Exceção dos que se encontram na Europa e nos Estados Unidos, que não são poucos, deputados e senadores dedicam o mês de recesso parlamentar nos Estados, para sondar suas bases. Pretendem retornar a Brasília em fevereiro afinados com o pensamento de seus eleitores a respeito de questões fundamentais.
Primeiro, sobre o impeachment da presidente Dilma. Em dezembro, no Congresso, arrefeceu a tendência favorável ao seu afastamento. Fosse realizada hoje entre os deputados e dificilmente a votação alcançaria número suficiente para a posse de Michel Temer. Não que a popularidade de Madame se tenha recuperado, mas aquele sentimento de rejeição não progrediu. As ruas permaneceram insossas, amorfas e inodoras, na medida em que a presidente também colaborou, mantendo-se reclusa. Nem o tradicional pronunciamento de fim de ano pelo rádio e a televisão ela arriscou, limitando-se a um recado eletrônico que ninguém leu. Sendo assim, caso não se registre algum inusitado ou uma escorregadela de sua parte, chegamos à situação em que Dilma não liga para o povo e o povo não quer saber dela. Assim, e por enquanto, o impeachment saiu de pauta. Mais atraente está o Carnaval.
Escafedeu-se até o personagem mais criticado nos últimos tempos, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Dia desses ousou comparecer a um restaurante de luxo, no Rio, e sequer foi reconhecido, quanto mais vaiado. Renan Calheiros, candidato à vaga, parece haver-se refugiado na praia, em Maceió. Os Meretíssimos, no Supremo Tribunal Federal, deram-se folga por todo o mês de janeiro, quando não cuidarão da vida de Cunha, Renan ou da própria Dilma.
Em suma, o ano se inicia sem surpresas, à espera de que as instituições comecem a funcionar, mas sem muito empenho por parte delas. Melhor assim.
VERGONHA
Para não dizer que tudo flui naturalmente, tome-se o acontecido domingo, aqui em Brasília. A temporada é de aguaceiros, sendo que desde novembro tornaram-se rotina semanal as interrupções na distribuição de energia. Volta e meia a luz apaga, às vezes até na metade da capital federal. Agora, porém, foi de mais: das três da tarde à meia-noite bairros inteiros ficaram no escuro. Apelar para as velas tornou-se usual, mas o que mais brada aos céus é saber que basta ser autoridade, federal ou distrital, aqui, para não faltar energia em casa. Da presidente da República aos ministros, do governador aos secretários e dirigentes de estatais, todos dispõem de geradores particulares que entram em ação segundos depois dos cortes. O pior é que as contas não param de subir.
05 de janeiro de 2015
Carlos Chagas
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