"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 6 de junho de 2020

INFELIZMENTE O PIOR ESTÁ POR VIR

Normalmente, por volta de sessenta dias após a conclusão de um trimestre, os dados do PIB (Produto Interno Bruto) são divulgados oficialmente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Eles foram conhecidos na semana passada, retratando um momento da nossa economia que já até parece pertencer a um passado remoto. A economia brasileira teve uma retração de 1,5% no primeiro trimestre deste ano na comparação com os três últimos meses de 2019, porém em linha com o esperado pelos analistas do mercado financeiro. Interrompeu-se bruscamente o processo de retomada da atividade no país que, convenhamos, já vinha em um ritmo bem mais lento do que o desejado. Com esse resultado, o PIB retrocedeu oito anos, ou seja, ao ano de 2012.

No período de janeiro a março, pelo lado da oferta, o setor de serviços, principal carro-chefe da nossa economia, teve o pior resultado, com retração de 1,6%. Já na indústria o tombo foi de 1,4%. Apenas a agropecuária foi no sentido contrário, com expansão de 0,6% em função da safra recorde de soja e a produção de arroz. Pelo lado da demanda, o destaque negativo ficou por conta do consumo das famílias, que apresentou queda de 2%. Segundo o IBGE, este é o maior recuo desde 2001. Por outro lado, os investimentos privados (formação bruta de capital fixo) cresceram 3,1%, puxados pela importação de máquinas e equipamentos do setor de petróleo e gás. O consumo do governo ficou praticamente estável, avançando apenas 0,2%. Na balança comercial, houve queda de 0,9% nas exportações de bens e serviços e crescimento de 2,8% nas importações de bens e serviços.

É evidente que os dados refletem somente o início da quarentena no país. Isto é, caminhamos dentro de um túnel às escuras e só conseguiremos perceber os primeiros raios de luz ao longe quando a atividade for retomada.

O resultado do PIB foi realmente ruim, porém em uma comparação relativa não ficamos tão mal assim. Dentre 44 países, o Brasil ficou em 15º lugar num ranking internacional de desempenho da atividade econômica.

A interrupção brusca da economia brasileira comprometeu os números de março, prejudicando seriamente o resultado de todo o trimestre. O ápice da derrubada da economia provavelmente acontecerá no segundo trimestre, com abril refletindo os números negativos mais surpreendentes. Este foi o mês em que a pandemia se expandiu pelo país, com o choque tanto de oferta quanto de demanda envolvendo a economia como um todo. Não será surpresa se o PIB em 2020 sofrer uma contração próxima de 2 dígitos.

O governo federal terá que gastar mais em medidas de apoio à população mais exposta da sociedade, ao menos, temporariamente. As reclamações são generalizadas sobre a dificuldade das micro e pequenas empresas conseguirem linhas de financiamento para honrar seus compromissos na crise. Ejunho ssas linhas foram lançadas no início da pandemia e estão disponíveis nos bancos públicos que continuam negando os pedidos de empréstimos pelo temor da inadimplência à frente. Afinal de contas, este segmento responde por 30% do valor adicionado ao PIB do país, 52% dos empregos com carteira assinada, 40% dos salários pagos e temos aproximadamente 9 milhões de micro e pequenas empresas.

Esta crise é inédita, um ponto distante da curva. Segundo analistas econômicos, todos são derrubados simultaneamente, numa reação em cadeia, tanto a oferta de trabalho, afetando a produção, quanto a demanda, isto é, a capacidade das famílias para consumir. Só nos resta aguardar como será o comportamento das atividades nos próximos meses e acompanhar as projeções que periodicamente são divulgadas.


06 de junho de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).

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