O bicho-Homem é muito esquisito. Bisbilhoteiro ao extremo.
Ele quer saber coisas dos outros bichos: os de duas, os de quatro ou dos sem nenhuma pata. Das coisas da Terra, do Sol, da Lua e outros planetas e estrelas.
Do solo e do subsolo. Dos mares, dos ares e das dores.
O bicho-Homem alega conhecer todas as criaturas do Planeta e mal-e-mal conhece seu vizinho, sua cidade, seu bairro, sua própria tribo.
Desconhece a própria História recente.
Prova cabal é o documentário 1964 – O Brasil entre armas e livros: no filme, desenha-se que nem A, nem B fizeram a lição de casa e existem pessoas que insistem em interpretar o filme com a própria visão ideológica, cada uma “puxando a sardinha para o seu lado”.
Oras, azul é azul, verde é verde e amarelo é amarelo! Porque problematizar tudo?!?
A errou, B errou, C acertou. Custa aceitar isso? Dói tanto assim?
Sempre é tempo de corrigir erros e descobrir novidades (que às vezes doem).
Pensando nisto tudo, convidamos uma jovem brasileira que irá nos ensinar sobre uma realidade tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de nós.
Tenho o prazer de apresentar aos leitores da RENOVA:
YSANI KALAPALO
Indígena do Parque Indígena do Xingu, no norte de Mato Grosso, na tribo Kalapalo, Ysani Aweti Kalapalo nasceu há 28 anos atrás.
Ysani veio para São Paulo no final de 2002, aos 11 anos para fazer um tratamento de saúde na cidade, pois ela e a irmã mais nova estavam doentes há meses e pajé nenhum conseguia curá-las. Por isso seus pais decidiram trazê-las para a cidade em busca de cura e conhecimento do povo branco.
Vieram para São Carlos, interior de São Paulo, e ficaram hospedados em um albergue. Logo depois foram passar uns dias no alojamento da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e daí foram ajudados por um Bispo da Igreja dos Mórmons (Pr. Edson Lazarini).
Permitam-me acrescentar o depoimento do Bispo:
“Na época eu frequentava a Igreja Mórmon e era Bispo, um líder eclesiástico daquela igreja. Recebi a orientação de outro líder daquela igreja que havia uma família de índios (família Kalapalo) vindos do Xingu que estavam no campus da Universidade Federal de São Carlos e que precisavam de ajuda. Não lembro do nome de todos, apenas do sr. Konué, de suas filhas Mariana, Ysani e do filho Guga.
Ele quer saber coisas dos outros bichos: os de duas, os de quatro ou dos sem nenhuma pata. Das coisas da Terra, do Sol, da Lua e outros planetas e estrelas.
Do solo e do subsolo. Dos mares, dos ares e das dores.
O bicho-Homem alega conhecer todas as criaturas do Planeta e mal-e-mal conhece seu vizinho, sua cidade, seu bairro, sua própria tribo.
Desconhece a própria História recente.
Prova cabal é o documentário 1964 – O Brasil entre armas e livros: no filme, desenha-se que nem A, nem B fizeram a lição de casa e existem pessoas que insistem em interpretar o filme com a própria visão ideológica, cada uma “puxando a sardinha para o seu lado”.
Oras, azul é azul, verde é verde e amarelo é amarelo! Porque problematizar tudo?!?
A errou, B errou, C acertou. Custa aceitar isso? Dói tanto assim?
Sempre é tempo de corrigir erros e descobrir novidades (que às vezes doem).
Pensando nisto tudo, convidamos uma jovem brasileira que irá nos ensinar sobre uma realidade tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de nós.
Tenho o prazer de apresentar aos leitores da RENOVA:
YSANI KALAPALO
Indígena do Parque Indígena do Xingu, no norte de Mato Grosso, na tribo Kalapalo, Ysani Aweti Kalapalo nasceu há 28 anos atrás.
Ysani veio para São Paulo no final de 2002, aos 11 anos para fazer um tratamento de saúde na cidade, pois ela e a irmã mais nova estavam doentes há meses e pajé nenhum conseguia curá-las. Por isso seus pais decidiram trazê-las para a cidade em busca de cura e conhecimento do povo branco.
Ysani Aweti Kalapalo |
Vieram para São Carlos, interior de São Paulo, e ficaram hospedados em um albergue. Logo depois foram passar uns dias no alojamento da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e daí foram ajudados por um Bispo da Igreja dos Mórmons (Pr. Edson Lazarini).
Permitam-me acrescentar o depoimento do Bispo:
“Na época eu frequentava a Igreja Mórmon e era Bispo, um líder eclesiástico daquela igreja. Recebi a orientação de outro líder daquela igreja que havia uma família de índios (família Kalapalo) vindos do Xingu que estavam no campus da Universidade Federal de São Carlos e que precisavam de ajuda. Não lembro do nome de todos, apenas do sr. Konué, de suas filhas Mariana, Ysani e do filho Guga.
Como a Igreja Mórmon sempre gostou de ajudar as pessoas, com eles não foi diferente. Foram ajudados como família e de imediato foram alojados em um hotel próximo à estação ferroviária de São Carlos (Hotel Paulista – hoje não existe mais) e se acomodaram nesse hotel até conseguirmos uma residência, uma casa para se mudarem. Sempre com ajuda da Igreja Mórmon.
Após alguns dias a Igreja Mórmon alugou uma casa na Rua Maria Isabel de Oliveira Botelho, na Vila Santo Antônio, na mesma cidade (São Carlos-SP) e a família Kalapalo mudou-se para essa residência.
Não me lembro quanto tempo permaneceram em São Carlos naquela residência, mas foram alguns meses, até se decidirem mudar para São Paulo e outros membros da família retornarem para o Xingu, não sei precisar.
Eram pessoas muito educadas e atenciosas. O médio período que permaneceram em São Carlos deixou saudade e até hoje muitas pessoas comentam dos Kalapalos.”
Os primeiros anos de sua vida fora da aldeia foram os momentos mais desafiadores e interessantes ao mesmo tempo, porque tudo aquilo era novo: cultura, comida, língua, o ambiente, a falta de dinheiro e o desespero.
Tudo isso Ysani vai contar num livro onde escreverá sobre a trajetória da família.
Posso adiantar que haverão pitadas de alegria, risadas, mágoas. Discriminação.
Inteligente, culta e esforçada, Ysani tem nível universitário incompleto, mas terminou 8 cursos (Informática, Teatro, Web design, Videoarte, Programação básica, Imagem Multiplataforma, Laboratório de Redes Sociais e Mídias Digitais e Empreendedorismo).
Sem contar com outros 6 cursos incompletos (Fotografia, Audiovisual, Cinema e interpretação, Linguagem e Expressão Corporal, Inglês e Turismo), Ysani ainda pretende cursar outras especialidades.
Mesmo ganhando uma bolsa para estudar em Harvard, problemas financeiros e a burocracia atrapalharam o desenrolar desse futuro acadêmico.
Ysani Kalapalo irá escrever para a RENOVA sobre como ocorre a interação (se existe) com o (i)mundo dos caras-pálidas, ou caraíbas.
Além de contar sobre as curiosidades mundanas (que todos temos) sobre indígenas e ensinar como é a realidade da tribo. E das tribos.
Antes de iniciar nossa entrevista, ela fez questão de agradecer e homenagear seus pais, “verdadeiros guerreiros e responsáveis por toda nossa aventura na cidade”.
ENTREVISTA
Você me disse “não aguenta mais antropólogo falando pelos índios” e “por isso nosso convite para escrever para a Renova é muito interessante”. Ouvir “o que o índio tem a falar do próprio índio sem a pauta do caraíba”.
– Como as ONG´s que trabalham hoje no setor indigenista ajudam as tribos, as etnias? Como você vê esse trabalho?
Temos que separar os trabalhos, algumas ajudam com um ou outro curso que ajudam na formação, outras ajudam na assistência social ou na saúde, outras se aproveitam da miséria e da vulnerabilidade social para continuarem ganhando dinheiro. Mas não podemos ser injustos pois existem muitas ONG’s que verdadeiramente ajudam povos indígenas, outras se aproveitam. Temos que estar atentos para identificar a elas. Por exemplo, existe uma no Norte que recebeu 12 milhões do fundo da Amazônia no ano passado e está atuando em terras indígenas há mais de 20 anos e até agora não existe 1 casa na cidade pra indígenas se hospedarem pra estudar. Mas ainda bem que estão sendo investigadas.
– O que os índios necessitam para sair dessa eterna tutela de ONG´s, Governos e entidades assistenciais? Algumas tribos nos EUA e Canadá ganham royalties sobre a exploração das terras deles, visitas monitoradas, etc…
O indígena precisa de maior conhecimento do que ocorre no mundo além da sua vida na floresta. Muitas entidades levam a informação de forma deturpada e geram ainda mais o caos social e inflamam o ódio entre indígenas e a sociedade não-indígena. Isso também gera o afastamento entre esses dois povos. Precisamos de uma maior autonomia, mas isso é um processo que ainda vai levar algum tempo pois temos diferentes tempo de contato. (grifo meu).
– Quais as antigas tradições de sua tribo que ainda são respeitadas em 2019? A tecnologia modificou os hábitos de todos ao redor do mundo. Sua tribo não ficaria imune a isso. Qual o lado bom e qual o lado ruim que ela, a tecnologia, trouxe?
Na realidade isso é pra qualquer civilização, seja indígena ou não, o conhecimento ele torna-se mais veloz, o acesso à informação é fenomenal, mas justamente por isso, se a sua sociedade é vítima de fakenews, imagine a nossa?
– Um índio com um Samsung na mão perde a identidade por isso?
Óbvio que não perde. Nunca vi ser humano virar bezerro porque toma leite de vaca. Então se eu tiver sede eu também tenho direito a água gelada e se tomo água gelada não deixarei de ser indígena. Posso ter Samsung, computador e nada mudará quem eu sou e de onde eu vim.
– A cultura transmitida é forte o suficiente para ensinar o índio usufruir das modernidades sem perder a tradição?
Sim a cultura é forte e cada um individualmente sabe o que quer ou não manter vivo dentro de si. Povos e cultura se modificam com o passar do tempo. Vejam os homens da caverna! Descobriram o fogo, passaram a se aquecer e cozinhar alimentos. A sociedade foi se reinventando e foram até a lua… e continuam sendo humanos e se reinventando.
– Como vc e sua tribo se sustentam? Em Primavera do Leste (MT), Eduardo Bolsonaro esteve reunido com lideranças indígenas e constatou que existem muitos índios plantando. Entretanto os índios não tem CNPJ e a FUNAI quer barrar a venda direta dessa produção. (Será para mantê-los dependentes do Estado e assim fazer parcerias com fazendeiros para poderem vender seus produtos?). É assim que funciona?
A FUNAI NÃO BARROU NINGUÉM. Pessoas lotadas na FUNAI é que acham que índio pra ser índio tem que viver na miséria e dependendo deles. Mas isso não reflete o pensamento de todos. Muitos funcionários da FUNAI apoiam o desenvolvimento do indígena porque acreditam na nossa capacidade. Hoje temos um Presidente da FUNAI e uma Ministra que lutam para diminuir as desigualdades respeitando o tempo de cada povo. Isso sim é que é lindo. Mas tudo será feito de forma legal e sem atropelos.
– Se os índios tivessem autonomia gerariam empregos, renda e se sustentariam sem a intervenção do Estado, isso incomoda as tribos?
Isso incomoda a quem sobrevive da miséria de indígenas e limita o acesso ao desenvolvimento tanto financeiro, social e intelectual desses povos. Afinal, se nós formos auto suficientes, qual a finalidade de tantas “ONG’s”? Elas deixarão de existir e deixaremos de dar lucros para eles… é um círculo vicioso. Então para algumas é melhor deixar o indígena enganado.
– Com a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas sendo transferida para o Ministério da Agricultura qual o impacto que isso trará aos povos indígenas?
Se tudo for feito dentro da legalidade não trará prejuízo nenhum, para isso existe fiscalização, leis e a constituição.
– A célebre estrofe de nosso hino “…deitado eternamente em berço esplêndido…” pode também ser entendida pelo fato de os povos indígenas estarem vivendo em terras comprovadamente ricas em minérios e não os explorarem e nem permitir que ninguém os explore?
Claro que não. Essa expressão do Joaquim Osório Duque Estrada se refere a esse grande continente que é a América do Sul e onde está localizada e que é motivo de orgulho entre os outros países da América.
– O que você espera – e deseja – do Governo do Presidente Bolsonaro?
Que ele consiga fazer um governo mais justo e ajudar a consertar esse país. E que a população brasileira colabore.
– Você pretende se candidatar a algum cargo eletivo em algum tempo futuro?
Desde que eu comecei participar de encontros e atividades de cunho político e sociocultural que eu venho recebendo propostas para me candidatar. Recusei todas até agora.
Não sei, no momento só quero continuar fazendo o que eu faço.
– Porque você não está morando com sua tribo?
Quando eu e irmã mais nova ficamos doentes meus pais acreditavam que aquilo era feitiçaria, porque em Alto Xingu a cultura da feitiçaria é muito forte e todos acreditam nisso. Por isso precisávamos ficar um tempo sem voltar para Aldeia, até esfriar as coisas.
Hoje vivo entre aldeia e cidade, mesmo levando duras críticas das lideranças de todo Brasil por causa de minhas posições políticas e as vezes recebo ameaças de morte e difamações por parte de alguns inimigos indígenas com tentativas de querer me calar.
– Para finalizar, copio o eterno Mestre Abujamra: qual a pergunta que eu não fiz e vc gostaria de responder?
Muitas pessoas me perguntam pelas redes sociais: O que é ser indígena do século 21?
(e eu respondo) É ter acesso a todas as oportunidades que este mundo possa oferecer e se destacar entre todos dessa sociedade.
16 de setembro de 2019
Walter Barreto
Renova Mídia
Os primeiros anos de sua vida fora da aldeia foram os momentos mais desafiadores e interessantes ao mesmo tempo, porque tudo aquilo era novo: cultura, comida, língua, o ambiente, a falta de dinheiro e o desespero.
Tudo isso Ysani vai contar num livro onde escreverá sobre a trajetória da família.
Posso adiantar que haverão pitadas de alegria, risadas, mágoas. Discriminação.
Inteligente, culta e esforçada, Ysani tem nível universitário incompleto, mas terminou 8 cursos (Informática, Teatro, Web design, Videoarte, Programação básica, Imagem Multiplataforma, Laboratório de Redes Sociais e Mídias Digitais e Empreendedorismo).
Sem contar com outros 6 cursos incompletos (Fotografia, Audiovisual, Cinema e interpretação, Linguagem e Expressão Corporal, Inglês e Turismo), Ysani ainda pretende cursar outras especialidades.
Mesmo ganhando uma bolsa para estudar em Harvard, problemas financeiros e a burocracia atrapalharam o desenrolar desse futuro acadêmico.
Ysani Kalapalo irá escrever para a RENOVA sobre como ocorre a interação (se existe) com o (i)mundo dos caras-pálidas, ou caraíbas.
Além de contar sobre as curiosidades mundanas (que todos temos) sobre indígenas e ensinar como é a realidade da tribo. E das tribos.
Antes de iniciar nossa entrevista, ela fez questão de agradecer e homenagear seus pais, “verdadeiros guerreiros e responsáveis por toda nossa aventura na cidade”.
ENTREVISTA
Você me disse “não aguenta mais antropólogo falando pelos índios” e “por isso nosso convite para escrever para a Renova é muito interessante”. Ouvir “o que o índio tem a falar do próprio índio sem a pauta do caraíba”.
– Como as ONG´s que trabalham hoje no setor indigenista ajudam as tribos, as etnias? Como você vê esse trabalho?
Temos que separar os trabalhos, algumas ajudam com um ou outro curso que ajudam na formação, outras ajudam na assistência social ou na saúde, outras se aproveitam da miséria e da vulnerabilidade social para continuarem ganhando dinheiro. Mas não podemos ser injustos pois existem muitas ONG’s que verdadeiramente ajudam povos indígenas, outras se aproveitam. Temos que estar atentos para identificar a elas. Por exemplo, existe uma no Norte que recebeu 12 milhões do fundo da Amazônia no ano passado e está atuando em terras indígenas há mais de 20 anos e até agora não existe 1 casa na cidade pra indígenas se hospedarem pra estudar. Mas ainda bem que estão sendo investigadas.
– O que os índios necessitam para sair dessa eterna tutela de ONG´s, Governos e entidades assistenciais? Algumas tribos nos EUA e Canadá ganham royalties sobre a exploração das terras deles, visitas monitoradas, etc…
O indígena precisa de maior conhecimento do que ocorre no mundo além da sua vida na floresta. Muitas entidades levam a informação de forma deturpada e geram ainda mais o caos social e inflamam o ódio entre indígenas e a sociedade não-indígena. Isso também gera o afastamento entre esses dois povos. Precisamos de uma maior autonomia, mas isso é um processo que ainda vai levar algum tempo pois temos diferentes tempo de contato. (grifo meu).
– Quais as antigas tradições de sua tribo que ainda são respeitadas em 2019? A tecnologia modificou os hábitos de todos ao redor do mundo. Sua tribo não ficaria imune a isso. Qual o lado bom e qual o lado ruim que ela, a tecnologia, trouxe?
Na realidade isso é pra qualquer civilização, seja indígena ou não, o conhecimento ele torna-se mais veloz, o acesso à informação é fenomenal, mas justamente por isso, se a sua sociedade é vítima de fakenews, imagine a nossa?
– Um índio com um Samsung na mão perde a identidade por isso?
Óbvio que não perde. Nunca vi ser humano virar bezerro porque toma leite de vaca. Então se eu tiver sede eu também tenho direito a água gelada e se tomo água gelada não deixarei de ser indígena. Posso ter Samsung, computador e nada mudará quem eu sou e de onde eu vim.
– A cultura transmitida é forte o suficiente para ensinar o índio usufruir das modernidades sem perder a tradição?
Sim a cultura é forte e cada um individualmente sabe o que quer ou não manter vivo dentro de si. Povos e cultura se modificam com o passar do tempo. Vejam os homens da caverna! Descobriram o fogo, passaram a se aquecer e cozinhar alimentos. A sociedade foi se reinventando e foram até a lua… e continuam sendo humanos e se reinventando.
– Como vc e sua tribo se sustentam? Em Primavera do Leste (MT), Eduardo Bolsonaro esteve reunido com lideranças indígenas e constatou que existem muitos índios plantando. Entretanto os índios não tem CNPJ e a FUNAI quer barrar a venda direta dessa produção. (Será para mantê-los dependentes do Estado e assim fazer parcerias com fazendeiros para poderem vender seus produtos?). É assim que funciona?
A FUNAI NÃO BARROU NINGUÉM. Pessoas lotadas na FUNAI é que acham que índio pra ser índio tem que viver na miséria e dependendo deles. Mas isso não reflete o pensamento de todos. Muitos funcionários da FUNAI apoiam o desenvolvimento do indígena porque acreditam na nossa capacidade. Hoje temos um Presidente da FUNAI e uma Ministra que lutam para diminuir as desigualdades respeitando o tempo de cada povo. Isso sim é que é lindo. Mas tudo será feito de forma legal e sem atropelos.
– Se os índios tivessem autonomia gerariam empregos, renda e se sustentariam sem a intervenção do Estado, isso incomoda as tribos?
Isso incomoda a quem sobrevive da miséria de indígenas e limita o acesso ao desenvolvimento tanto financeiro, social e intelectual desses povos. Afinal, se nós formos auto suficientes, qual a finalidade de tantas “ONG’s”? Elas deixarão de existir e deixaremos de dar lucros para eles… é um círculo vicioso. Então para algumas é melhor deixar o indígena enganado.
– Com a responsabilidade pela demarcação das terras indígenas sendo transferida para o Ministério da Agricultura qual o impacto que isso trará aos povos indígenas?
Se tudo for feito dentro da legalidade não trará prejuízo nenhum, para isso existe fiscalização, leis e a constituição.
– A célebre estrofe de nosso hino “…deitado eternamente em berço esplêndido…” pode também ser entendida pelo fato de os povos indígenas estarem vivendo em terras comprovadamente ricas em minérios e não os explorarem e nem permitir que ninguém os explore?
Claro que não. Essa expressão do Joaquim Osório Duque Estrada se refere a esse grande continente que é a América do Sul e onde está localizada e que é motivo de orgulho entre os outros países da América.
– O que você espera – e deseja – do Governo do Presidente Bolsonaro?
Que ele consiga fazer um governo mais justo e ajudar a consertar esse país. E que a população brasileira colabore.
– Você pretende se candidatar a algum cargo eletivo em algum tempo futuro?
Desde que eu comecei participar de encontros e atividades de cunho político e sociocultural que eu venho recebendo propostas para me candidatar. Recusei todas até agora.
Não sei, no momento só quero continuar fazendo o que eu faço.
– Porque você não está morando com sua tribo?
Quando eu e irmã mais nova ficamos doentes meus pais acreditavam que aquilo era feitiçaria, porque em Alto Xingu a cultura da feitiçaria é muito forte e todos acreditam nisso. Por isso precisávamos ficar um tempo sem voltar para Aldeia, até esfriar as coisas.
Hoje vivo entre aldeia e cidade, mesmo levando duras críticas das lideranças de todo Brasil por causa de minhas posições políticas e as vezes recebo ameaças de morte e difamações por parte de alguns inimigos indígenas com tentativas de querer me calar.
– Para finalizar, copio o eterno Mestre Abujamra: qual a pergunta que eu não fiz e vc gostaria de responder?
Muitas pessoas me perguntam pelas redes sociais: O que é ser indígena do século 21?
(e eu respondo) É ter acesso a todas as oportunidades que este mundo possa oferecer e se destacar entre todos dessa sociedade.
16 de setembro de 2019
Walter Barreto
Renova Mídia
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