O pacote de salvação da lavoura - melhor, do setor elétrico nacional - chegou tarde, com caráter provisório e acovardado diante da proximidade das eleições. As fragilidades não são de hoje, assim como é de passado remoto a urgência de resposta definitiva para a crise, que avança celeremente.
Não bastasse o descompasso entre a infraestrutura disponível (por pura incompetência no investimento dos recursos públicos) e as necessidades nacionais, agora é crescente o risco de colapso financeiro das distribuidoras de eletricidade. Isso, numa conjuntura agravada pelo pior regime de chuvas em décadas.
Pois é nesse quadro preocupante que o governo cede a interesses eleitorais e deixa para o próximo ano - portanto, para bem depois de o brasileiro depositar seus votos na urna, quando os eleitos já estiverem firmes nos cargos - a maior parte do aumento da conta de luz decidida na última semana.
Mais: nem se fala em medida desgastante como o racionamento de energia. Tampouco se apela ao consumidor para que gaste menos, embora a economia popular, mesmo voluntária, incentivada por campanhas educativas, possa significar importante contribuição.
Até parece que a escuridão chegou antes para as autoridades, que não viram a ficha cair. Com o quadro hidrológico adverso, o apelo às termelétricas, poluentes e caras, foi a saída previsível.
Mas o tempo passou, o rombo aumentou e o uso prolongado das usinas - que não foram projetadas para funcionar de forma ininterrupta por prazos longos, devendo ser paradas para manutenção - começa a dar problemas, como a perda de eficiência. Diversas unidades já não conseguem gerar a energia programada. Ou seja, é o esgotamento da alternativa B, sem volta segura para a A.
Não bastasse, busca-se saída pela tangente. É o prescrito no tal pacote, anunciado quinta-feira. Na emergência, destinaram-se mais R$ 12 bilhões para o setor. Como parte será bancada pelo Tesouro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipou que a compensação virá, entre outras fontes, na forma de "aumentos programados de alguns impostos".
A conta de luz também subirá. A questão é: ou estanca-se de vez a sangria, ou o buraco não terá fundo e o consumidor terminará sendo convocado a assumir os gastos extras quantas vezes forem necessárias.
Lembre-se de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, prometeu baratear as tarifas, preços que, na verdade, vêm sendo represados artificialmente (pagando menos, o consumidor gasta mais), por motivos políticos e para conter a inflação.
Lembre-se, ainda, de que a mandatária chegou aonde está carimbada pelo marketing político como gestora eficiente advinda justamente da área energética.
Essa luz já se apagou. Resta saber se aquela ainda visível no fim do túnel, brilhando tênue nas eleições de outubro, permanecerá acesa ou sucumbirá diante das manobras eleitoreiras que elegem a maquiação em detrimento da solução. É preciso ter coragem para enfrentar e mudar de vez o panorama do setor elétrico.
16 de março de 2014
Editorial Correio Braziliense
Não bastasse o descompasso entre a infraestrutura disponível (por pura incompetência no investimento dos recursos públicos) e as necessidades nacionais, agora é crescente o risco de colapso financeiro das distribuidoras de eletricidade. Isso, numa conjuntura agravada pelo pior regime de chuvas em décadas.
Pois é nesse quadro preocupante que o governo cede a interesses eleitorais e deixa para o próximo ano - portanto, para bem depois de o brasileiro depositar seus votos na urna, quando os eleitos já estiverem firmes nos cargos - a maior parte do aumento da conta de luz decidida na última semana.
Mais: nem se fala em medida desgastante como o racionamento de energia. Tampouco se apela ao consumidor para que gaste menos, embora a economia popular, mesmo voluntária, incentivada por campanhas educativas, possa significar importante contribuição.
Até parece que a escuridão chegou antes para as autoridades, que não viram a ficha cair. Com o quadro hidrológico adverso, o apelo às termelétricas, poluentes e caras, foi a saída previsível.
Mas o tempo passou, o rombo aumentou e o uso prolongado das usinas - que não foram projetadas para funcionar de forma ininterrupta por prazos longos, devendo ser paradas para manutenção - começa a dar problemas, como a perda de eficiência. Diversas unidades já não conseguem gerar a energia programada. Ou seja, é o esgotamento da alternativa B, sem volta segura para a A.
Não bastasse, busca-se saída pela tangente. É o prescrito no tal pacote, anunciado quinta-feira. Na emergência, destinaram-se mais R$ 12 bilhões para o setor. Como parte será bancada pelo Tesouro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, antecipou que a compensação virá, entre outras fontes, na forma de "aumentos programados de alguns impostos".
A conta de luz também subirá. A questão é: ou estanca-se de vez a sangria, ou o buraco não terá fundo e o consumidor terminará sendo convocado a assumir os gastos extras quantas vezes forem necessárias.
Lembre-se de que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, prometeu baratear as tarifas, preços que, na verdade, vêm sendo represados artificialmente (pagando menos, o consumidor gasta mais), por motivos políticos e para conter a inflação.
Lembre-se, ainda, de que a mandatária chegou aonde está carimbada pelo marketing político como gestora eficiente advinda justamente da área energética.
Essa luz já se apagou. Resta saber se aquela ainda visível no fim do túnel, brilhando tênue nas eleições de outubro, permanecerá acesa ou sucumbirá diante das manobras eleitoreiras que elegem a maquiação em detrimento da solução. É preciso ter coragem para enfrentar e mudar de vez o panorama do setor elétrico.
16 de março de 2014
Editorial Correio Braziliense
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