Tome-se um pimpolho bem alimentado, bem vestido e feliz, que vai à escola particular, tem direito a festa de aniversário todo ano, é levado à Disney, e, acima de tudo, recebe o amor dos pais. Coloque-se ao lado dele um desses meninos de rua, maltrapilho, que não sabe quem foi o pai ou onde está a mãe, com os dentes podres sem nunca ter ido ao dentista e obrigado a buscar alimentação na lata do lixo.
Vamos promover uma corrida entre eles, colocando-os lado a lado e dizendo que ganha quem chegar primeiro no próximo quarteirão.
Sem tirar nem pôr, esse é o modelo econômico que nos assola, da livre competição entre quantidades e valores desiguais. Dá no mesmo quando os meninos crescem e a diferença entre eles se amplia. Mesmo se não ceder à tentação do crime e da marginalidade, um vai continuar enfrentando o desemprego, passando fome e recebendo, no máximo, o vergonhoso salário mínimo. O outro progride, torna-se empresário, especula na bolsa, aumenta seu patrimônio e torna-se dirigente político, mesmo se aceitando que não recebe propinas nem se torna cliente da operação Lava Jato.
PARA O BREJO – Para onde vamos? Para o brejo, atrás ou na frente da vaca. De pouco adianta fornecer a um dos menininhos escola gratuita, uniforme, merenda e transporte. Ou, depois de crescido, bolsa-família, luz para todos e “minha casa, minha vida”. É falsa a alegação de que todos tiveram as mesmas oportunidades de progredir. Turva-se a visão da sociedade com essa farsa que serve apenas para entupir consciências e manter o modelo cruel em funcionamento.
Basta atentar para o conteúdo das reformas propostas pelo governo para promover a justiça social, da previdenciária à trabalhista e à tributária. Nenhuma delas irá melhorar a vida das massas. Todas beneficiam as elites.
A “livre competição” está em marcha, enganando os ingênuos e satisfazendo os vigaristas.
14 de março de 2017
Carlos Chagas
Nenhum comentário:
Postar um comentário