"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

ENTENDA POR QUE A FRANÇA É O MAIOR ALVO DE TERROR E LÁ ATÉ PADRE É DEGOLADO


Kermiche e seu cúmplice: morte após assassinato de padre na Normandia Foto: Reprodução de vídeo
Estado Islâmico divulgou um vídeo com os assassinos do padre

















Quando extremistas ligados ao Estado Islâmico (EI) querem atacar a Europa, a França é o alvo favorito. Desde janeiro de 2015, ataques inspirados pelo EI mataram pelo menos 235 pessoas no país, mais que em qualquer outra nação ocidental. Cidadãos franceses e residentes no país realizaram a maior parte dos atentados, quase sempre utilizando táticas suicidas. Analistas concordam com a afirmação do presidente francês, François Hollande, de que o país é o principal alvo do terrorismo por sua reputação de berço da democracia moderna e dos direitos humanos. No entanto, apontam a história colonialista da França, suas tensões demográficas e políticas intervencionistas contra muçulmanos no exterior como as principais motivações por trás dos atos dos terroristas.
A França abriga a maior população muçulmana da Europa, e muitos deles cresceram falando o idioma local nos distritos mais pobres e alienados do país. A tentativa de promover a integração da população muçulmana a uma sociedade secular aumentou as tensões em diversas ocasiões, como nas proibições do uso de véus nas salas de aula, em 2004, e das burcas, em 2010.
“Aqueles que ficaram à margem da sociedade francesa são mais rancorosos que os imigrantes no Reino Unido e na Alemanha”, afirmou o sociólogo Farhad Khosrokhavar ao “New York Times”.
ANTIGAS COLÔNIAS 

O Marrocos conseguiu sua independência em 1955, a Tunísia em 1956, e a Argélia em 1962. Mas assim como acontece na África Ocidental, onde o capital e as tropas francesas continuam a atuar ajudando governos amigos de Paris, a França nunca retirou completamente sua influência do Norte da África, mantendo um papel muito maior do que o desempenhado pelo Reino Unido em suas antigas colônias.
E essa atuação militar nas antigas colônias africanas aumentou durante o governo de Hollande, que em 2013 ordenou uma intervenção no Mali e ainda hoje mantém soldados espalhados pelo continente. Não é surpresa, portanto, dizem os analistas, que a maior parte dos responsáveis por ataques na França tenha laços familiares com o Norte e o Oeste da África, e não com o Oriente Médio.
Os filhos desses imigrantes africanos agora buscam atender ao chamado de recrutamento do EI em níveis bastante superiores aos de outras nações europeias. Cerca de mil cidadãos franceses, a vasta maioria deles descendentes de muçulmanos africanos, viajaram à Síria, ou foram detidos em sua tentativa, desde que o país — que também passou duas décadas sob domínio francês — entrou em ebulição há cinco anos. O EI, por sua vez, intensificou sua propaganda usando jihadistas francófonos em pelo menos nove comunicados emitidos nos últimos três meses, e pedindo que “seus soldados derramem o sangue dos porcos, destruam suas almas e façam a França tremer”.
CONTRA O ESTADO ISLÂMICO 

Em resposta ao ataque que deixou dezenas de mortos em Nice no Dia da Bastilha, Hollande prometeu ampliar a participação francesa na coalizão que combate o EI no Iraque e na Síria. Alguns analistas, no entanto não veem na participação militar francesa um motivo para os ataques. Segundo eles, o país abriga a maior concentração de muçulmanos marginalizados do planeta, que enxergam sua pátria como um local pecaminoso e hostil às tradições islâmicas.
— Não sei dizer se o terrorista que atacou com um caminhão em Nice estava particularmente preocupado com os bombardeios sobre Raqqa — diz o analista François Heisburg, da Fundação de Pesquisa Estratégica.
Para Heisburg, ataques à população francesa utilizando terroristas locais deram ao EI a chance de agir com “sucesso garantido” contra uma nação que representa, aos olhos de seus líderes, “um alvo de descrença, heresia e apostasia”.

29 de julho de 2016
Elaine Ganley
Associated Press

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