O novo ordenamento dos mercados financeiro e de capitais, iniciado em 1964, é um registro importante da história econômica brasileira. Este período é marcado pelos altos e baixos das políticas de governo com relação ao papel do mercado de capitais no desenvolvimento econômico e social do país. Meio século depois, contudo, governos e a grande maioria dos brasileiros preferem encarar a bolsa como um “cassino” comandado por corretores e especuladores que sempre levam vantagem sobre os investidores.
Antes da crise financeira global de setembro de 2008, o Brasil foi elevado à condição de grau de investimento pelas agências internacionais de rating, e o termômetro do mercado atingiu seu maior índice, com o Ibovespa a 73.500 pontos, em maio daquele ano. Mas, a partir da crise, o governo Lula optou por uma política de aumento de consumo e direcionamento do financiamento das empresas pelos bancos oficiais, abandonando uma parceria público-privada de sucesso no desenvolvimento do mercado.
O resultado dessa alternância da politica governamental nos últimos 50 anos é um mercado de capitais que tem pouco motivo de otimismo. São não muito mais de 350 empresas listadas em bolsa, num total de mais de cinco milhões de empresas em todo o país, pouco mais de 500 mil investidores numa população de 200 milhões, cerca de cinco mil corretores e agentes autônomos de investimento no mercado de capitais, que se comparam aos 250 mil corretores de imóveis e cerca de 75 mil corretores de seguros, além de uma poupança previdenciária que mal atinge 20% do PIB — quando nos Estados Unidos ultrapassa os 100%.
A situação do mercado agravou-se nos últimos anos com uma destruição de valor da Petrobras “nunca antes vista na História do Brasil”, fruto de uma combinação de fatores: mudança do modelo de exploração do petróleo, política de preços subsidiados de seus produtos e péssima gestão da empresa.
Consciente do papel do mercado de capitais como fundamental para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, o Instituto Ibmec, com apoio de entidades regionais e nacionais, lançou a Estratégia Nacional de Acesso ao Mercado de Capitais. O objetivo é claro: ampliar de forma contínua e consistente o número de poupadores, investidores, empreendedores, empresários e corretores.
Acreditamos que a mesma mudança ocorrida pouco mais de 30 anos após a Segunda Guerra Mundial na economia americana — em que “o que era bom para General Motors era bom para os Estados Unidos”, se transformou numa política de que “o que é bom para as pequenas e médias empresas é bom para o país”, que resultou, a partir da década de 1980, no crescimento de companhias da Nova Economia como Microsoft, Intel, Apple, Home Depot e Ebay — poderá se repetir no Brasil.
Para tanto, porém, será fundamental o desenvolvimento das pequenas e médias empresas, responsáveis pela geração de inovação e de empregos, apoiadas pelo mercado de capitais e com recursos dos fundos de capital de risco.
Thomas Tosta de Sá é Superintendente do Instituto Ibmec e foi presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
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