de meninos-bomba contra fardados -, e puderam implementar, com a ajuda de Santos, uma ofensiva político-diplomática cujo objetivo é a tomada do poder, fazendo o país acreditar que isso desembocará “na paz”. O que vivemos, na realidade, é um processo de agudização da guerra.

Santos, por isso, é o candidato da guerra e da ruína de uma civilização, a nossa. Jamais um presidente colombiano havia se empenhado em alcançar um objetivo tão ignóbil como esse.
O processo de guerra vai aumentando, dirige-se ao seu apogeu. A nova etapa adota uma forma política mais que militar. A forma política é mil vezes mais perigosa que a guerra.

Santos quer ser re-eleito para entronizar as FARC no Estado e na sociedade. A negociação secreta de hoje procura que os colombianos aceitemos que as FARC tenham um nicho de impunidade e de atuação “normal” nas cidades e no campo, nicho que será ampliado à medida que a intimidação e a desproteção das pessoas aumente.
Por isso é necessário desorganizar a força pública. Até ficar com todo o país. Essa transição para o socialismo do século XXI - pois essa é a meta dos terroristas -, que se está experimentando na Colômbia, onde a primeira coisa é acabar com a discordância e a liberdade de expressão, servirá de guia para fazer o mesmo nos países que não caíram ainda no abismo: Chile, Peru, Brasil, México, América Central. Aqui na Colômbia se poderia estar brincando com a sorte das sociedades abertas latino-americanas.

Esse plano macro exige que Santos seja re-eleito. Porém, o papel de Santos será provisório. Ele será jogado fora como um limão espremido, como sempre fizeram os comunistas com os liberais que os ajudaram a tomar o poder. Ocorreu em Cuba (com os senhores Urrutia e Miró Cardona), como ocorreu na Espanha durante a guerra civil, como ocorreu na Checoslováquia antes do Golpe de Praga. Mas Santos poderá ir viver em Londres. Os colombianos ficarão em seus lares para viver o pesadelo.

Quando acreditamos ver que há um “processo de paz” na Colômbia, estamos adotando a linguagem das FARC e de sua visão enfermiça. Stalin falava de paz enquanto esmagava os povos do Leste Europeu com o Exército Vermelho. O que as FARC planejam, com ajuda das ditaduras de Cuba, Venezuela, Equador e Nicarágua, é a ocupação durável da Colômbia. Timochenko acaba de dizê-lo. E disse mascarando seu pensamento e empregando frases de falso lirismo. Quem se dê ao trabalho de traduzir suas palavras, de tirá-las de seu contexto marxista, verá isso sem dificuldade.

O maior êxito das FARC nestes últimos quatro anos é ter feito o país acreditar que estávamos avançando para a paz. E que o auge das atrocidades e das ambições políticas das FARC não eram senão um “dano colateral” do magnífico processo de paz. Os milhares de civis, militares e policiais mortos, feridos e mutilados nestes anos de diálogos em Havana é, para elas, uma sangria sem importância. Exigem-nos que a comparemos com o futuro luminoso que o socialismo do século XXI oferecerá.
A esse subterfúgio, a essa inversão da realidade, Santos contribui a fundo.

Como foi possível, então, que cinco milhões 760 mil eleitores, dos 12 milhões que votaram em 25 de maio passado, o fizeram por dois candidatos que não validam o processo de paz santista? Todos são “fascistas”? Os que votaram em Oscar Iván Zuluaga e Marta Lucía Ramírez mostraram que se haviam libertado dessa grande mentira. O acordo que esses dois líderes firmaram ontem, onde anunciam que respeitarão um processo de paz que não se faça “pelas costas do país”, e que ofereça “avanços tangíveis”, é a confirmação do fracasso do modelo santista de negociar o destino do país pelas costas do povo. Dessa forma, Oscar Iván Zuluaga e seus aliados poderão fazer com que esse processo caminhe sobre os pés e não sobre a cabeça.

É necessário conseguir que os abstencionistas e os votantes dos outros partidos vejam essa importante diferença, exijam um processo de paz ante o povo, “de frente para o país”, como dizem Oscar Iván Zuluaga e Marta Lucía Ramírez, com a cessação das ações criminosas e verificável, e votem em conseqüência. O verdadeiro campo da paz é o de Oscar Iván Zuluaga.

Os intelectuais que apóiam o atual processo de paz deveriam ler, antes que se feche a cortina, o que escreveram Soljénitsyn, Grossman, Koestler, Yakovlev e outros, sobre o que os comunistas fazem com a inteligência e com o povo em geral. Os que acreditam que Timochenko será um perfeito democrata amanhã e  que os intelectuais jogarão um papel na “construção da utopia”, que leiam o que escreveram Herberto Padilla, Reinaldo Arenas, Guillermo Cabrera Infante, Armando Valladares, Zoe Valdés e Jacobo Machover, sobre a sorte que o castrismo reserva a seus pares.

Eduardo Mackenzie
07 de junho de 2014
Tradução: Graça Salgueiro

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