"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

VAI ACABAR DANDO BODE


Ninguém realmente sabe precisar exatamente o momento em que as coisas começaram a apontar para a direção errada. Permanece o mistério qual foi a curva, a encruzilhada, ou a decisão que levou as coisas a serem o que são.

Talvez porque este momento definido, exato, simplesmente não tenha existido. Mais provavelmente, foram anos e anos de decisões erradas, crenças equivocadas e movimentos em direções erradas.

Tragédias são construídas. Subdesenvolvimento é obra que precise de séculos para ser perfeita. Contrariamente ao senso comum, marchar em direção ao passado requer energia, determinação e perseverança.

É processo trabalhoso, duro, que deixa marcas. E exibe sintomas. O primeiro passo é sempre perder a vergonha. Sem ela, quase tudo é aceitável. Inclusive a reativação das noções de certo e errado. Basta apenas abraçar noções peculiares de ética. E contar com certa ausência de justiça, ou com a complacência da justiça.

Do ponto de vista daqueles que conseguem apagar completamente os ensinamentos maternos, é libertador. Permite justificar tudo e qualquer coisa. Dispensa o trabalho de negar autoria de malfeitos. Já faz tempo que os fatos deixaram de ser objeto de discussão. Negar não mais constitui linha de defesa.

Para felicidade dos operadores de direito, na medida em que o conhecimento do direito (em especial do código penal) se torna pré-requisito para leitura dos jornais, empobrece a qualidade das teses jurídicas. Gente sem vergonha encontra território sem leis.

E a gente vai passando por tudo isso, sem nem mais sentir enjoo, desgosto ou indignação. O estado de coisas aparentemente se incorporou a paisagem. Ou melhor, se tornou a paisagem.

E, como toda realidade, construída lentamente. Diante de olhos que se permitiram olhar em outra direção. Embaixo narizes complacentes com o mau cheiro. Alienado da atenção, que preferiu sempre a doçura das ilusões à dureza da realidade.

E assim, chegamos onde estamos. Praticando a arte de perder. Cometendo repetidamente os mesmos erros. Perdendo algo todos os dias. A começar pela vergonha. Acreditando que cada atitude complacente, cada passo na direção errada, não cobraria seu preço.

E assim continuamos. Vamos levando. Exigindo cada vez menos de cada vez mais, anestesiados pela ilusão de um dia ter tudo onde se construiu absolutamente nada. 

11 de maio de 2015
Elton Simões

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