"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 17 de março de 2021

LUDHMILA HAJJAR RELATA AMEAÇAS DE MORTE FEITAS POR BOLSONARISTAS: "TEM MUITA GENTE QUERENDO O MAL DO BRASIL".

Por duas vezes tentaram invadir o hotel em que Ludhmila estava

A médica Ludhmila Hajjar ficou assustada com a reação de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro que desprezam a ciência e contou que sofreu várias ameaças de morte e duas tentativas de invasão no hotel em que esteve hospedada, em Brasília, após se reunir, neste domingo, dia 14, por quase quatro horas, com o chefe do Executivo e o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.

“Eu fiquei assustada como, nesse momento de tristeza, uma pessoa da sociedade civil, que está aqui para o bem do país, sofre esse tipo de agressão. Tem muita gente querendo o mal do Brasil”, lamentou a cardiologista, que tratou o ministro da Saúde quando ele teve covid-19, em entrevista concedida à CNN Brasil, nesta segunda-feira, dia 15. Ela confirmou que recebeu o convite para assumir a pasta, mas o recusou hoje, em uma segunda reunião com o presidente.

NEGACIONISTAS – Na avaliação da especialista renomada, formada pela Universidade de Brasília (UnB) e professora da Universidade de São Paulo (USP), o agravamento do quadro da pandemia no país, está no epicentro global da crise sanitária e é, em grande parte, consequência desse tipo de atitude de pessoas que fizeram de tudo para que não houvesse convergência fosse tão agradável.

Ela comentou sobre os ataques que sofreu nas redes sociais e que o número do celular pessoal acabou sendo divulgado em vários grupos de WhatsApp atacando ela e familiares. E, ainda, disse que contou isso ao presidente na reunião que teve com Bolsonaro, que admitiu receber uma enxurrada de informações contra ela, que tinha apoio de parlamentares do Centrão e do Judiciário. “O que faltou foi convergência”, resumiu.”Meu partido é o Brasil e a saúde das pessoas”

SEM LIGAÇÃO POLÍTICA – Durante a entrevista, a médica disse que não tem medo de ataques e, como médica e pelo juramento que fez, não tem bandeira partidária e não escolhe o paciente. “Não tenho ligação política. Meu partido é o Brasil e a saúde das pessoas. Cuido de pessoas da esquerda e da direita e continuarei cuidando”, afirmou.

“Eu não tenho medo e é por isso que estou aqui. A causa é muito maior”, frisou.De acordo com a cardiologista, o governo precisa abandonar, imediatamente, o discurso de uso da cloroquina e do tratamento precoce, porque eles são ineficazes e isso poderá provocar consequências cada vez piores.

“O Brasil precisa de uma liderança na Saúde. Espero que o presidente a encontre, senão a dívida que o país vai pagar vai ser imensurável”, afirmou. Ela contou que, no início da pandemia, chegou a receitar cloroquina, mas, diante dos resultados de estudos que mostram a ineficácia do medicamento, abandonou a ideia que agora é considerada coisa do passado.

VIRAR A PÁGINA – Na avaliação da profissional de saúde, o governo errou no combate à pandemia desde o início e precisa virar essa página o mais rápido possível, alinhando o discurso de forma nacional e buscar uma solução para o aumento de leitos nos hospitais e a compra em massa de vacinas para um amplo programa de imunização.

“Acho que o Brasil, até o momento, errou no combate à pandemia. E ele precisa de uma virada de entendimento e de ações. O governo subestimou a doença no início e está pagando o preço agora. Está correndo atrás da vacina de maneira tardia”, lamentou o abandono do discurso negacionista e de crítica ao lockdown, que é mais do que necessário neste momento para evitar um colapso nos hospitais. “O que não está dando e tem que ser mudado”, afirmou.

POLARIZAÇÃO – A especialista também criticou a polarização e frisou que lockdown salva vidas. “Essa maldade usada em redes sociais, é um atraso para o Brasil. Essa narrativa não tem lógica e não tem fundamento”, afirmou. Ludhmila ainda contou que ficou muito honrada com o convite e pela indicação do seu nome.

Para ela, foi uma grande oportunidade conversar com o presidente e falar sobre o que ela pensa. “Eu fiquei muito honrada pelo convite do presidente Bolsonaro, mas este não é o momento para que eu assuma a pasta, principalmente por motivos técnicos”, afirmou. Segundo ela, o combate à pandemia está acima de qualquer ideologia e é preciso que ele seja pautado pela ciência.


17 de março de 2021

Rosana Hessel
Correio Braziliense

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