Longe de mim sugerir que as fake news não são um problema, mas me parece que estão superestimando o tamanho da encrenca. Para início de conversa, fake news é só um nome novo para um contratempo antigo: a falsidade. E, das pintas da onça ao camaleão que muda de cor para enganar predadores, o logro está inscrito na própria natureza. Antecede o ser humano em centenas de milhões de anos.
Mentiras, rumores e boatos sempre assombraram eleições. A novidade agora é que, com as redes sociais, eles circulam com muito mais rapidez e atingem muito mais gente. Em algumas circunstâncias, em especial quando a disputa é apertada e a corrente de desinformação surge nos últimos instantes, fake news podem definir o resultado do pleito. Não devemos, porém, atribuir poderes mágicos à manipulação eleitoral.
CONTRA A VONTADE? – Ninguém ainda inventou uma técnica de marketing político que faça com que petistas votem contra a vontade em Bolsonaro ou que direitistas convictos se encantem com o candidato do PT. É quase zero a probabilidade de um militante petista deixar de apoiar Haddad porque leu em algum canto que o ex-prefeito seria a favor do incesto.
O que esse tipo de informação fraudulenta costuma fazer é turbinar o ânimo do sujeito que já era antipetista, radicalizando-o mais. As fake news falam muito sobre o nível ético de quem as utiliza, mas não creio que estejam deturpando a vontade popular.
SEM SOLUÇÃO – Sou um pouco cético quanto à possibilidade de encontrarmos soluções tecnológicas para resolver esse problema. Ninguém ainda desenvolveu o algoritmo da verdade. Mudanças nas leis e nas regras das redes podem até melhorar momentaneamente as coisas, mas, como na biologia, acabam desencadeando uma espécie de corrida armamentista, na qual fraudadores e reguladores correm para não sair do lugar.
Nossa melhor esperança acaba sendo que, com o tempo, as pessoas aprendam a desconfiar mais do que encontram nas redes sociais.
21 de outubro de 2018
Hélio SchwartsmanO Glob
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