"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de janeiro de 2014

UM NOVO PAPEL PARA AS FORÇAS ARMADAS

                                                           
Cinquenta anos atrás, o ano começou envolto numa conspiração. Nas forças armadas, havia sido superada a idéia de que deveriam vigiar o presidente João Goulart para  completar seu mandato sem conseguir implantar as reformas de base por ele sustentadas em ritmo crescente. Já se tramava a queda do regime democrático em nome do combate ao comunismo, mero pretexto para as elites evitarem a perda de privilégios históricos. Elas usaram os militares como o cozinheiro   usa as  mãos do gato para tirar as castanhas do fogo.

Predominava, entre os  donos do poder  econômico e seus porta-vozes   a mentira  vinda dos Estados Unidos, de que a América Latina encontrava-se à mercê da guerra revolucionária e da guerra psicológica adversa. Simples artifício para impedir mudanças políticas, econômicas e  sociais necessárias à população. Da determinação de manter Jango prisioneiro, passaram à tentação de expurgá-lo da presidência da República, o que fizeram pouco depois, a 31 de março.  É claro que a equação não se desenvolveu de forma tão simples assim.

Do lado do chefe do governo existiam forças imaginando transformar as reformas   em  mudança das instituições. Marinheiros infiltrados por agentes provocadores tentaram a  quebra da hierarquia militar e falsos líderes sindicais imaginavam reproduzir sovietes nas  fábricas por eles controladas. João Goulart  buscava a justiça social e o avanço institucional,  mas não podia controlar  parte dos que, aliados às suas propostas,  pretendiam virar o país de cabeça para baixo. Acabou prevalecendo a força bruta, falaram as armas, impulsionadas pelas elites.

Por que se recordam aqueles tempos bicudos  de meio século atrás? Primeiro porque os vivemos. Depois, porque  o cenário mudou apenas pela metade. Continuam atentas e influentes  as forças empenhadas em manter  o predomínio de seus interesses econômicos e de seu controle sobre as arcaicas instituições de sempre. Apesar das reviravoltas no processo político, permanecem impondo suas diretrizes.  Tentam, agora, buscar identidades entre Jango e Dilma, ou seja, ameaçando a presidente da República de aceitar sua prevalência ou…

Ou o quê?  Porque agora não dispõem mais da capacidade de manipular as forças armadas, recolhidas à penitência de haverem imposto 21 anos de ditadura. Muito menos enfrentam a confusão de sindicatos de trabalhadores  em ebulição, ou de ideólogos furibundos  do passado.  Mas mantém-se na mesma intenção de  impor seus privilégios à  maioria da população, frágeis  carentes que somos  das  reformas de que  carecíamos e continuamos carecendo.

Dizem que o mundo anda para a frente. É verdade. Só que  fica complicado quando a gente vê os mesmos de sempre tentando impedir a evolução. Se não há mais militares para respaldá-los, não seria a hora de rejeitá-los? De relegá-los às profundezas, por conta do mal que já praticaram contra todos nós? Que tal se fossem as forças armadas a promover esse expurgo imprescindível, ainda que sem empalmar o poder, mas subordinando-se às necessárias instituições democráticas? Hoje, como há 50  anos atrás, os militares não provém das elites. Não integram aquela minoria de privilegiados pelo berço ou pelas malandragens financeiras.  Sofrem, como a maioria da população. Um dia podem despertar.  Mas do lado certo…

11 de janeiro de 2014
Carlos Chagas

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