"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 11 de janeiro de 2014

PAGAMOS MESMO TANTO IMPOSTO? OU PAGAMOS UM BELO MICO?

Que nós vivemos em um dos países com as mais altas cargas tributárias do mundo, e também um dos mais corruptos, não há dúvida alguma. Mas estará correta a informação que anda circulando pelo Facebook, de que trabalhar 2.600 horas por ano só para pagar impostos? A resposta é: não, não está correta. 


mico_leao_de_cara_dourada.

Ontem eu repostei um artigo que havia sido publicado em outubro do ano passado no Estadão. O artigo repercutia uma denúncia publicada na prestigiosa revista Science quanto a um escândalo ocorrido entre as publicações científicas “open access” na internet: a fácil publicação de um artigo falso por mais de 150 periódicos.

Li e reli aquele artigo e no processo lembrei de uma informação que eu havia recebido anteontem no Facebook e – para meu constrangimento – repassado sem conferir previamente sua veracidade ou mesmo sua plausibilidade: a informação de que o brasileiro teria que trabalhar cerca de 2.600 horas por ano apenas para pagar seus impostos. De repente aquele número me chamou a atenção.

“Peraí! Qual é a proporção entre as horas trabalhadas para pagar impostos e as que sobram? Quantas horas o brasileiro trabalha por ano?”

E foi aí que me dei conta do que deveria ter percebido desde o início.

Uma semana de trabalho são 40 horas, ou 44 horas, na pior hipótese. 2.600 dividido por 40 daria um total de 65 semanas trabalhadas por ano só para pagar impostos. 2.600 dividido por 44 daria um total de 59 semanas trabalhadas por ano só para pagar impostos. O problema é que um ano só tem 52 semanas.

Não é que a informação seja falsa… A informação é ridiculamente falsa, é completamente absurda – e eu a repassei inadvertidamente, assim como milhares de pessoas no Facebook. 

E, uma vez que uma das informações contidas naquele panfleto virtual era tão ridiculamente falsa, o que pode ser dito a respeito de todas as demais informações que ele contém? Será que são confiáveis? 

O fato, meus caros, é que nós ainda não estamos adaptados ao mundo virtual. Sua velocidade de informação é muito maior do que aquela com que estamos acostumados a lidar – e isso tem conseqüências bastante significativas. 

Quando um amigo nos repassa uma informação, nós tratamos essa informação como se ela fosse proveniente deste amigo e portanto damos a essa informação a credibilidade que damos a nosso amigo.
O problema é que durante toda nossa evolução pré-internet a quantidade de informação que podia nos alcançar em um único dia era extremamente limitada e na maior parte das vezes podia ser conferida antes que recebêssemos inúmeras outras informações para processar. Mas a internet modificou radicalmente esta dinâmica, e normalmente nosso amigo está tão sobrecarregado de informações quanto nós – e tão desacostumado a questionar e “sem tempo” para checar essas informações quanto nós

Na internet, especialmente nas redes sociais, nosso amigo recebeu uma informação de um amigo que recebeu de um amigo que recebeu de um amigo e assim por diante até chegar a um amigo que recebeu a informação de alguma fonte que não lhe pareceu suspeita, mas que não era confiável. E nosso outro amigo também recebeu uma notícia interessante do mesmo modo. E o outro também. E mais o outro.
E assim somos sobrecarregados de informações não conferidas e que não temos tempo de conferir antes que a próxima informação chegue. 

É deste modo que surgem os hoaxes, ou boatos virtuais, que alcançam milhares ou até milhões de pessoas antes que alguém os confira e desminta – o que pode não ocorrer a tempo de evitar as consequências da multiplicação da informação falsa. 

É por este motivo que, apesar de toda a liberdade de expressão que a internet trouxe, em geral não podemos confiar no “jornalismo” da blogosfera e ainda precisamos conferir a veracidade da informação em uma fonte segura, ou seja, no portal de alguma grande empresa de comunicação. 
Verdade seja dita: as grandes empresas de comunicação agem com muito maior profissionalismo e de acordo com manuais de redação preparados ao longo de muitos anos de experiência justamente para evitar micos e tropeços que abalem sua credibilidade. 

Precisamos, portanto, cultivar o hábito de questionar as informações que nos chegam através do Facebook ou daquele blog superlegal cujo link nosso amigo compartilhou, para não colaborarmos com a transmissão das inúmeras informações falsas ou equivocadas que chegam até nós.
Será que nossos amigos fazem a lição de casa antes de compartilhar algo no Facebook? Será que o blogueiro que edita aquele blog superlegal faz a lição de casa antes de escrever seus artigos? 

Bem, eu aprendi a lição. E você deveria aprender também, e repassar este artigo para que seus amigos também aprendam.

11 de janeiro de 2014
 Arthur Golgo Lucas

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