"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 17 de dezembro de 2016

A LAVA JATO CHEGOU AO FORO DE SÃO PAULO

Investigações sobre obras do BNDES vão lançar luz sobre a esquerda da América Latina


Ignorado por 13 de cada 10 analistas internacionais com espaço na grande imprensa do Brasil, o Foro de São Paulo é um dos fenômenos mais importantes na história recente da América Latina. Trata-se da aglomeração dos principais líderes e partidos de esquerda do continente, quase todos eles vitoriosos em seus países: Cuba, Venezuela, Brasil, Bolívia, Equador, El Salvador, etc. É verdade que nos últimos anos o Foro tem sofrido algumas derrotas, mas a solidariedade dos seus membros segue atuante. Durante o impeachment de Dilma, por exemplo, alguns presidentes estrangeiros se declararam contra o processo. Imaginem qual seria a reação da esquerda brasileira se um presidente estrangeiro se declarasse a favor…

Como nem a imprensa nem a academia investigam muito o Foro, pouco se sabe, por exemplo, sobre o financiamento da organização, que realiza (para citar uma atividade prática que custa dinheiro) encontros anuais em hotéis. Tínhamos acesso apenas a informações pontuais, como por exemplo que o programa Mais Médicos foi concebido para patrocinar a ditadura cubana. Também já era conhecida a atuação do ex-poderoso João Santana, o de facto 40º ministro de Dilma, em eleger presidentes no exterior. Mas agora muito mais informação sobre o Foro será revelada, graças à Lava Jato.

Reportagem de “O Globo” dá conta de que a Lava Jato já interrompeu obras em seis países latino-americanos: Argentina, Cuba, Guatemala, Honduras, República Dominicana e Venezuela. O país com o maior volume de recursos, adivinhem só, é a Venezuela. Segundo o jornal, “[o]s projetos [suspensos] somam US$ 5,7 bilhões e representam 58% do valor destinado pelo banco para financiar a exportação de serviços de engenharia brasileiros na região entre 2003 e 2015”. O ano de 2003, claro, não está lá à toa. Segue o jornal:

“Nas últimas décadas, o Brasil se mostrou um parceiro endinheirado e exerceu seu poder para atrair aliados políticos na América Latina, Caribe e África. Entre 2005 e 2010, os empréstimos do BNDES quase quadruplicaram em dólares. Em um único ano, 2010, o banco brasileiro chegou a emprestar quase US$ 100 bilhões, três vezes o valor investido pelo Banco Mundial (Bird).”

As delações dos executivos da Odebrecht e o inevitável avanço da Lava Jato sobre o BNDES vão revelar muito ainda sobre como se deu a ascensão da esquerda na América Latina durante os anos 2000. Um tópico que, por incrível que pareça, não parece interessar muito aos acadêmicos ou jornalistas de esquerda da América Latina…

Uma reação possível às novas revelações será dizer que como a esquerda está sofrendo derrotas agora, então o Foro nem foi tão relevante assim. Já tem acadêmico dizendo isso à BBC. É um raciocínio saboroso. Por essa lógica, o Império Romano, o feudalismo e a União Soviética não foram relevantes. Afinal, eles já acabaram…

Cedê Silva é jornalista. Escreve muito poucas vezes no medium.com/@CedeSilva e pouco muitas vezes no twitter.com/CedeSilva. Escreve no Implicante às sextas-feiras.


17 de dezembro de 2016
implicante

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