A notícia do acordo da OGX com os credores alivia um pouco o peso da pior notícia empresarial do ano. O destino do empresário em si não importa, até porque ele continua rico. O que preocupa são os empregos perdidos, os investimentos que deixarão de ser feitos, empréstimos concedidos pelo governo que não serão pagos e acionistas que perderam patrimônio.
Entre os acionistas está o próprio governo em algumas empresas. Entre os credores, também o governo, através da Caixa Econômica e do BNDES em algumas das companhias. A solução dada para a petroleira dilui o capital dos acionistas, mas dá chance de sobrevida à empresa e eleva o valor das ações que estavam no chão. A torcida nesta virada do ano é para que a petroleira continue a existir, agora sob novo comando, e o estaleiro se beneficie com uma injeção de recursos.
Falta ainda o governo apresentar um balanço sério do episódio, informando o quanto perdeu com a hecatombe do grupo empresarial que chegou a ser apontado pela presidente Dilma Rousseff, em inesquecível declaração, como um exemplo para outros empresários. Não vale dar explicações simplistas como as do BNDES, de que não perdeu porque não vendeu as ações. Ele está se valendo de um raciocínio torto do mercado que é o seguinte: se não vendeu, não “realizou” o prejuízo. Perdas e ganhos só existiriam depois da venda.
Mas esse tipo de raciocínio não vale para as pessoas comuns. Comprar por um valor e agora ter um ativo que vale uma fração mínima do valor anteriormente pago; comprar uma participação que foi diluída; emprestar e ter como garantias ações de outras empresas do mesmo grupo ou avais do empresário encrencado, tudo isso é perda.
O BNDES sempre disse que tinha apenas uma participação de 0,26% na OGX. Depois da operação dos últimos dias, o que tinha deve ter desaparecido. Concedeu um empréstimo-ponte de US$ 228 milhões, que a esta altura Os pontos-chave deve ser uma ponte que ruiu.
Na OSX, a exposição é muito mais ampla e não é apenas do BNDES, mas da Caixa Econômica Federal, em volume de empréstimo de mais R$1,4 bilhão. Mas o que faz a Caixa emprestar para um estaleiro é um desses mistérios que só se explica na gestão da 3 Caixa no governo Dilma. A Caixa afastou-se perigosamente do papel que sempre exerceu e corre riscos de enorme imprudência, como a compra de ações de um banco quebrado, ou a transformação da instituição numa espécie de versão júnior do BNDESPar. Como se o Brasil precisasse de outro.
Tudo isso deveria estar numa reflexão sincera sobre o custo para o governo do evento mais catastrófico do mundo empresarial brasileiro em 2013, que foi a quebra da EBX. Perdas públicas e falhas públicas.
Foram tardias e parciais as ações da CVM para punir o empresário por ter prestado informações sem qualquer veracidade sobre as perspectivas dos campos de petróleo que possuía. Em nenhum momento a CVM avaliou seus próprios erros por ter se atrasado tanto em pedir explicações sobre as fanfarronices do controlador de empresas de capital aberto, que induziram inúmeros acionistas ao erro de comprometer suas economias nas empresas de Eike.
Na reestruturação, algumas empresas do grupo trocaram de mãos, o empresário ficou minoritário, as atividades e ambições foram reduzidas, mas as companhias continuaram funcionando. Nos casos das maiores empresas, a petroleira OGX e o estaleiro OSX, houve pedido de recuperação judicial. A janela que se abre agora, depois das negociações fechadas nos últimos dias, é de uma engenharia financeira que permita a recuperação de fato da empresa de petróleo e, além disso, capitalize o estaleiro.
Eike Batista fará sua própria avaliação dos erros que cometeu, e, como ainda permanece com patrimônio, participações nas empresas e capital, poderá se refazer. O mais relevante seria o governo aprender com os muitos erros que cometeu neste caso, e, em outros, de escolha de grupos a serem privilegiados. É preciso dar aos contribuintes o conforto de que serão evitadas novas enrascadas desse tipo. Outros grupos empresariais favoritos estão ocupando o lugar de Eike. Os métodos de ação do governo continuam os mesmos; só troca o nome do grupo empresarial. E esse é exatamente o maior risco.
Entre os acionistas está o próprio governo em algumas empresas. Entre os credores, também o governo, através da Caixa Econômica e do BNDES em algumas das companhias. A solução dada para a petroleira dilui o capital dos acionistas, mas dá chance de sobrevida à empresa e eleva o valor das ações que estavam no chão. A torcida nesta virada do ano é para que a petroleira continue a existir, agora sob novo comando, e o estaleiro se beneficie com uma injeção de recursos.
Falta ainda o governo apresentar um balanço sério do episódio, informando o quanto perdeu com a hecatombe do grupo empresarial que chegou a ser apontado pela presidente Dilma Rousseff, em inesquecível declaração, como um exemplo para outros empresários. Não vale dar explicações simplistas como as do BNDES, de que não perdeu porque não vendeu as ações. Ele está se valendo de um raciocínio torto do mercado que é o seguinte: se não vendeu, não “realizou” o prejuízo. Perdas e ganhos só existiriam depois da venda.
Mas esse tipo de raciocínio não vale para as pessoas comuns. Comprar por um valor e agora ter um ativo que vale uma fração mínima do valor anteriormente pago; comprar uma participação que foi diluída; emprestar e ter como garantias ações de outras empresas do mesmo grupo ou avais do empresário encrencado, tudo isso é perda.
O BNDES sempre disse que tinha apenas uma participação de 0,26% na OGX. Depois da operação dos últimos dias, o que tinha deve ter desaparecido. Concedeu um empréstimo-ponte de US$ 228 milhões, que a esta altura Os pontos-chave deve ser uma ponte que ruiu.
Na OSX, a exposição é muito mais ampla e não é apenas do BNDES, mas da Caixa Econômica Federal, em volume de empréstimo de mais R$1,4 bilhão. Mas o que faz a Caixa emprestar para um estaleiro é um desses mistérios que só se explica na gestão da 3 Caixa no governo Dilma. A Caixa afastou-se perigosamente do papel que sempre exerceu e corre riscos de enorme imprudência, como a compra de ações de um banco quebrado, ou a transformação da instituição numa espécie de versão júnior do BNDESPar. Como se o Brasil precisasse de outro.
Tudo isso deveria estar numa reflexão sincera sobre o custo para o governo do evento mais catastrófico do mundo empresarial brasileiro em 2013, que foi a quebra da EBX. Perdas públicas e falhas públicas.
Foram tardias e parciais as ações da CVM para punir o empresário por ter prestado informações sem qualquer veracidade sobre as perspectivas dos campos de petróleo que possuía. Em nenhum momento a CVM avaliou seus próprios erros por ter se atrasado tanto em pedir explicações sobre as fanfarronices do controlador de empresas de capital aberto, que induziram inúmeros acionistas ao erro de comprometer suas economias nas empresas de Eike.
Na reestruturação, algumas empresas do grupo trocaram de mãos, o empresário ficou minoritário, as atividades e ambições foram reduzidas, mas as companhias continuaram funcionando. Nos casos das maiores empresas, a petroleira OGX e o estaleiro OSX, houve pedido de recuperação judicial. A janela que se abre agora, depois das negociações fechadas nos últimos dias, é de uma engenharia financeira que permita a recuperação de fato da empresa de petróleo e, além disso, capitalize o estaleiro.
Eike Batista fará sua própria avaliação dos erros que cometeu, e, como ainda permanece com patrimônio, participações nas empresas e capital, poderá se refazer. O mais relevante seria o governo aprender com os muitos erros que cometeu neste caso, e, em outros, de escolha de grupos a serem privilegiados. É preciso dar aos contribuintes o conforto de que serão evitadas novas enrascadas desse tipo. Outros grupos empresariais favoritos estão ocupando o lugar de Eike. Os métodos de ação do governo continuam os mesmos; só troca o nome do grupo empresarial. E esse é exatamente o maior risco.
27 de dezembro de 2013
Miriam Leitão, O Globo
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