"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

TEXTOS LONGOS, ADEUS LEITORES...

 TEXTOS LONGOS, ADEUS LEITORES... 

Ouço sempre essa ladainha, que textos longos, não têm leitores... Ninguém está disposto a perder tempo”, com leituras que exijam mais do que um ou dois minutos. 

O tempo urge, e o leão ruge! As pessoas não estão mais disponíveis para demoradas leituras, afinal devemos ser pragmáticos, pois o tempo nos exige para outros afazeres! Para ganhar a vida (ou perdê-la?) na azáfama das correrias, pois o tempo é o senhor! 

A vida ganhou uma aceleração, que se justifica com a urgência de obrigações maiores, do que simplesmente “perder o tempo” com textos que nos passam apenas uma ou duas informações, geralmente de pouco interesse, pois voltadas para essa exigência de refletir, amadurecer o entendimento em torno de “conceitos” abstratos, que não irão decidir as ações imediatas do dia e do momento.  

Textos longos, nos obrigam a parada no relógio das aflições, que marcam a ilusão de que devemos nos apressar para chegar o mais rápido possível no futuro.  

Não podemos “perder a hora” com abstracionismos que não contribuem para nossas ações, que devem ser práticas, tanto quanto possível! 

Aquela condição de disponibilidade para a reflexão, para conjeturas, para o convívio, faz parte de um passado, quando a vida tinha um tom de calmaria, de cadeiras na calçada, sem relógio, o tempo medido pelos tons do escurecer do céu, do fim da tarde, quando a palavra poente era voz corrente para falar de entardecer. 

Alguma coisa humana se perdeu no decorrer desse tempo! Suponho que tenha sido a própria humanidade, no seu impulso de conquistar o efêmero, triunfando sobre nada!  

E o que fazer? Erefiro-me aos antigos, àqueles seres que o tempo não conseguiu engolir, dada a reação quase furiosa de resistir ao comezinho de uma vida insossa, sem sabor, de resistir à banalidade que engole a condição de seres inteligentes, cujo potencial desce pelo ralo das rotinas do trivial, da vulgarização. 

Mas não creio nessa conversa de que textos longos, não têm leitores! Não acredito nessa balela! Cheira-me a sabotagem! 

Penso que nada é mais desconfortável para o Sistema, do que uma sociedade pensante! Um grande incômodo, que foge ao controle, que escapa da mudez e reage criticamente as intolerâncias que administram o silêncio das pessoas, fazendo-as crer em “normas” que organizam o “melhor dos mundos possíveis!”. 

As editoras continuam a produzir livros, as livrarias criam espaços gourmets e cafeterias, modernizando o conforto e o acesso à leitura em confortáveis poltronas e o acesso aos livros. 

O livro está acima de qualquer convenção, e continua sendo à criação mais inteligente que produzimos: dos pergaminhos e papiros, às mais luxuosas edições!! 

Conhecimentos, emoções, memórias... sentimentos e afetos que se transferem, e que o tempo conserva como o nosso melhor patrimônio. Vidas e imagens que o mesmo tempo engoliu, mas guarda em seu ventre para os vindouros. 

08 de novembro de 2024 

Prof. mario moura 

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