"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

DESEQUILIBRAR O OCIDENTE: OBJETIVO DA GUERRA DE DESINFORMAÇÃO




Putin apelou à guerra da desinformação cibernética
para desestabilizar os países vítimas
Svetlana F., 39, aparecia desolada na cozinha de seu apartamento de Berlim. Ela chorava a desgraça que teria sofrido sua filha de 13 anos, supostamente sequestrada e estuprada por um imigrante árabe e internada num hospital psiquiátrico em estado de choque, contou em extensa reportagem a grande revista alemã Der Spiegel”.

O maior estrépito foi na mídia russa, pois Svetlana tem essa nacionalidade. O Kremlin se erigiu em advogado de sua filha. E Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores, atacou diretamente as autoridades alemãs.

A embaixada russa em Berlim transmitiu agressiva queixa escrita ao Ministério de Relações Exteriores da Alemanha. A diplomacia de Moscou exigia uma investigação completa que não escondesse nada.

Lavrov acusou o governo alemão de acobertamento. Este estaria escondendo os fatos para salvar a imagem da chanceler Angela Merkel, que promove a entrada maciça de muçulmanos.

O ministro alemão para as Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, reagiu fortemente, qualificando a atitude de Moscou de “propaganda política”.




Fotomontagem criada na Rússia
para 'ilustrar' chuva de 'trolls'
segundo os quais os EUA e a União Europeia
sustentam o nazismo que imperaria na Ucrânia.


Essa mentira foi muito espalhada na Rússia,
onde foi incluída em dezenas de blogs e posts
por agentes dissimulados do Kremlin.
No Ocidente não pegou tanto, mas outras pegam.
Mente, mente, que algo ficará, dizia Voltaire.
A versão russa do estupro da menina foi rapidamente acolhida pelos opositores da desastrosa política de Angela Merkel, que suspeitavam com fundadas razões de seus procedimentos.

As redes sociais regurgitaram de comentários em favor da menina e da Rússia, e contra o governo de Berlim.

A Divisão de Investigações Criminais de Berlim assumiu o caso e penou para identificar o que havia ocorrido, até as contradições se acumularem a ponto de definir outro cenário.

A história era completamente diferente. A “menina” não era a tal e estava vivendo com um rapaz alemão. E voltou para casa por iniciativa própria.

A verificação médica não achou nenhum sinal de violência, enquanto sites enganados pelo golpe russo anunciavam que “pelo menos cinco estrangeiros” ficaram estuprando-a durante 30 horas.

A moça desmentiu as versões de algum crime contra ela. Mas em seu nome já havia passeatas pedindo a pena de morte para os abusadores de crianças. O “Canal Um”, da Rússia, dedicava ao escabroso e fictício caso um espaço especial no horário nobre.

Todas as maiores TVs da Rússia nas mãos do Estado batiam na nota do estupro e apresentavam filmagens sem nenhuma relação com o caso, algumas delas tiradas de YouTube em 2009.

Os sites russos Sputnik e RT (Russia Today) continuavam martelando no caso, até 700 pessoas se manifestarem diante da Chancelaria de Angela Merkel.

Na realidade, o “caso” da moça expôs a novo estilo da guerra propagandística que Moscou está tocando para desequilibrar o Ocidente.

O caso da menina “sequestrada” e “estuprada” sob o acobertamento do governo alemão tinha todos os ingredientes emocionais necessários para dividir a Alemanha.

Manipulado pelo Kremlin, o caso foi uma bomba da “guerra da informação” de natureza psicológica usado na guerra híbrida para desestabilizar países inimigos.


A tal metamorfose do comunismo solta movimentos separatistas, no fundo com a intenção de promover a agitação e desestabilizar tudo.

Desestabilizar é a palavra de ordem do comunismo metamorfoseado.

E a partir do momento em que o país vítima perde a estabilidade, estão criadas as condições para uma revolução.

A metamorfose se dá por uma transformação profunda dos métodos e também dos nomes e dos estilos dos aparelhamentos.

Mas no fundo a coisa é a mesma e com o mesmo fim: espalhar o comunismo pelo mundo.

(Plinio Corrêa de Oliveira, excerto de análise do caos mundial em 13/6/92. Sem revisão do autor).

Vladimir Putin e sua equipe formada na KGB sabem usar muito bem esses golpes.

Eles estão aplicando mais uma vez os “velhos métodos” da KGB – desinformação e desestabilização –, disse Hans-Georg Maassen, presidente do Escritório Federal para a Proteção da Constituição (BfV), o serviço de inteligência alemão.

Trolls – mentiras montadas e espalhadas através das redes sociais e da Internet; ciberataques como o praticado contra o Bundestag; “pequenos homens verdes” como os soldados que invadiram a Crimeia, são ingredientes constitutivos da “guerra híbrida”, quer dizer, da guerra iniciada sem declaração formal, sem regras nem fronteiras.

Nessa guerra o beligerante age anonimamente, não se identifica, fica invisível, em lugar de disparar com armas ataca com palavras, e a Internet tem-se revelado o mais importante campo de combate.



Fotomontagem russa faz acreditar que o respeitado site Life News informa do crime que na verdade nunca existiu.

O site Putin@war reconstituiu o percurso do "troll".
Erros no inglês e superposição de faixas e dizeres levantaram suspeita.
O site identificou que o "troll" saiu de um obscuro endereço da Índia
e chegou a grandes sites russos que avidamente
espalharam como informação fidedigna.
O esquema é usado para despistar e passar adiante os "trolls"
("lançando a isca para os trouxas", na gíria da guerra da informação).
O Kremlin usa sites ou TVs como RT para disseminar com grande eficácia notícias e vídeos online em inglês, espanhol, francês e árabe. Também usa o Facebook em alemão, mas, sobretudo, em inglês.

E mantém muitos sites ou perfis que não devem se identificar com o Kremlin, mas obedecer-lhe cegamente, escreveu Der Spiegel.

RT e Sputnik – novo nome da antiga Rádio Moscou do tempo da URSS – são dirigidos por Dmitry Kiselyov, propagandista-chefe do Kremlin. Ele se diz engajado numa “guerra de informação” que considera como “a forma primordial de guerra” hoje.

As principais unidades que bombardeiam informações enviesadas estão sediadas nas periferias de São Petersburgo.

É o caso da Agência para Estudos na Internet, que paga mais de 400 empregados para espalhar trolls, criar blogs, postar comentários em outros blogs aplicando uma instrução estrita renovada diariamente.


“A estrutura está baseada ideologicamente no neoeurasianismo expansionista de Alexander Dugin”, explica relatório do serviço de inteligência checo BIS.
Conselheiro de Putin, Dugin diz pregar uma “revolução conservadora”.

E não é mera ideologia ou conversa; agentes do Kremlin percorrem os movimentos conservadores da Europa e do mundo oferecendo atraentes somas de dinheiro.



General Valery Gerasimov “ As guerras não são mais declaradas,
mas simplesmente começam e prosseguem por vias que não são familiares.
(...) O uso escancarado da força militar é só para a fase final do conflito”

Isso já cristalizou num milionário empréstimo ao Front National da França. “Oligarcas” da Nomenklatura putiniana fazem doces propostas aos líderes das direitas europeias, tratados geralmente de modo injusto em seus países.


Os nomes e os encontros citados por “D
geer Spiel são numerosos. Aliás, nem sempre Putin cumpre as promessas. Ele age por puro interesse estratégico, sem moral, como aprendeu na KGB.

Ex-comunistas europeus também fazem parte das fileiras dos zelotas beneficiados por Putin na Alemanha, e nisso não há nada novo.

Valery Gerasimov, chefe do Estado Maior russo, explicou na Academia Militar de Moscou o método adotado pelo Kremlin para promover “conflitos assimétricos”.


“As fronteiras entre a guerra e a paz se apagaram no século XXI. As guerras não são mais declaradas, mas simplesmente começam e prosseguem por vias que não são familiares”, explicou Gerasimov.

Em poucos meses, acrescentou, um país que era estável pode virar areia de um acirrado conflito armado, vítima de uma agressão externa.

“O Estado é submerso no caos, na catástrofe humanitária e na guerra civil”, explicou, dando como exemplo a Primavera Árabe.Nós poderíamos acrescentar o caso da Síria ou a invasão islâmica da Europa.


Desestabilizar é a palavra de ordem do comunismo metamorfoseado.

E a partir do momento em que o país vítima perde a estabilidade, estão criadas as condições para uma revolução.

A metamorfose se dá por uma transformação profunda dos métodos e também dos nomes e dos estilos dos aparelhamentos.

Mas no fundo a coisa é a mesma e com o mesmo fim: espalhar o comunismo pelo mundo.

(Plinio Corrêa de Oliveira, excerto de análise do caos mundial em 13/6/92. Sem revisão do autor).


O aspecto pérfido da estratégia de Moscou – escreve “Der Spiegel” – consiste em espalhar mentiras previamente calculadas que apagam deliberadamente os limites entre o real objetivo e a ficção pré-fabricada.

Em lugar de enfrentar o adversário numa batalha com as armas da verdade, a Rússia sabota as próprias bases da polêmica racional: ela polui as mentes dos adversários para que afinal não saibam mais no que acreditar.

Se eles caírem nessa manobra, na mesma hora estarão vencidos.

O jornal “El Mundo” de Madri observou que muitos militantes ou simpatizantes dos partidos direitistas em ascensão estão acreditando mais no presidente russo do que nos líderes nacionais.

No caso da Alemanha, acreditam mais em Putin do que na Merkel, segundo sondagem publicada pelo semanário Die Zeit”.

Muitos deles caíram, vítimas da insincera e insidiosa “guerra da informação” minuciosamente calculada nos laboratórios de Moscou.

02 de novembro de 2020
Luis Dufaur, escritor, jornalista, conferencista de política internacional

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