Continuamos com inflação negativa em maio. Uma deflação de 0,38% na mesma condição de abril, apenas, um pouco menor, com menos 0,31%. As previsões divulgadas pelos analistas econômicos eram de uma queda bem maior, em torno de 0,46% que acabou não ocorrendo, graças ao ajuste de combustíveis.
Nos últimos 12 meses, ou seja, de maio de 2019 a maio desse ano, a inflação neste período foi apenas 1,88%, sendo importante lembrar que a meta de inflação estipulada pelo Banco Central (BC) para 2020 é 4%. Logo, ficou abaixo do intervalo de tolerância do regime de metas de inflação que é de 2,5%.
O BC na reunião do COPOM (Comitê de Política Econômica do BC) decidiu rebaixar a taxa Selic (taxa básica da economia) para 2,25% ao ano.
Alguns analistas econômicos acreditam que este não será o último corte realizado, nesse longo ciclo de flexibilização monetária que vem acontecendo ininterruptamente desde julho de 2019, portanto, há quase um ano. Com a inflação declinando e uma política monetária estrategicamente expansiva, teremos consequências que veremos adiante.
Uma inflação tão baixa assim, tornou-se um fato incomum na vida dos brasileiros. Quando surgiram na década de 80 e no início dos anos 90 os grandes planos econômicos tivemos índices um pouco mais baixos, em razão das medidas adotadas para debelar a hiperinflação que dominou o Brasil naquela época.
Agora, a inflação é completamente diferente da que presenciamos no passado, sem tabelamento, nem tão pouco, com artificialismo.
Com esse isolamento social provocado pela pandemia o custo de vida mergulhou, resultado de um colapso na demanda pelo fechamento do comércio e uma ampla queda do poder aquisitivo, não sendo ocasionados por um saneamento monetário e fiscal.
Para se ter uma ideia, o conjunto de despesas que fazem parte da cesta de consumo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) nada menos que cinco entre os nove grupos apresentaram queda de preços no mês passado.
Essa retração constante da demanda é um dos efeitos negativos quando se atravessa uma fase relativamente extensa de deflação.
Se o consumidor entender que nos próximos meses os preços poderão ficar mais baixos, seja porque estão sinalizando queda, ou, até mesmo, pressentindo que comércio venderá com descontos, sua tendência natural é protelar o consumo.
É o que atualmente vem acontecendo nos países mais avançados.
Apesar disso, nos próximos meses a inflação deve avançar, não só pela reabertura do comércio que aquecerá um pouco a demanda, mas, também, pela possibilidade de reajustes dos preços de combustíveis impulsionando sua alta.
A desvalorização do Real é outra questão importante que deverá trazer alguns impactos aos preços dos produtos importados.
Até o final do ano o BC poderá vir a realizar outros cortes na Selic que deverão ser bem mais moderados. Considerando que a projeção da inflação para 12 meses feita pelo mercado após cair 13 semanas consecutivas, passou de 1,53 % ao ano para 1,60% ao ano e a deterioração da economia vem aumentando consideravelmente nos últimos meses, impondo incentivos monetários maiores do que se esperava.
É interessante acrescentar mais duas influencias. Com os juros mais baixos, consequentemente, os devedores aproveitarão essa oportunidade para negociar seus passivos.
Na realidade, é um ajuste que os banqueiros não gostam de fazer, mas terão que entender que neste momento, torna-se inevitável.
Por fim, a outra, pega em cheio o mercado financeiro. O cenário de juros baixos no Brasil significa um novo paradigma no universo das aplicações financeiras, já que as pessoas precisarão ter um apetite maior pelo risco, expondo-se mais à Renda Variável na busca de rendimentos maior para seus investimentos.
A maior prova disso, é a migração crescente da pessoa física para a Bolsa de Valores. Em 2020, o total de investidores pessoa física quase dobrou em relação aos 1,68 milhão de 2019, chegando a 2,48 milhões este ano, com um montante expressivo de investimentos que ultrapassa R$ 303 bilhões.
26 de junho de 2020
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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