O Banco Central (BC) reuniu-se para cumprir a agenda formal do Copom (Comitê de Política Monetária) prevista no calendário para este ano, quando o colegiado definiu, sem maiores dificuldades, o nível da Selic (taxa básica da economia), mantendo-a, mais uma vez, “queta” em 6,5%. A taxa ficou ancorada neste patamar desde maio passado, após um longo e inevitável ciclo de afrouxamento monetário iniciado em outubro de 2016.
É bem provável que este patamar deva ficar inalterado até o final do ano, de acordo com os dados que vêm sendo divulgados em toda segunda-feira pelo BC, através do Boletim Focus, relatório de mercado com as previsões feitas por cerca de 100 (cem) analistas financeiros sobre diversos indicadores da economia brasileira.
Há duas questões que são importantes e que não se consegue visualizar num horizonte próximo: uma, que haja alteração da remuneração para os investidores de renda fixa e, a outra, com relação ao custo do tomador de crédito. Apesar de que esses juros nesses segmentos estejam relacionados à variação da Selic, na prática, as trajetórias deles são distintas.
Quando é feita alguma alteração na taxa Selic, o seu efeito é praticamente repentino no rendimento das aplicações de renda fixa, a exemplo do CDB (Cerificado de Depósito Bancário), caderneta de poupança e fundo de investimentos. Porém, o mesmo não acontece com os custos de crédito com suas inúmeras modalidades, que apresentam uma desproporção significativa quando se separa o juro básico estabelecido dos juros efetivos praticados nas linhas de financiamento existentes.
Segundo dados do BC, os juros dos financiamentos determinados livremente pelas instituições financeiras ainda estão bem altos, no comparativo com a Selic, atualmente. A taxa média paga pelas pessoas físicas está próxima a 60% ao ano, bem acima do juro médio de 40% cobrado há cinco anos, quando ela era bem mais elevada.
Acontece que, durante a crise econômica, os bancos foram elevando suas margens, com o propósito de se proteger de perdas com os inadimplentes para assim manter a rentabilidade. Para se ter uma noção, no ano passado, o lucro somado do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil chegou a R$ 70 bilhões, uma alta de 22% em relação ao ano anterior. Esta foi uma estratégia que deu certo, já que souberam ganhar mais emprestando menos.
A distância observada entre a taxa primária e as demais taxas exercidas no mercado numa política monetária de juros historicamente baixos dificulta uma vigorosa retomada da atividade econômica que, geralmente, é potencializada pelo consumo e pela oferta do crédito. Essa diferença é demasiadamente elevada, refletindo no bolso do consumidor, sendo ela uma boa referência de que na crise por que estamos passando, mesmo com uma política monetária amena de juros baixos, ela não é o bastante para provocar nem impulsionar o crescimento econômico.
Até o momento, o que verdadeiramente interessa em termos práticos é que a figura do consumidor está ainda bem distante dos possíveis reflexos positivos que a redução da Selic poderia trazer à vida e ao bolso dos indivíduos.
A queda generosa da inflação durante um bom período trouxe de alguma forma certo alívio no orçamento das famílias, todavia os cortes no juro básico em função da queda dos preços, ainda não se expandiram na amplitude necessária sobre os juros da economia e, consequentemente, torna-se um pouco mais difícil atender quem realmente carece de crédito.
Diante do evidente rebuliço estrutural existente na economia, imagino que nem mesmo se fazendo eventualmente mais cortes na Selic, seria possível corrigir as distorções, com redução dos juros de mercado do crédito, tornando-os mais acessíveis e toleráveis ao consumidor.
Naturalmente que esta não é a única razão, pois existem as incertezas que ainda envolvem os rumos da nossa economia, além das grandes dúvidas persistentes no processo eleitoral. O bom senso recomenda que nesses momentos o consumidor evite assumir dívidas e compromissos que venham trazer, no futuro, problemas em seu orçamento.
Não se pode deixar de comparar a circunstancial inércia da Selic com as perspectivas próximas relativas ao comportamento inflacionário. A expectativa atual é de que a inflação retorne ao canal de baixa a partir de agosto. Segundo alguns analistas, o IPCA poderá até procurar o caminho da deflação (inflação negativa), proporcionado pelo recuo no preço dos alimentos e combustíveis já sinalizados pelo IPCA15 (prévia do IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador oficial da inflação no país) de julho.
Afinal de contas, um alento poderá chegar, ocasionado exclusivamente pela retomada da desaceleração na inflação, que disparou em junho, mas dá sinais nítidos de arrefecimento em julho, enquanto que baixas mais fortes estão sendo comentadas por economistas a partir deste mês que se inicia.
02 de agosto de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
É bem provável que este patamar deva ficar inalterado até o final do ano, de acordo com os dados que vêm sendo divulgados em toda segunda-feira pelo BC, através do Boletim Focus, relatório de mercado com as previsões feitas por cerca de 100 (cem) analistas financeiros sobre diversos indicadores da economia brasileira.
Há duas questões que são importantes e que não se consegue visualizar num horizonte próximo: uma, que haja alteração da remuneração para os investidores de renda fixa e, a outra, com relação ao custo do tomador de crédito. Apesar de que esses juros nesses segmentos estejam relacionados à variação da Selic, na prática, as trajetórias deles são distintas.
Quando é feita alguma alteração na taxa Selic, o seu efeito é praticamente repentino no rendimento das aplicações de renda fixa, a exemplo do CDB (Cerificado de Depósito Bancário), caderneta de poupança e fundo de investimentos. Porém, o mesmo não acontece com os custos de crédito com suas inúmeras modalidades, que apresentam uma desproporção significativa quando se separa o juro básico estabelecido dos juros efetivos praticados nas linhas de financiamento existentes.
Segundo dados do BC, os juros dos financiamentos determinados livremente pelas instituições financeiras ainda estão bem altos, no comparativo com a Selic, atualmente. A taxa média paga pelas pessoas físicas está próxima a 60% ao ano, bem acima do juro médio de 40% cobrado há cinco anos, quando ela era bem mais elevada.
Acontece que, durante a crise econômica, os bancos foram elevando suas margens, com o propósito de se proteger de perdas com os inadimplentes para assim manter a rentabilidade. Para se ter uma noção, no ano passado, o lucro somado do Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Caixa e Banco do Brasil chegou a R$ 70 bilhões, uma alta de 22% em relação ao ano anterior. Esta foi uma estratégia que deu certo, já que souberam ganhar mais emprestando menos.
A distância observada entre a taxa primária e as demais taxas exercidas no mercado numa política monetária de juros historicamente baixos dificulta uma vigorosa retomada da atividade econômica que, geralmente, é potencializada pelo consumo e pela oferta do crédito. Essa diferença é demasiadamente elevada, refletindo no bolso do consumidor, sendo ela uma boa referência de que na crise por que estamos passando, mesmo com uma política monetária amena de juros baixos, ela não é o bastante para provocar nem impulsionar o crescimento econômico.
Até o momento, o que verdadeiramente interessa em termos práticos é que a figura do consumidor está ainda bem distante dos possíveis reflexos positivos que a redução da Selic poderia trazer à vida e ao bolso dos indivíduos.
A queda generosa da inflação durante um bom período trouxe de alguma forma certo alívio no orçamento das famílias, todavia os cortes no juro básico em função da queda dos preços, ainda não se expandiram na amplitude necessária sobre os juros da economia e, consequentemente, torna-se um pouco mais difícil atender quem realmente carece de crédito.
Diante do evidente rebuliço estrutural existente na economia, imagino que nem mesmo se fazendo eventualmente mais cortes na Selic, seria possível corrigir as distorções, com redução dos juros de mercado do crédito, tornando-os mais acessíveis e toleráveis ao consumidor.
Naturalmente que esta não é a única razão, pois existem as incertezas que ainda envolvem os rumos da nossa economia, além das grandes dúvidas persistentes no processo eleitoral. O bom senso recomenda que nesses momentos o consumidor evite assumir dívidas e compromissos que venham trazer, no futuro, problemas em seu orçamento.
Não se pode deixar de comparar a circunstancial inércia da Selic com as perspectivas próximas relativas ao comportamento inflacionário. A expectativa atual é de que a inflação retorne ao canal de baixa a partir de agosto. Segundo alguns analistas, o IPCA poderá até procurar o caminho da deflação (inflação negativa), proporcionado pelo recuo no preço dos alimentos e combustíveis já sinalizados pelo IPCA15 (prévia do IPCA - Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o indicador oficial da inflação no país) de julho.
Afinal de contas, um alento poderá chegar, ocasionado exclusivamente pela retomada da desaceleração na inflação, que disparou em junho, mas dá sinais nítidos de arrefecimento em julho, enquanto que baixas mais fortes estão sendo comentadas por economistas a partir deste mês que se inicia.
02 de agosto de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador).
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